Nesta semana que sucede à eleição que consagrou a vitória de Lula com mais de 60 milhões de votos – um recorde histórico: eis o presidente mais votado de todos os tempos no Brasil – os maus perdedores decidiram passar vergonha e ostentar analfabetismo político nas ruas e rodovias do país.
Não é algo que surpreenda tanto assim, mas nos faz repetir de novo, diante dos Bolsominions: “nossas expectativas já eram baixas, mas puta merda!”
Em cenas bizonhas, eles enchem de “vergonha alheia” os milhões de brasileiros que não foram feitos de otários pela lavagem cerebral realizada a partir dos Gabinetes do Ódio da esgotosfera bolsonarenta.
Estamos vendo os bozoloides numa verdadeira orgia de auto-degradação, de um ridículo que seria muito mais cômico se não houvesse nele todo um componente forte de tragicidade.
Uma pequena parcela do eleitorado do candidato derrotado decidiu sacar suas saudações nazistas, seu tesão por machos fardados truculentos, sua vontade sado-masô de viver em uma ditadura chefiada por alguém que idolatra Ustra, e puseram-se a espernear por golpe militar.
Ostentando seu vínculo perverso com o “Mito”, estes suicidadãos odiadores da democracia resolveram travar o direito de ir e vir de milhões de cidadãos brasileiros para contestar as urnas quando estas são declaradas incontestáveis por todas as instituições competentes no país e no exterior. TSE, STF, Congresso Nacional, mídia hegemônica, OEA, mais de 100 países através de seus chefes-de-Estado, todos frisam: as eleições foram limpas, Lula conquistou a maioria de fato.
O grau de irracionalidade dos que se prestam a ser o gado de manobra da familícia Bolsonaro é chocante. Mas é compreensível: nos últimos anos, eles comeram o capim do Zapistão: fantasmagorias foram agitadas diante deles, insuflando paranóias contra o totalitarismo da Ursal, o satanismo lulista que vem aplicar um pacote de abortismo e homoafetividade compulsória, com o intento de pintar a bandeira verde-e-amarela de Vermelho Brasa, substituindo Ordem e Progresso por Jesus É Travesti.
Nos últimos anos, eles moraram numa Terra Plana onde cloroquina é remédio e Jair Bolsonaro é um superlíder responsável pra caralho e que sabe cuidar muitíssimo bem da população durante uma pandemia onde morreram 700.000 pessoas (em números absolutos, só ficamos atrás dos EUA que a Trumpidade conduziu a um matadouro que ceifou mais de 1 milhão de vidas).
Eles foram conduzidos pelos tangedores do gado humano que empunham algoritmos nos bunkers do privilégio onde a direita extremista forja suas torpezas, e de cidadãos comuns tornaram-se “robôs programados para dizer amém”, como canta Paulinho Moska. Dizem amém pro racismo, pra misoginia, pra homofobia, pro armamentismo, pra apologia do homicídio (“metralhar os petralhas” etc) – e ainda têm a desfaçatez de fazerem pose de cidadãos-de-Bem fazendo o serviço que Deus quer.
Neste universo paralelo onde a subjetividade moldada pelo cristofascismo trafega, nas semi-trevas de seu espesso obscurantismo, a vontade de Deus é que sejamos governados por um cara que diz que a Ditadura Militar matou pouco – devia é ter matado 30 mil. Eis um homem de Deus – que elogiou a Cavalaria dos EUA por ter exterminado os povos originários de lá, tendo lamentado que no Brasil ainda tenham sobrado vivos alguns índios.
Ei, “povo de Deus”, ei “cidadãos-de-bem”: fala sério que vocês estão pagando pau pra este AntiCristo?!? Que vocês se deixam manipular a este ponto por um parasita da política que há 30 anos utiliza rachadinhas para enriquecer ilicitamente sua família? Que vocês não tem um pinguinho de senso crítico para acordar, ao menos parcialmente, do transe de estupidez auto-sabotatória onde vocês parecem a fim de afundar?
Freud disse, em “Futuro de Uma Ilusão”, que a religião tem uma força de resiliência que se explica não por sua veracidade, mas sim pelo fato de que a ilusão religiosa atende a fortes desejos subjacentes. O apego dos bozoloides ao Bozo me parece uma ilusão compartilhada ou um delírio coletivo onde deposita-se fé numa criatura absolutamente indigna de qualquer enaltecimento ético ou intelectual, numa espécie de sinistra orgia de devoção ao pior dos homens. Transposto para o plano coletivo, trata-se de um culto à caquistocracia. É o triunfo de Tânatos sobre Eros, a vontade de tirania querendo sobrepujar a democracia, e a manifestação de uma feroz ilusão sectária que os fatos e argumentos parecem não penetrar.
O mesmo Freud diz neste livro genial algo que sempre me fascinou: a adesão a uma “neurose coletiva” parecia dispensar os sujeitos de desenvolver uma neurose pessoal ou singular. Tenho lembrado muito disso ao testemunhar bozolóides segurando terços, de joelhos, unidos no delírio de que há um Papai do Céu que quer Bolsonaro presidente do Brasil.
Eles estão unidos na neurose, vinculados por uma psicose de massas, e o grau de perdição em que se encontram é mensurável pela (falta de) qualidade do líder que desejam. Uma liderança que só sabe indicar ao rebanho o caminho do abismo. E que hoje vê-se alçado a pastor de massas que ele só saberia dirigir ao matadouro ou ao precipício.
Mafalda um dia apelidou o mundo de hospício esférico. Uma manifestação bolsonarista reforçaria esta ideia perante uma nave alienígena que se aproximasse de nosso planeta buscando contato. Uma aglomeração de humanóides verde-amarelistas, diante de um quartel, rezando por tanques e rifles para que se ergam desrespeitando a vontade soberana de mais de 60 milhões de brasileiros, certamente faria os visitantes de outros mundos colocarem outro planeta em seus GPS, concluindo falsamente – pois tomariam parte (minoritária) pelo todo – que somos indignos de contato.
Mas o Brasil da dignidade está voltando, e nele não nos faltará serviço para des-alienar os bozoloides para que possam devir autênticos cidadão. Para que façam algo que preste, conosco, na colaboração coletiva da construção de um país menos sórdido do que este que o Mito(maníaco) forjou.
Recusamos nas urnas o extremismo direitoso que está nos legando uma terra devastada fedendo a fanatismo e fascismo – e com a Amazônia reduzida a cinzas.
O Brasil da potência múltipla dos povos em sua diversidade indomesticável está voltando! Assim como as políticas públicas robustas de educação, cultura, saúde, meio ambiente, relações internacionais. Reivindicaremos isto, estaremos mobilizados para fazer valer o Brasil que sabemos que podemos ser – e que não é uma teocracia escrota chefiada por um miliciano e pela banda podre das forças armadas Pinochetistas (que dizem amém a Guedes e Bannon, mas deixam 35 milhões de brasileiros morrendo de fome).
Parte integrante do delírio bozoloide que atualmente tantas mentes aflige, e do qual aqui tentamos ajudar no livramento, consiste também em sentir a vitória de Lula como derrota. Tem até alguns que comicamente entraram “em luto”!
Caros Bozinhos: enterrem as vossas ilusões e idolatrias, vocês não perderam nada a não ser a continuidade de uma catástrofe. É bom perder o vínculo a um ídolo que não merece um grama de idolatria e cuja moradia futura deveria ser a lata de lixo da História. Estou convicto de que vitória de Lula é também benigna para quem vota em Bolsonaro, e a estes me dirijo com uma promessa crível:
Em breve, vocês terão a oportunidade de estudar, de acessar cultura, de construir cidadania, de ver o que significa um país que é parte do planeta e não um pária. E talvez percebam que a maioria escolheu Lula também para o bem de vocês, cidadãos que o homúnculo Bolsonaro degradou às próprias miúdas e perversas dimensões.
A Casa de Vidro – 02/11/22
As charges são do Jota Camelo (no corpo do post) e Allan Sieber (no topo)
Publicado em: 02/11/22
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
Perfeita análise! Constatar que praticamente metade dos brasileiros compactuaram nas urnas com o conjunto das torpes ideias bolsonaristas é algo que muito me entristece. É desalentador …
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia
LUCIA MARIA DE FREITAS
Comentou em 03/11/22