Plugando consciências no amplificador! Presente na web desde 2010, A Casa de Vidro é também um ponto-de-cultura focado em artes integradas, sempre catalisando as confluências.
“Democracia brasileira está sob ataque”, afirma Naomi Klein
Confira entrevista exclusiva com a autora de “Doutrina do Choque”: http://bit.ly/1XQQkWT. Abaixo, alguns trechos selecionados:
Brasil de Fato – Em seu livro, você denuncia o que considera a falsa relação entre neoliberalismo e democracia política. As ditaduras militares latino-americanas ocupam um papel importante no seu argumento. Você poderia explicar isso para nós?
Naomi Klein – O argumento que eu desenvolvo neste livro é o de que nos contaram um conto de fadas sobre como esta forma extrema do capitalismo colonizou o mundo. Essa versão fantasiosa é a de que ela se espalhou pacificamente através das democracias, que a teriam escolhido. Entretanto, se olharmos para a história dos primeiros lugares onde o neoliberalismo foi imposto, ele foi imposto exatamente no oposto [do que nos é dito]: foi necessária uma derrubada da democracia para que ele se desenvolvesse.
O exemplo mais famoso é o Chile: após a queda do [presidente Salvador] Allende, quando os militares fizeram uma parceria com os economistas da Escola de Chicago, tornando o país um laboratório para essas ideias. Friedman sempre afirmou que a implementação dessas ideias através da brutalidade não tinha relação com as ideias em si, mas pessoas como Orlando Letelier [diplomata chileno durante o governo Allende] diziam que eram dois lados da mesma moeda: nunca é possível introduzir, através da democracia, esse tipo de ideias em países com uma grande população pobre que se beneficia de políticas redistributivas.
Brasil de Fato – Como você analisa o impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff? Alguns analistas brasileiros utilizam suas ideias para explicar o que está ocorrendo. Você concorda com eles?
N.K. – Eu vi essas análises aplicando a doutrina do choque ao que está acontecendo neste momento no Brasil, e eu penso que elas são convincentes. O fato de que Dilma Rousseff foi reeleita certamente frustou as elites brasileiras. Também está claro que há temores [dos políticos] em serem investigados nos escândalos [de corrupção], o que também impulsionou este desejo [de ver Dilma fora do governo]. Eu não sei qual é a grande motivação, mas há diversas coisas acontecendo: o desejo de se livrar das acusações de corrupção e o oportunismo de “nunca desperdiçar uma crise”. Esta é uma frase de Rahm Emanuel, prefeito de Chicago. Ele impôs uma série de políticas neoliberais que foram incrivelmente destrutivas, particularmente para a educação e para a habitação.
O PT, sob nenhum aspecto, foi perfeito. Entretanto, a redistribuição levou a uma redução da desigualdade e se combateu a pobreza extrema. Isso é significativo e criou as condições para a reeleição.
Eu realmente não sei qual foi a força motriz, mas a reeleição de Dilma certamente desmoralizou as elites brasileiras e as fez entender que não tinham as condições [políticas] de impôr essas políticas lucrativas para elas.
Responder a crises não é algo novo. O que eu argumento no livro A Doutrina do Choque é que o neoliberalismo foi uma maneira oportunista de fazer isso, não para resolver as causas das crises, mas apenas para impor políticas que enriquecem as elites e causam mais crises. É isso que estamos vendo no Brasil.
O FMI [Fundo Monetário Internacional] acabou de publicar um relatório há alguns dias no qual diz que o neoliberalismo falhou completamente: não produziu crescimento, produziu desigualdade massiva e instabilidade. E essas são precisamente as políticas que estão sendo impostas no Brasil como uma suposta solução à crise econômica, ainda que saibamos que não funciona. Isso não ocorre porque as elites brasileiras não leram o relatório do FMI, mas sim porque são políticas incrivelmente lucrativas para uma minoria da população. Eles estão explorando uma situação de caos, uma falta de democracia, para impor algo que eles não conseguiriam sem crise e com uma democracia real.”
Brasil de Fato – Você concorda com a ideia de que se trata de um golpe?
N.K. – Não há dúvida que a democracia brasileira está sob ataque. O combate à corrupção foi apenas um pretexto para se livrar da presidenta eleita democraticamente. É um tipo diferente de golpe. Não se trata de um golpe militar, com tanques nas ruas – e nós não devemos dizer que são a mesma coisa -, mas, efetivamente, há um profundo ataque à democracia acontecendo.
O mais assustador de tudo é que a receita para cozinhar o mundo é de chocante simplicidade: basta que deixemos tudo como está. Que as maiorias silenciosas permaneçam com as bundas sentadas no sofá, imbecilizados pela televisão e confortavelmente entorpecidos pelo besteirol das ideologias dominantes, são ingredientes que bastam para a concretização da catástrofe.
Aqueles que querem contribuir para o fim da civilização ocidental e para o declínio brutal da biodiversidade sobre a face da terra só precisam fazer isto: permanecer de braços cruzados e permitir que os “entendidos” e endinheirados sigam dominando o cenário. Afinal, os plutocratas e as elites devem saber o que fazem, né? Well, not really! A máquina está montada para mover-se rumo à catástrofe climática e à mega-tragédia humanitária – e nossa única solução, como aponta claramente a autora de Sem Logo e Doutrina do Choque, é uma boa dose de rage against the machine.
Naomi Klein sempre teve o mérito de unir uma crítica mordaz do capitalismo neoliberal globalizado com um reconhecimento da importância dos movimentos sociais “altermundialistas” e grassroots. Em sua abordagem da crise que “muda tudo” – ou seja, o aquecimento global antropogênico, causado por alguns séculos de capitalismo industrial poluidor e ecocida – a brilhante escritora canadense também aposta suas fichas numa pressão que vem de baixo para impedir o pior. O básico de sua mensagem em seu novo livro – que traz como subtítulo “O Capitalismo Vs O Clima” – é resumível nisto: é impossível lutar contra o efeito estufa e a hecatombe ecológica sem atacar o capitalismo em sua raiz.
Pois o pior está a caminho: nosso sistema econômico dominante está em guerra contra a teia-da-vida terrestre, tecida por milhões e milhões de anos de evolução orgânica e que agora o homo sapiens ameaça destroçar em poucos séculos. Tudo o que precisamos fazer para que a catástrofe se concretize é nada: se deixarmos as mega-corporações prosseguirem tirando combustíveis fósseis do subsolo e colocando-os no mercado para serem consumidores; se os consumidores prosseguirem a cegamente contribuir com emissões grotescas de CO2 para a atmosfera; se as empresas poluidoras e devastadoras continuarem praticando suas devastações ambientais impunemente e praticando recorrentes mega-crimes, de oil spills ao assassinato de rios; se os governos, ajoelhados diante do poder financeiro, permitirem a perpetuação do vale-tudo do mercado, súditos fiéis do capitalismo-de-cassino e dos financiamentos empresariais de campanha… bem, aí então estamos fritos. We’re cooked. Literalmente.
Um dos dados mais aterradores que a consagrada jornalista investigativa Naomi Klein compartilha em This Changes Everything revela o cerne do nosso trágico problema: para que a Humanidade consiga evitar um aumento de 2ºC na temperatura do planeta – a meta fixada no último acordo internacional de Paris-2016 (COP 21) – existe uma certa quantidade x de carbono que pode ser lançado à atmosfera (eis aquilo que é conhecido como carbon budget); no entanto, o total das reservas comprovadas de combustíveis fósseis é cerca 5 vezes superior àquilo que podemos queimar com segurança sem causar uma apocalíptica catástrofe.
Autores como Bill McKibben, organizações como o IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change) e jornais como o The Guardian têm repetido incansavelmente este fato nos últimos anos: se quisermos limitar a quentura planetária ao incremento (por si só bastante inflamante!) de 2º C, podemos emitir apenas 565 bilhões de toneladas de carbono; porém, o total das reservas de petróleo, carvão e gás natural já comprovadas equivaleria à emissão de 2,795 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa. Faça a conta e chegarás à conclusão incontornável: 4/5 de todas as reservas precisam ficar exatamente onde estão: no chão. Lançar tudo à atmosfera equivale a um suicídio coletivo e um atentado contra a biosfera. (Saiba mais: relatório Unburnable Carbon)
A previsão é a de que, se queimarmos tudo o que temos pra queimar, vamos todos morrer cozinhados numa grande labareda de caos climático: haverá escassez de alimentos e grandes mortandades por fome e sede; inundações monstruosas de metrópoles costeiras e países (como Bangladesh) transformados em encarnações da mítica Atlântida; para não falar nas gigantescas crises de refugiados (“resolvidas” por inimagináveis crueldades fascistas). Sobre o tema, remeto às obras de George Monbiot, Isabelle Stengers, Michel Serres, Viveiros de Castro & Déborah Danowski, Alexandre Araújo Costa.
A conclusão que tiro a partir do que sei é: se quisermos sobreviver, temos que tomar a decisão (urgente) de deixar onde está o famoso “ouro negro” ao qual os plutocratas estão tão apegados. Nossa única chance de evitar um aquecimento global de proporções infernais é superar a lógica do lucro a curto prazo que é hoje tão hegemônica e migrar velozmente para uma economia planetária “verde”, sustentável, de teor ecosocialista e mais leal ao commons do que ao capital.
“THIS CHANGES EVERYTHING”
DOWNLOAD TORRENT: http://bit.ly/1LbPKQb
(BluRay, 720p, 1,09 gb; ainda sem legendas em português)
Os livros de Naomi Klein possuem não apenas uma assombrosa coerência interna e uma maravilhosa estrutura argumentativa: eles conectam-se uns aos outros como peças de um mesmo quebra-cabeça. A Doutrina do Choque começava por uma obra-prima de jornalismo investigativo sobre New Orleans e os impactos do Furacão Katrina. A intenção de Klein era mostrar em minúcias, a partir deste exemplo preciso, o quão cruel e desumana é a doutrina neoliberal de que “nas desgraças, há oportunidade$”: uma cidade devastada por uma catástrofe climática viu sua população mais pobre e despossuída tratada com um descaso e uma negligência que demonstrou a expícita falência do Estado diante do poderio das forças do “mercado”.
A lendária “mão invisível” de Adam Smith, esta versão da Providência Divina adorada por white anglo-saxan protest males, não deu o ar de sua graça para salvar os moradores de New Orleans, que foram abandonados à própria sorte pelo governo federal (mais preocupado com suas guerras-imperialistas-em-prol-de-petróleo do que com o cuidado com seus próprios cidadãos).
O livro seguinte de Klein – This Changes Everything – Capitalism vs the Climate – ataca a questão das mudanças climáticas permanecendo no mesmo âmbito de sua análise de obras precedentes: é o “fundamentalismo de mercado” que tem sabotado nossa resposta coletiva à crise, afirma Klein. A humanidade vê-se diante de uma “crise existencial” que a ataca num momento histórico onde, infelizmente, vivenciamos o desmonte generalizado da esfera pública e a disseminação epidêmica do individualismo consumista de massa.
TORONTO, ON – SEPTEMBER 13: Journalist Naomi Klein (L) and director Avi Lewis attend the “This Changes Everything” photo call during the 2015 Toronto International Film Festival at Ryerson Theatre on September 13, 2015 in Toronto, Canada. (Photo by Mike Windle/Getty Images)
Agora Naomi Klein e seu marido, o jornalista Avi Lewis, lançaram também um documentário que pretende repercutir ainda mais a relevante mensagem de This Changes Everything. Dirigido por Avi e narrado por Naomi, o filme viaja o mundo revelando as frentes-de-batalha da geopolítica contemporânea, revelando várias facetas de um planeta devastado. Revela também a resistência em ascendência que promete pôr um freio aos capitalismos desenfreados que estão nos empurrando ao estado de emergência de um globo em incêndio.
Nos oil sands de Alberta, Canadá, o filme revela um mega-empreendimento de extração de petróleo das areias betuminosas, um dos projetos industriais mais destrutivos (e lucrativos) da Terra, contestado pela insurgência das First Nations e de organizações como o Idle No More.
Em Nova York, após a passagem do furacão Sandy, vemos a auto-proclamada “civilização avançada” revelando-se em toda a sua fragilidade diante do poderio das tempestades e ventanias. Wall Street joga com o mundo como se tudo não passasse de um grande cassino, enquanto multidões engolem o fascismo populista em versão hard (Donald Trump) ou soft (Hilary Clinton) naquele país onde, segundo a cáustica ironia de Nicanor Parra, “a liberdade é uma estátua”.
Na China, presenciamos recorrentes notícias de uma situação de calamidade pública com a poluição atmosférica extrema, que obriga os chineses, nos grandes centros urbanos, a usarem máscaras de proteção contra a smog. Na Índia, testemunhamos milhares de suicídios decorrentes de dívidas contraídas por pessoas “sequestradas pelo Sistema Monsanto” e a eclosão de guerrilhas camponesas (como os maoístas, cuja história foi tão bem contada por Arundhati Roy) que lutam contra o ecocídio militarizado. Na Alemanha, uma luz de esperança brilha através do exemplo de uma transição veloz e bem-sucedida para fontes de energia renováveis (30% da eletricidade do país já provêm de fontes limpas), mostrando que o caminho para a solar e a eólica pode ser trilhado já. Divest from fossil fuels!!!
Pedestrians wear pollution masks as they cross an overhead bridge over a busy highway in Beijing, China. Photograph: Ng Han Guan/AP
O contexto brasileiro não aparece no filme de Lewis e Klein, mas podemos enquadrar o “drama do pré-sal” nesta problemática constelação e perguntar: a descoberta das vastas reservas de petróleo submarino, no Brasil, é uma dádiva ou uma maldição? Devemos celebrar o fato de possuirmos tantas “riquezas naturais” em nosso território, ou serão profundamente lamentáveis as consequências disso para a nossa estabilidade política e convivência cívica? Sobre o tema, cito e referendo a opinião de Bruno Torturra (Facebook, 25/02/2016):
Sabe a quem o pré-sal pertence? Ao subsolo.
Sempre sou ridicularizado pela esquerda por dizer isso. Mas repito hoje. O pré-sal nunca foi um bilhete premiado como afirmou o então presidente Lula. É, desde que foi encontrado, uma maldição.
Primeiro, uma maldição para nossa estabilidade política. Uma reserva de petróleo dessa magnitude, encontrada em país de vocação extrativista e colonial, é claramente uma presa saborosa demais para agentes econômicos de todo tipo, para a ganância multinacional, para a corrupção local e operadores eleitorais deixarem em paz. Em um país como o nosso, claro que seria veneno para a saúde institucional. Taí a realidade que não me deixa mentir.
Segundo, uma maldição para nosso modelo de desenvolvimento. Exaltar e associar a exploração de combustíveis fósseis como a grande solução para a educação nacional? Bela lição às crianças que vão viver no perigoso século das mudanças climáticas. Bela estratégia para um país que, antes de encontrar a reserva, era referência no desenvolvimento de biocombustíveis. E enquanto Lula e Dilma posavam rindo com as mãos sujas de óleo sob aplausos da esquerda ufanista, o mundo começava a entender que as potências energéticas do futuro imediato seriam criadoras de novas tecnologias para fontes limpas.
Terceira, e mais grave, maldição ambiental. Vamos explicar de novo: a atmosfera não dá mais conta. A humanidade, não apenas o Brasil, deveria ter lamentado que encontramos tanto óleo. Lamentado que a conta é feita em dólar, não em toneladas de carbono. Mas… recuperamos o slogan dos tempos de Monteiro Lobato, aceitamos a metáfora de Lula, de que o “bilhete premiado é nosso!”.
Bem… A Chevron, José Serra e desde ontem a própria Dilma discordam. E a esquerda sonâmbula toma um susto. E já começa a racionalizar, dizer que Dilma está refém, “golpe! golpe! Brasileiros, às timelines!” Até porque vai ser bem complicado ir para as ruas exigir todo aquele arame para a educação. É que junto com o fim da exclusividade da Petrobrás, ontem aprovamos o projeto anti-terrorismo que pode enquadrar manifestantes mais assertivos. Uma cortesia do Planalto.
Eu sigo em cima do meu caixote na praça dizendo: o petróleo não é nosso. Sabe onde a natureza o escondeu? Abaixo da camada de sal na crosta terrestre. Esse bilhete não foi “encontrado”. Será saqueado de um cofre geológico. E agora, como era de se esperar, também do caixa da educação. (BRUNO TORTURRA)
Não vejo motivos para otimismo: no Brasil, as mobilizações em prol da causa ambiental-ecológica são pífios, quase nulos, e mesmo o pior crime corporativo da história do país não gerou nem sequer uma mísera marcha ou manifestação significativa contra Samarco-Vale-BHP.
Também beira o inacreditável que um livro de tamanha importância planetária quanto a nova obra-prima de Naomi Klein ainda não tenha sido traduzido e lançado no mercado brasileiro, perpetuando o estado de desinformação e alienação em que nos encontramos sobre as questões mais prementes de nosso tempo. A temática das mudanças climáticas aparece na mídia muito mal e porcamente, quando aparece. A loucura do deixe-tudo-como-está é uma doença muito disseminada entre nós, assim como a insanidade suplementar da fé na tecnocracia e nos gestores empresariais.
Diante desse quadro lastimável, é preciso afirmar e re-afirmar a importância do trabalho de figuras como Naomi Klein, cuja obra ainda é subestimada e sub-estudada entre nós. This Changes Everything, tanto o livro quanto o filme, são guias essenciais não só para a compreensão do nosso presente, são cruciais para a criação de um futuro vivível: a tarefa é articular não somente uma proposta de políticas alternativa mas também uma outra visão-de-mundo que rivalize contra aquela que está no cerne da crise ecológica.
Precisamos com urgência da disseminação de uma visão-de-mundo alternativa, como diz Klein, baseada em “interdependência mais do que em hiperindividualismo, reciprocidade mais do que dominância, cooperação mais do que hierarquia. É o que precisamos não somente para criar um contexto político capaz de reduzir dramaticamente as emissões, mas também para nos auxiliar a lidar com os desastres que não podemos mais evitar. Pois no quente e tempestuoso futuro que já tornamos inevitável por nossas emissões do passado, uma inquebrantável crença nos direitos igualitários de todos os povos e uma profunda compaixão serão os únicos valores separando a civilização do barbarismo.” (KLEIN, This Changes Everything)
“Time is tight, to be sure. But we could commit ourselves, tomorrow, to radically cutting our fossil fuel emissions and beginning the shift to zero-carbon sources of energy based on renewable technology, with a full-blown transition underway within the decade. We have the tools to do that. And if we did, the seas would still rise and the storms would still come, but we would stand a much greater chance of preventing truly catastrophic warming. Indeed, entire nations could be saved from the waves.
So my mind keeps coming back to the question: what is wrong with us? I think the answer is far more simple than many have led us to believe: we have not done the things that are necessary to lower emissions because those things fundamentally conflict with deregulated capitalism, the reigning ideology for the entire period we have been struggling to find a way out of this crisis. We are stuck because the actions that would give us the best chance of averting catastrophe – and would benefit the vast majority – are extremely threatening to an elite minority that has a stranglehold over our economy, our political process, and most of our major media outlets. That problem might not have been insurmountable had it presented itself at another point in our history. But it is our great collective misfortune that the scientific community made its decisive diagnosis of the climate threat at the precise moment when those elites were enjoying more unfettered political, cultural, and intellectual power than at any point since the 1920s. Indeed, governments and scientists began talking seriously about radical cuts to greenhouse gas emissions in 1988 – the exact year that marked the dawning of what came to be called “globalisation,” with the signing of the agreement representing the world’s largest bilateral trade relationship between Canada and the US, later to be expanded into the North American Free Trade Agreement (Nafta) with the inclusion of Mexico.
The three policy pillars of this new era are familiar to us all: privatisation of the public sphere, deregulation of the corporate sector, and lower corporate taxation, paid for with cuts to public spending. Much has been written about the real-world costs of these policies – the instability of financial markets, the excesses of the super-rich, and the desperation of the increasingly disposable poor, as well as the failing state of public infrastructure and services. Very little, however, has been written about how market fundamentalism has, from the very first moments, systematically sabotaged our collective response to climate change.”
“When you see the people on the streets of Rio and São Paulo fighting for affordable public transit, it doesn’t matter if they call themselves climate activists. They are climate activists. Because affordable public transit is central to any just transition.
My hope is that the labor movement, the anti-cuts movement, the climate movement will really come together in a coherent demand for a just transition away from fossil fuels, using [the oil] price shock as the catalyst.
(…) I feel like it almost needs to be simple enough to fit on a postcard: What is it that we’re fighting for? We’re fighting to leave it in the ground: no new fossil fuel frontiers. We’re fighting for societies powered by 100 percent renewable energy. We’re fighting for free public transit. We’re fighting for the principle that polluters should pay, that how we pay for the transition has to be justice-based. We’re fighting for the principle of frontlines first, that the people who got the worst deal in the old economy should be the first in line to benefit in the new economy. Those are some principles that we can all agree on and rally behind.
“Pressure is growing. In fact, that relentless climate movement is starting to win big, unprecedented victories around the world, victories which are quickly reshaping the consensus view – including among investors – about how fast a clean energy future could come. It’s a movement grounded in the streets and reaching for the photovoltaic rooftops, and its thinking can be easily summarised in a mantra: Fossil freeze. Solar thaw. Keep it in the ground.
Triumph is not certain – in fact, as the steadily rising toll of floods and droughts and melting glaciers makes clear, major losses are guaranteed. But for the first time in the quarter-century since global warming became a major public issue the advantage in this struggle has begun to tilt away from the Exxons and the BPs and towards the ragtag and spread-out fossil fuel resistance, which is led by indigenous people, young people, people breathing the impossible air in front-line communities. The fight won’t wait for Paris – the fight is on every day, and on every continent.” Bill McKibben,The Guardian
(De fato, não dá pra esperar a salvação destas Cúpulas do Clima das Elites, que a portas fechadas pretendem definir novos rumos para a economia global, mas sempre fracassam retumbantemente com o quase-nada de diferença que fazem; quem fará a diferença em Paris, se alguém, serão as massas bradando nas ruas e as pressões dos cada vez mais fortes movimentos sociais “fossil free”, que demandam soluções imediatas para o caos climático global e as emissões tóxicas que prosseguem colocando-nos em marcha rumo a futuras catástrofes imensas e iminentes. 400.000 pessoas marcaram presença em 2014 na People’s Climate March em New York. Em 2015, o que esperar em matéria de mobilização popular na França?)
Aí vai, meu povo, uma “retrospectiva cult” do ano que acaba de terminar, em forma de listão de prediletos-da-casa; aí estão reunidas algumas das novidades culturais que mais marcaram meu 2014: são álbuns nacionais e internacionais, filmes de ficção e documentários, além de livros publicados recentemente, que eu prezo pra valer e estimo como alguns dos melhores lançamentos destes últimos tempos… Voilà!
– SNOWPIERCER: EXPRESSO DO AMANHÃ, de Joon-ho Bong
– NINFOMANÍACA, de Lars Von Trier
– O LOBO ATRÁS DA PORTA, de F. Coimbra
– WE ARE THE BEST, de Lukas Moodyson
– BOYHOOD, de Richard Linklater
– RIOCORRENTE, de Paulo Sacramento
– MAPS TO THE STARS, de David Cronenberg
– LUCY, de Luc Besson
– NIGHTCRAWLER, de Dan Gilroy
[DOCUMENTÁRIOS]
– THE MISSING PICTURE, de Rithy Pahn
– JE SUIS FEMEN, de Alain Margot
– WATCHERS OF THE SKY, de Edet Belzberg
– FAITH CONNECTIONS, de Pan Nalin
– FINDING FELA KUTI, de Alex Gibney
– THE INTERNET’S OWN BOY: STORY OF AARON SCHWARTZ, by B. Knappenberger
– BJÖRK: BIOPHILIA LIVE
– PARTICLE FEVER, de Mark A. Levinson
– TEENAGE, de Matt Wolf
“The task is to articulate not just an alternative set of policy proposals but an alternative worldview to rival the one at the heart of the ecological crisis — embedded in interdependence rather than hyper-individualism, reciprocity rather than dominance, and cooperation rather than hierarchy.
This is required not only to create a political context to dramatically lower emissions, but also to help us cope with the disasters we can no longer to avoid. Because in the hot and stormy future we have already made inevitable through our past emissions, an unshakable belief in the equal rights of all people and a capacity for deep compassion will be the only things standing between civilization and barbarism.
We will not win the battle for a stable climate by trying to beat the bean counters at their own game—arguing, for instance, that it is more cost-effective to invest in emission reduction now than disaster response later. We will win by asserting that such calculations are morally monstrous, since they imply that there is an acceptable price for allowing entire countries to disappear, for leaving untold millions to die on parched land, for depriving today’s children of their right to live in a world teeming with the wonders and beauties of creation.
The climate movement has yet to find its full moral voice on the world stage, but it is most certainly clearing its throat—beginning to put the very real thefts and torments that ineluctably flow from the decision to mock international climate commitments alongside history’s most damned crimes.
Some of the voices of moral clarity are coming from the very young, who are calling on the streets and increasingly in the courts for intergenerational justice. Some are coming from great social justice movements of the past, like Nobel laureate Desmond Tutu, former archbishop of Cape Town, who has joined the fossil fuel divestment movement with enthusiasm, declaring that
“To serve as custodians of creation is not an empty title; it requires that we act, and with all the urgency this dire situation demands.”
Most of all, those clarion voices are coming from the front lines of Blockadia, from those lives most directly impacted by both high-risk fossil fuel extraction and early climate destabilization.
* * * *
Recent years have been filled with moments when societies suddenly decide they have had enough, defying all experts and forecasters—from the Arab Spring (tragedies, betrayals, and all), to Europe’s “squares movement” that saw city centers taken over by demonstrators for months, to Occupy Wall Street, to the student movements of Chile and Quebec. The Mexican journalist Luis Hernández Navarro describes those rare political moments that seem to melt cynicism on contact as the “effervescence of rebellion”.
We long for more and in that longing have more company than we ever imagined. No one knows when the next such effervescent moment will open, or whether it will be precipitated by an economic crisis, another natural disaster, or some kind of political scandal. We do know that a warming world will, sadly, provide no shortage of potential sparks.
Thanks in particular to social media, a great many of us are continually engaged in a cacophonous global conversation that, however maddening it is at times, is unprecedented in its reach and power. Given these factors, there is little doubt that another crisis will see us in the streets and squares once again, taking us all by surprise.”
NAOMI KLEIN, This Changes Everything
Photos: People’s Climate March & Flood Wall Street
September 21st 2014 NYC
Quando eu amanheço, é sob o céu de Van Gogh que me pinto flor. Quando entardeço sou nuvem (Toda azul). Pincelada por dentro, eu ardo de um amarelo-ouro: Há sempre uma cor pra cada pedaço de nós.