“Sabemos muito bem que a nossa liberdade está incompleta sem a liberdade dos palestinos.”
NELSON MANDELA ,
Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino,
Pretória, África do Sul, em 4 de dezembro de 1997.
POR EDUARDO CARLI PARA CASA DE VIDROHAIA, HOLANDA, 1
7/01/2024
Após 100 dias de agressão <sionista> contra os territórios palestinos, eis os fatos comoventes: mais de 24.000 pessoas já foram mortas pelas forças armadas israelitas – mais de 10.000 eram crianças e mais de 7.000 eram mulheres. Além disso, mais de 64.000 pessoas estão feridas ou mutiladas. Enquanto a fome e a sede assolam a Faixa de Gaza, estima-se que mais de 69 mil casas foram completamente destruídas pelas bombas, enquanto milhares de outras residências foram danificadas. Mais de 370 escolas e universidades foram reduzidas a escombros pelos ataques aéreos. Aproximadamente 142 mesquitas e 135 hospitais também foram bombardeados e destruídos. Mais de 100 jornalistas já assassinados (a maioria no que parecem ser assassinatos seletivos, e não apenas como resultado de “danos colaterais”). Além disso, mais de 127 médicos e enfermeiras já morreram no exercício de suas funções. (Fontes: Al Jazeera, Slingshot Media, Democracy Now!)
Nunca na história das Nações Unidas tantos dos seus funcionários perderam a vida num conflito: < A UNRWA perdeu mais de uma centena de seres humanos da sua equipe e os seus relatórios recentes da entidade da ONU mostram Gaza como um inferno na Terra. >
Israel criou condições de vida infernais em Gaza, intencionalmente, inclusive utilizando o que a <Oxfam chama de “uso da fome como ferramenta de guerra contra a população civil”>, na sua campanha insana de punição colectiva pelos ataques de 7 de Outubro de 2023 perpetrados pelo Hamas e outros jihadistas no sul de Israel. Quase 2 milhões de pessoas foram expulsas das suas casas e forçadas a tornarem-se refugiadas – muitas delas são obrigadas a se mudar várias vezes. Os que se recusam ou não tem condições de se mudar imediatamente são bombardeados; mas muitos dos que estão se movendo por supostas rotas seguras ou se abrigando em campos de refugiados supostamente imunes à guerra também estão sendo alvejados e explodidos.
O número de presos políticos também aumentou, com centenas de detenções na Cisjordânia (West Bank) – agora, mais de 8.800 palestinos estão detidos em prisões israelenses;enquanto isto, o Hamas mantêm pouco mais de 100 reféns escondidos na rede de túneis de Gaza, exigindo de Israel a libertação dos palestinos que estão presos. Os sionistas chamam este processo de “autodefesa” e o Tio Sam apoia-os com dólares, desculpas e retórica da Guerra ao Terror. Mas a África do Sul recorreu ao CIJ e deu-lhe um nome mais apropriado: “genocídio”.
THE HAGUE TRIALS
As primeiras audiências, realizadas em Haia, no Palácio da Paz, no TIJ, podem ser assistidas na íntegra abaixo, e A Casa de Vidro também disponibilizou a íntegra do documento (mais de 80 páginas) que a ÁFRICA DO SUL apresentou ao tribunal (ACESSAR/BAIXAR PDF @ GOOGLE CLOUD) >:
SOUTH AFRICA – 11 de Janeiro de 2024
ISRAEL – 12 de Janeiro 2024
Fui às ruas de Den Haag para ver o que diabos os holandeses estavam fazendo ao ar livre quando as temperaturas caíam abaixo de zero. Estava frio pra caralho e ainda assim estávamos lá, os resilientes manifestantes. Como fotógrafo, documentarista, jornalista, filósofo e artista, muitas vezes tento me meter em problemas por estar bem no meio do turbilhão de uma multidão. O que posso relatar de mais significativo, talvez, é a presença de Mandela. E este parece ser um excelente caminho: Mandela não cumpriu todo o conteúdo da sua missão histórica, da sua tarefa de vida, e esta frase que surge como slogan, e que já aqui foi citada duas vezes (em foto e em texto), deixa bem claro: a liberdade dos palestinos é parte integrante do processo de Liberdade para Todos. A nossa liberdade permanecerá sempre incompleta sem a libertação dos palestinos. Assim, o enquadramento predominante entre nós, que estamos apoiando a iniciativa sul-africada, é este: o apartheid é o cerne do problema.
A solução para o “problema” não reside na limpeza étnica dos territórios por parte de Israel, na imposição de uma nova Nakba às vítimas que ascendem a mais de 2 milhões de pessoas, mas no desmantelamento do apartheid. Israel tem de desistir da sua imposição do apartheid, encerrar sua ocupação criminosa, respeitar o direito à autodeterminação dos povos, e o sionismo tem de ser derrubado do seu pedestal de arrogância diabólica.
A África do Sul está ao lado da Palestina no CIJ e além, mostrando à comunidade internacional a disposição corajosa de afrontar o apartheid e o intento genocida dos sionistas, e a luz deste evento espalha o seu calor rebelde por todo o chamado “Terceiro Mundo”… O temor de muitos analistas da geopolítica é que o conflito militar escale e se espraie, com o fogo da guerra ganhando combustível e incendiando fronts no Líbano, no Yemen, no Iraque, na Síria e no Mar Vermelho. A rebeldia também explode por todo canto – os Houthis no Yêmen levantam-se no Mar Vermelho, “em solidariedade com Gaza”, e sofrem com bombardeios retaliatórios de EUA e UK.
As ruas do outrora chamado “Primeiro Mundo”, em Nova Iorque, Londres, Amesterdão, Roma, Paris, Berlim, também se enchem de manifestantes. Inclusive nos epicentros urbanos de uma Europa que sonha ser eternamente Uma Fortaleza. No mundo árabe, dezenas de milhares também se manifestam, de Casablanca a Argel, de Bagdá a Beirut. Em Haia, a História está a ser escrita, sem nenhuma garantia de final feliz ou de solução em prol do cessar-fogo, num momento terrível para a humanidade em que os Direitos Humanos foram transformados em cinzas e o Direito Internacional foi completamente pisoteado…
OUTRAS LEITURAS RECOMENDADAS
TIME – https://time.com/6553708/gaza-end-of-western-hypocrisy-essay/
INTERCEPT – https://www.aljazeera.com/news/2024/1/14/namibia-condemns-germany-for-defending-israel-in-icj-genocide-case
AL JAZEERA – https://www.aljazeera.com/news/2024/1/14/namibia-condemns-germany-for-defending-israel-in-icj-genocide-case
THE GUARDIAN – “The ICJ case shows how western logic is wearing thin and its persuasive power waning in a multipolar world. The significance of the fact that the country bringing the case is South Africa – an icon of the ravages of colonialism, settlement and apartheid – cannot be lost on anyone. It symbolises a vast racial injustice, too raw and recent to be dismissed as ancient history. In the figure of Nelson Mandela, there lies an evocative example of moral clarity undimmed by persecution. It is no surprise that the support expressed for South Africa is entirely from countries in the global south.” https://www.theguardian.com/commentisfree/2024/jan/15/israel-trial-south-africa-icj-palestine
TRUTHOUT – “For nearly three months, Israel has enjoyed virtual impunity for its atrocious crimes against the Palestinian people. That changed on December 29 when South Africa, a state party to the Genocide Convention, filed an 84-page application in the International Court of Justice (ICJ, or World Court) alleging that Israel is committing genocide in Gaza.
South Africa’s well-documented application alleges that “acts and omissions by Israel … are genocidal in character, as they are committed with the requisite specific intent … to destroy Palestinians in Gaza as a part of the broader Palestinian national, racial and ethnical group” and that “the conduct of Israel — through its State organs, State agents, and other persons and entities acting on its instructions or under its direction, control or influence — in relation to Palestinians in Gaza, is in violation of its obligations under the Genocide Convention.”
UNRWA – https://news.un.org/en/story/2024/01/1145317
VIDEOS PRODUCED BY A CASA DE VIDRO AT DEN HAAG – ICJ TRIALS 2024:
AS CRÔNICAS DE HAIA
Capítulo 1: Isto Não É Um Alvo, https://acasadevidro.com/cronicas-de-haia-capitulo-1-isto-nao-e-um-alvo/ ; Capítulo 2: O Menino E A Massa: https://acasadevidro.com/o-menino-e-a-massa/.
Publicado em: 18/01/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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