“Você deve ficar quieto quando as crianças estão dormindo, não quando estão sendo assassinadas!” – fotografei e filmei esta frase inúmeras vezes, escrita nos cartazes e faixas de manifestantes, durante os protestos e sit-ins em Amsterdam, Utrecht e Den Haag que acompanhei entre Outubro 2023 e Março de 2024. Infelizmente, os brados de revolta dos que foram às ruas não foram suficientes para pôr fim à matança que as forças armadas israelenses impõe em Gaza pela bomba, pelo tiro, pela fome e pela doença naquilo que transformaram intencionalmente num Inferno na Terra.
A campanha de punição coletiva contra Gaza não respeita nada – nem mesmo a infância. E ainda há muito silêncio cúmplice diante daquela que é talvez a pior das atrocidades que o regime sionista sanguinário, liderado pela extrema-direita Likudista, está cometendo nos últimos meses: de acordo com a ONU, mais de 13.000 menores de idade faleceram nos ataques sionistas desde que Israel iniciou a “massiva operação de limpeza étnica em curso” (Le Monde Diplomatique), um número que supera o número total de vítimas nesta faixa etária em todas as guerras do mundo entre 2019 e 2022 (fato noticiado em UOL, CNN, RBA, Euronews etc.).
Este cenário chocante, adjetivado como staggering pelo líder da UNRWA Philippe Lazzarini, é o cúmulo do horror, a epítome do descalabro, um crime contra a humanidade que envergonha a história do homo sapiens tanto porque está sendo perpetrado por seres humanos contra seres humanos, quanto pelo fato de que não somos seres humanos unidos-na-diversidade o suficiente para triunfar em freá-lo, pará-lo e responsabilizar criminalmente os responsáveis pelo que é possivelmente o mais atroz infanticídio do século 21.
Staggering. The number of children reported killed in just over 4 months in #Gaza is higher than the number of children killed in 4 years of wars around the world combined.
This war is a war on children. It is a war on their childhood and their future.#ceasefireNow for the… pic.twitter.com/tYwSNHecpy
— Philippe Lazzarini (@UNLazzarini) March 12, 2024
Galopam por Gaza os 4 Cavaleiros do Apocalipse. Nenhum deus enviou-os dos céus, como punição dos pecados dos mortais: a Conquista, a Guerra, a Fome e a Morte são todas frutos da agência humana – no caso, os frutos amargos de uma ideologia tóxica e mortífera, o sionismo, apoiado pelo imperialismo deste tal de Ocidente. Uma forma de supremacia judaica fortemente ancorada em racismo e islamofobia, o sionismo hoje apoiado pelos EUA e pela OTAN oferece-nos o quadro chocante de um apocalipse manufaturado, calcado numa teologia do domínio, em que as forças armadas a serviço do estado de Israel impõe condições infernais aos mais de 2 milhões e 300 mil seres humanos que tentam subsistir e resistir dentro do enclave distópico banhado pelo Mar Mediterrâneo.
“Em apenas 150 dias, as forças israelitas mataram mais de 30 mil palestinos, quase metade dos quais crianças”, escreve Vijay Prashad na Intercontinental [1]. Não satisfeitos com o morticínio em massa causado por seus bombardeios aéreos e mortíferos drones, os líderes do empreendimento imperial de Israel também manufaturam a fome. Ao invés de ser um flagelo a ser combatido, uma condição a ser extirpada da Terra, que deveria mobilizar os esforços prioritários do poder público (eis o âmago, por exemplo, da postura política de Lula e do ideal Fome Zero, inspirado nisto por Josué de Castro e Paulo Freire), a fome é nas mãos dos sionistas manejada como arma de guerra. Deslimites da crueldade.
Eis a húbris do fanatismo religioso e do sectarismo étnico-cultural: o sionismo é uma doutrina do apartheid e sua islamofobia recupera o que houve de mais tétrico na história das fés, o espírito de intolerância e de incapacidade de convívio com a alteridade religiosa que também mobilizou cristãos às Cruzadas. Sei perfeitamente que nem todo judeu é sionista, mas todo sionista é judeu – eis a grande infelicidade histórica do judaísmo, que o Estado fundado para acolher os sobreviventes do Holocausto tenha hoje um governo e uma população civil majoritariamente abraçados dogmaticamente ao sionismo em seu devir-fascista.
Eles dizem ser fiéis de uma divindade que outrora se chamou de Jeová, e supostamente estão inseridos na linguagem do profeta Moisés, mas não se encontrará entre os líderes sionistas que hoje encharcam suas mãos no sangue derramado em Gaza nenhum respeito pelo mais elementar dos mandamentos sagrados: “não matarás”. Os sionistas assim desonram não apenas toda uma tradição de reflexão ética de pensadores judaicos excelentes (como Arendt, Levinas ou Benjamin), desonram a própria tábua de valores elementares – seriam reprovados num Curso Básico de Ética por não conseguirem sequer seguir o princípio “não se deve matar 10.000 criancinhas” – um princípio que mesmo uma criancinha consegue compreender. Se não conseguimos, como humanidade, nem mesmo chegar ao acordo quanto a este, um dos mais básicos dos consensos morais, que diz respeito à proteção da infância contra morte violenta em meio aos conflitos bélicos, que chance temos de sucesso diante dos desafios gigantes com que somos confrontados na era das catástrofes climáticas e das mega migrações de refugiados?
Incapazes de aderir ao mais simples dos imperativos morais, os sionistas matam em massa pela bomba, pela fome, pela doença, matam até mesmo aqueles que, desarmados de tudo e tendo apenas um estômago que ronca, aglomeram-se perto dos caminhões de farinha e recebem balas ao invés de comida. São matanças impostas aos outros desumanizados e demonizados, aos “animais humanos” tratados como bestas ou brutos (Raoul Peck, sobre o tema, realizou o excelente documentáro Exterminate All Brutes). E eles ainda dizem – extremo da arrogância! – que há um deus que os aplaude pelo bom serviço que prestam à segurança do povo eleito. A Nakba 2.0 é imposta, o território é devastado, a anexação de territórios palestinos ao Estado-Nação expansionista de Israel avança, e é como se eles quisessem construir sua Nação Eleita sobre as covas das crianças que assassinaram.
Março de 2024 se encerra não apenas com “mais de 13 mil crianças mortas em Gaza” – as sobreviventes, muitas deles mutiladas, amputadas, tornadas órfãs, estão quase sempre “gravemente desnutridas”, segundo relatos da Unicef e outras entidades. A reportagem da AlJazeera informa ainda que “as crianças sobreviventes ‘nem sequer têm energia para chorar’ à medida que a fome se aproxima no enclave sitiado e bombardeado há meses.” [2] É da fato uma proeza: que outro estado no planeta seria capaz de cometer uma atrocidade desta magnitude – 13 mil menores de idade mortos em 150 dias – e ainda assim reter o apoio dos governos dos EUA, da Grã-Bretanha, da Alemanha, da França…? Estes países supostamente servem de esteio para os Direitos Humanos Universais – mas na prática revelam-se cúmplices do catastrófico extermínio do povo de Gaza. Este tal de Ocidente, enquanto presta um serviço labial hipócrita à noção abstrata de Universal, exige que os palestinos sejam trancados para fora do Universal, construídos como sem direitos a nada, como bestas-fera ou brutos.
O “dois pesos, duas medidas” também é explícito na atitude deste tal de Ocidente em severa crise de seu compasso moral: imaginem se a Rússia tivesse matado 13.000 crianças ucranianas nos últimos 4 meses; o que teria acontecido? A OTAN provavelmente teria tomado medidas drásticas como lançar uma bomba atômica sobre Moscou. A III Guerra Mundial já estaria em curso se as 13.000 crianças fossem ucranianas… Quando as 13.000 crianças são palestinas, e o agressor é o Estado-pária de Israel, bem… o Ocidente é tolerante. Os EUA segue mandando bilhões de dólares e trocentas armas e munições; os chefes-de-Estado e os establishments políticos do U.K., da Alemanha, da França, da Itália, da Holanda etc. seguem apoiando a chamada “guerra contra o Hamas” e perseguindo quaisquer vozes dissidentes e revoltadas como se fossem anti-semitas a serem caladas.
Em tal contexto, é pertinente a reflexão de Assata Shakur: “Ninguém no mundo, ninguém na história, nunca conseguiu a liberdade apelando para o senso moral do seu opressor.” [3] Talvez esta seja a melhor chave para ler o episódio histórico do 7 de Outubro de 2023: o Hamas e os demais grupos armados palestinos realizaram, através da operação Dilúvio de Al Aqsa, um levante insurrecional contra um opressor que por décadas foi surdo, cego e indiferente a quaisquer apelos morais para que desmantelasse sua opressão e que cessasse de impor seu brutal apartheid. Chega uma hora que os apelos morais ao opressor de fato são percebidos como inúteis: o senso moral do outro está terminantemente danificado pelo exercício da opressão e pela adesão aos dogmas supremacistas. Não é uma palestrinha sobre ética que vai desmantelar o apartheid e a ocupação que Israel impõe desde sua fundação nos territórios sobre qual ergueu seu problemático Estado judeu pós-Shoah.
Devemos nos perguntar, na esteira de Assata Shakur mas também na de Nelson Mandela, se já existiu algum apartheid que caiu, que foi desmantelado, que foi aposentado da história, apenas por um “apelo ao senso moral” daqueles que impõe este apartheid. Recentemente, Vusimuzi Madonsela, embaixador da África do Sul nos Países Baixos, onde está sediada a Corte Internacional de Justiça, dirigiu-se ao tribunal apontando: “Nós, como sul-africanos, sentimos, vemos, ouvimos e sentimos profundamente as políticas e práticas discriminatórias desumanas do regime israelita como uma forma ainda mais extrema do apartheid que foi institucionalizado contra os negros no meu país” [4].
No fim de Março de 2024, foi disponibilizado o estarrecedor documentário da Al Jazeera sobre o 7 de Outubro de 2023, o dia que mudou para sempre os rumos da geopolítica mundial e cujas repercussões ainda estamos sentindo neste tenso momento histórico em que parece iminente mais uma ofensiva sionista contra Rafah e novas agressões contra hospitais como o Al-Shifa. O que salta aos olhos, durante os 60 minutos desta reportagem investigativa aprofundada e que demonstra mais uma vez a excelência da produção midiática da empresa sediada no Qatar, é o assustador grau de desinformação que se disseminou na esteira da ofensiva do Hamas.
As mais altas autoridades estadunidenses e israelenses se apressaram a espalhar, como se fato fosse, que os monstruosos terroristas islâmicos haviam decapitado 40 bebês e que haviam praticado estupros de maneira sistemática contra as mulheres nos kibutzim e na rave; nos EUA, Biden e Blinken espalharam estas “notícias” em pronunciamentos oficiais, e tablóides sensacionistas do U.K. também reportaram, como se reais tivessem sido, certas atrocidades dos militantes palestinos que, a partir das 6h da matina do dia fatídico, romperam os muros do apartheid, criaram furos na penitenciária onde estão há décadas confinados e avançaram pelo território de Israel ao redor de Gaza.
A propalada notícia a respeito da morte e decapitação de bebês e do estupro sistemático de mulheres que teriam sido cometidos por guerrilheiros do Hamas não encontram nenhuma base nos fatos, nenhuma evidência nas imagens, e entram para a história das fake news e da desinformação como casos dignos de estudo – como sintetizou a Al Jazeera: “many of the stories that came out in the days following the attack were false. These include claims of atrocities such as the mass killing and beheading of babies as well as allegations of widespread and systematic rape – stories that were used repeatedly by politicians in Israel and the West to justify the ferocity of the subsequent bombardment of the Gaza Strip, which has so far killed nearly 32,000 people.” [5]
Para justificar a ferocidade inaudita da vingança contra toda a população de Gaza, foi preciso que Israel e seus cúmplices no OTANistão exagerassem na demonização do inimigo: a ironia macabra é que aqueles que espalharam tais mentiras sobre o Hamas produzindo mortes de bebês e violências contra mulheres são responsáveis por um verdadeiro massacre de crianças (mais de 13.000 delas pereceram, o equivalente a cerca de 44% das mais de 31.000 pessoas que Israel assassinou em Gaza desde 7 de Outubro) e uma autêntica matança de mulheres (29% de todas as pessoas mortas em Gaza na atual incursão bélica sionista).
Os que abraçam uma versão da Teoria dos Dois Demônios e pedem que se condene igualmente e sem distinção as atrocidades do sionismo israelense e as atrocidades do jihadismo palestino parecem-me equivocados em vários aspectos. A demonização dos “dois lados do conflito” quase sempre provêm de alguém que observa à distância e pretende manter-se num estado de pureza moral em relação a duas formas de extremismo enxergadas como equivalentes.
Perde-se assim a distinção elementar entre uma forma de violência estrutural, prolongada, instituída, tornada banal pelo poder opressor, e que perpetua a injustiça, o sofrimento e a precariedade, como é o apartheid que Israel impõe às populações palestinas em Gaza e na Cisjordânia ocupada, e uma forma de violência reativa, de resistência, que tem alguns “picos” eventuais de levante nas Intifadas e na Dilúvio AlAqsa, como é a violência à la Hamas.
O acólito da Teoria dos Dois Demônios muitas vezes é um pacifista ingênuo, daquele tipo que diz condenar todas as formas de violência. Mas será a violência um fenômeno assim tão simples que deva ser metido à força na caixinha do Mal? Bons são aqueles que se recusam terminantemente a agir violentamente contra qualquer ser senciente? Tal purismo moral equivaleria a lançar um olhar condenatório a todas as inumeráveis ocasiões históricas em que indivíduos e coletivos se insurgiram contra opressões e injustiças que sentiam que não seriam desmanteladas sem o uso da força, ou seja, da violência. Todas as revoluções, bem-sucedidas ou fracassadas, todas as insurreições de escravos e todos os levantes de quilombos contra o sistema da escratura e seus operadores, só merecem ser rotuladas como maléficas nesta rasa perspectiva dos “moralmente puros”, aqui apelidados de moralistas ingênuos.
Assumo o risco destas reflexões perigosas em que evidentemente me faço um alvo fácil para detratores me xingarem de pró-terrorista: ao propor que precisamos distinguir entre a violência do opressor e a violência do oprimido, um ensinamento básico de grandes lideranças decoloniais (Franz Fanon, Amílcar Cabral, Malcolm X), sempre nos arriscamos a sermos xingados de esquerdistas que passam pano para a violência atroz dos “terroristas”.
Para certas mentalidades que tem o cacoete insistente do maniqueísmo implantado pelo imperialismo sionista-ocidental, a violência dos “terroristas” é construída como o mal absoluto, e a violência dos poderosos que punem os terroristas é plenamente justificada, não importando a desproporção entre as vítimas. Se morrem em Israel cerca de 1.200 pessoas em um dia, o cidadão-de-bem vai dizer: “é o supremo horror! cúmulo da violência injustificável!”. Mas se morrem na Palestina cerca de 30.000 pessoas em 4 meses, o mesmo cidadão-de-bem vai dizer: “tá tudo certo, é preciso combater o terrorismo, alguns danos colaterais são esperados, não fiquem de mimimi por criancinhas que cresceriam para participar da Intifada e da jihad!”.
Aqui, estamos propondo algo diverso: a compreensão de que aquilo costumeiramente rotulado como terrorismo muitas vezes pode ser compreendido como episódio eventual de irrupção de uma violência organizada dos oprimidos contra aqueles poderes que sistematica e estruturalmente impõe a violência organizada do opressor. Sem o conceito de opressão e sem a densidade da apreciação histórica não somente não entenderemos nada como estaremos bem longe de chegar à qualquer solução para o derramamento infindável de sangue.
Aqueles que se colocam em posição de “neutralidade”, argumentando que este é um conflito complexo demais, e que não querem se imiscuir no mesmo, com frequência também aderem a uma versão da Teoria dos Dois Demônios. É claro que aqui posso também ser acusado de estar propondo uma Teoria Do Demônio Único – o que não é, nem de longe, minha intenção: a descrição dos horrores praticados pelo sionismo pode mesmo ser compreendida como descrição de um poder demônico, que impõe torturas infernais a suas vítimas, mas tampouco estamos aqui pintando um retrato angelical da resistência palestina – que evidentemente é armada, aceita a violência como meio para seus fins, e não acredita mais em “apelos morais” ao senso ético do opressor.
Por tudo aquilo que o sionismo vem realizando desde Outubro, revelando ao mundo sua face mais sórdida e genocida, é preciso dar uma certa razão às conclusões tiradas pelo Hamas, por mais que me seja intragável e digna de crítica também a mobilização política islâmica que se enraíza na noção terrível de guerra santa em nome de Alá. Ao invés de aderir à postura cômoda de muitos ateus, que criaram sua própria versão da Teoria dos Dois Demônios que opõe o horror do supremacismo judeu sionista ao horror do fanatismo jihadista islâmico, prefiro operar com o conceito de opressão e julgar o embate com ele em foco, sem descuidar, é claro, dos vínculos entre a violência e o sagrado – sim, a fé tem muita culpa neste cartório, mas tampouco se deve lançar à indistinção que há a fé do opressor e a fé do oprimido, e estas tampouco são equivalentes.
O sionismo tornou-se hoje a fé do opressor em seu direito à supremacia. O sionismo está praticando uma hecatombe horrenda contra toda a sociedade palestina – hospitais e escolas, mesquistas e universidades, museus e centros culturais. Diante disto a palavra genocídio não é um exagero: à aniquilação dos corpos das pessoas palestinas, o terrorismo de Estado de Israel também vem promovendo bombardeios que equivalem à “aniquilação cultural”, como bem-destacado em excelente episódio do The Listening Post da Al Jazeera, em que o historiador palestino Jehad Abusalim caracteriza as ações sionistas dos últimos meses como a war of annihilation que ataca todas as fundações da sociedade de Gaza e pretende também apagar violentamente o passado e as instituições que abrigam a memória e o saber materializados. Foram bombardeados – destruídos ou parcialmente danificados – 60% de todas as residências, 60% das escolas, todas as universidades, 24 centros culturais, 200 sítios históricos etc. [6]
Alguns podem dizer que isto é uma lamentável perda para o povo palestino, mas dizer isto é muito pouco – trata-se de uma lamentável perda para toda a humanidade. Edward W. Said destaca que a Palestina é um “lugar muito incomum e excepcional”: “em virtude de sua localização geográfica, é um ponto de interseção não só de grandes religiões como também de culturas. As culturas do Oriente e do Ocidente lá se cruzam. Helênica, grega, armênia, síria, levantina, em linhas gerais, e europeia, cristã, africana, fenícia – é uma fantástica conjuntura. A Palestina sempre se livra de um ou outro rótulo limitante. Os palestinos representam o aspecto plural, multicomunal, da Palestina… temos lutado contra um povo e uma ideologia que diz que a Palestina pertence somente a Israel e ao povo judeu, não a todos os outros – que devem ficar lá em posição subalterna. É essa a essência do nosso conflito com o sionismo.” [7]
Estes não são apenas crimes contra os palestinos, mas crimes contra a humanidade. O sionismo tornou-se hoje, mundo afora, sinônimo de uma crueldade altericida, capaz de ir aos extremos da insanidade em seu exterminismo do outro. A fé é pervertida pelo sionismo para servir ao ímpeto tribal-sectário de domínio e colonização imperial de uma outra sociedade que é arrastada a força no rumo da aniquilação de tudo aquilo que torna a existência humana digna de ser vivida.
Nenhum povo aceita sem resistência uma tal aniquilação de sua história e de sua dignidade, e é por isto que meu coração – que bate do lado esquerdo do peito e faz circular pelo corpo um sangue vermelho – sente-se compelido a apoiar todos os ímpetos rebeldes dos oprimidos e injustiçados em processo de Intifada – que durará enquanto a opressão durar. Israel se ilude pensando que sua segurança virá a partir da brutal imposição do genocídio e do apartheid ao povo que deseja prender num gueto-prisão. Não há paz sem justiça, sem dignidade, sem respeito ao princípio elementar da auto-determinação dos povos, todos direitos que tem sido sistematicamente negados aos palestinos. Brick by brick, wall by wall… Apartheid has to fall! Que as crianças palestinas um dia possam brincar sobre os escombros do sionismo – e que judeus, muçulmanos e cristãos possam enfim aprender a convivência alterofílica ao invés de fazer da tal Terra Santa um dos piores infernos manufaturados no planeta.
Eduardo Carli de Moraes para A Casa de Vidro
Goiânia, 20 de Março de 2024
REFERÊNCIAS
[1] – PRASHAD, Vijay. https://thetricontinental.org/pt-pt/newsletterissue/fome-palestina/
[2] – AL JAZEERA, https://www.aljazeera.com/news/2024/3/17/over-13000-children-killed-in-gaza-others-severely-malnourished-unicef
[3] SHAKUR, Assata. Original: “Nobody in the world, nobody in history, has ever gotten their freedom by appealing to the moral sense of the people who were oppressing them.” Saiba mais em Jacobin Brasil: https://jacobin.com.br/2020/07/assata-shakur-me-ensinou-a-lutar/
[4] MADONSELA, Vusimuzi. URL: https://www.aljazeera.com/news/2024/2/20/israels-apartheid-must-end-south-africa-says-at-icj-hearing
[5] SANDERS, Richard. October 7: Forensic analysis shows Hamas abuses, many false Israeli claims. In: AlJazeera. URL: https://www.aljazeera.com/news/2024/3/21/october-7-forensic-analysis-shows-hamas-abuses-many-false-israeli-claims.
[6] THE LISTENING POST, Al Jazeera. https://www.youtube.com/watch?v=iZVSQ-ClBn8
[7] SAID, Edward. A Pena e a Espada. São Paulo: Ed. Unesp, 2013, p. 38.
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Publicado em: 20/03/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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