“Um Holocausto não justifica outro”, grita o cartaz da manifestante. Em outro protesto, uma faixa manda o recado para os sionistas: “Parem de fazer (contra os palestinos) o que Hitler fez contra vocês.”
Todos sabemos de todos os horrores e atrocidades cometidos História afora por antisemitas, motivados por um horrendo racismo, e certamente a Solução Final imposta ao III Reich aos judeus europeus qualifica-se como um dos males mais horrendos que já ocorreram no palco do mundo. Ainda assim, por que o fato de judeus terem sido vítimas de extermínio massivo perpetrado pelos nazistas alemães os qualificaria para hoje, sob a cobertura da ideologia sionista, serem os perpetradores de um extermínio massivo dos palestinos? Sim, é um terreno minado esta discussão, mas como evitá-la?
Em um sit-in recente que estive filmando em Amsterdam, os manifestantes escreveram: “Faixa de Gaza = Gueto de Varsóvia.” O paralelo pode parecer exagerado, mas o que é Gaza nestes últimos meses senão um campo de concentração onde as tropas sionistas geram a morte, a destruição e a doença em escala industrial, sem respeito nenhum pela ONU ou pelas Convenções de Genebra?
O ano de 2023 termina de maneira atroz no território conflagrado Israel-Palestina. Em brutal desrespeito da legislação internacional, os líderes sionistas do estado de Israel, com apoio dos EUA e de boa parte da UE e do UK, já causaram a morte de mais de 21.000 seres humanos, sendo mais de 8.800 crianças, além de terem causado 56.000 feridos.
Quase 2 milhões de pessoas foram forçosamente deslocadas e Israel não cessa de bombarbear os locais para onde mandou os refugiados fugirem dizendo que seriam seguros. Debaixo dos escombros há ainda muitos cadáveres e mutilados. A fome e a sede completam a catástrofe humanitária.
As Forças Armadas de Israel não respeitam nada: nem escolas, nem hospitais, nem universidades, nem ambulâncias, nem mesquitas, nem campos de refugiados. Mais de 300 profissionais de saúde e mais de 100 jornalistas já foram mortos. Nunca houve nenhum conflito armado desde a fundação da ONU que tenha custado tantas mortes a funcionários da entidade. Trata-se de uma das monstruosidades do século, e que seguirá massacrando o povo palestino com a punição coletiva durante este Revéillon.
No céu de Gaza, na madrugada de hoje os fogos não são de artifício: são bombas chovendo sobre vidas humanas que têm nomes e sonhos, famílias e vínculos, destruídas truculentamente por um regime sionista que age de maneira racista, supremacista, fascista. Chefiado pelo Primeiro Ministro Netanyahu, o governo israelense está desmascarado por sua própria brutalidade: expôs para além de qualquer sombra de dúvida o quanto é capaz de desumanizar o outro e atacar toda a sociedade do oponente com uma fúria genocida.
Ninguém aqui ignora que os ataques do Hamas em 7 de Setembro mataram mais de 1100 pessoas no sul de Israel. Também sabemos que o Hamas aonda mantém mais de 100 pessoas como reféns. Mas os palestinos presos aos milhares nos cárceres de Israel, muitos deles crianças, muitos deles sem julgamento, não são eles também reféns?
Sabemos que esta história não começa em 7 de Outubro: antes desta data, havia a ocupação, o apartheid, os checkpoints militares, o bloqueio econômico, o settler colonialism mais impiedoso – em suma, opressão sistemática de um povo submetido a uma Nakba infindável. Sabemos também que a Europa quer esconder o quanto é também responsável por esta catástrofe: a Shoah implicou na matança de mais de 6 milhões de judeus europeus, e no pós-guerra a melhor solução encontrada gerou uma cascata de péssimas consequências: a fundação forçada do Estado de Israel na Palestina, e a imposição do gigantesco êxodo de 1948 em que mais de 750.000 foram expulsos de seus lares, ressoam até hoje.
Não há paz sem justiça. Não haverá fim do terrorismo islâmico sem o fim do terrorismo de Estado sionista. Também não haverá democracia ou republicanismo enquanto o fanatismo religioso seguir fomentando tribalismos e irracionalidades. Se este é o preço a pagar pelo monoteísmo, talvez seja preciso concluir que o monoteísmo fraturado e fratricida que temos não vale este preço. A Terra Sagrada é hoje a terra empapada de sangue e escombros, de ódio e crueldade – difícil imaginar que o secularismo ateu teria sido capaz de produzir o que a fé frenética não cessa de fazer acontecer e re-acontecer.
Limpeza étnica não é autodefesa! Parem o Genocídio dos palestinos! Cease fire now!
#CeaseFireNow#freepalestine#StopGenocideOfPalestinians#GazaGenocide#FromTheRiverToTheSea
APRECIE TAMBÉM: REVÉILLON NA MUSEUMPLEIN DE AMSTERDAM:
Publicado em: 01/01/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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