Por Leandro Porto Marques – Pós-graduação em Ciências Ambientais na UFG
Quando hoje pensamos em poluição, ou em desastres ambientais, é muito comum pensarmos em desmatamento, erosão dos corpos d’ água, caça e pesca predatória, ou mesmo a quantidade absurda de resíduos sólidos nos grandes centros urbanos. Mas existe um distúrbio que passa despercebido por muitos, a poluição sonora.
Mesmo por muitos ignorada, tem efeitos diretos nas sociedades humanas e não humanas. É perceptível o que o incômodo de variáveis fontes de ruído podem causar aos seres vivos, tendo como consequência, devida ao tempo de exposição e níveis de emissão, fatores como declínio de saúde, não apenas psíquica, como também desequilíbrios corporais no geral [1].
No Brasil, a NBR 10152 de 1987 – Norma Brasileira para o Conforto Acústico – define algo como 30 dB (decibéis, indicam o valor da frequência sonora) como sendo os níveis equivalentes para um dormitório, por exemplo, já como inoportuno e incomodativo. Acontece que, com o rápido aumento de veículos motorizados, obras, entre outros ruídos urbanos nas grandes cidades, levou a um certo grau de ‘costume’, fazendo com que menos do que 50% das pessoas demonstrem incômodo a toda poluição sonora nas grandes cidades.
A concentração e o desenvolvimento escolar, assim como o desenvolvimento cognitivo, também são afetados pela poluição sonora [2]. É indicado, também, um aumento na mortalidade humana, devido a problemas desencadeados por poluição sonora, por doenças cardiovasculares, a associação positiva com diabetes [2], além da própria depressão e ansiedade [3].
Entre os outros animais o efeito da poluição sonora é ainda mais intenso. Na ecologia existe um termo “paisagem sonora” para denominar a dinâmica de sons e a relação dessa dinâmica com os hábitos das espécies e populações. Agora imagine a dificuldade dos bandos de pássaros em se comunicar ou dos sapos se reproduzirem quando a paisagem sonora é tomada por um trash metal urbano de mau gosto?
Sendo assim, não é estranho, ou mesmo incomum, associar paz e tranquilidade a locais onde não é possível imaginar a existência de poluição sonora. Fugir do caos dos grandes centros urbanos e buscar refúgio em locais silenciosos se apresenta com uma boa estratégia para evitar uma gama de problemas desencadeados pela exposição prolongada a ruídos. Porém como fazer com que não seja necessária uma fuga? Não deveríamos nos perguntar como solucionar o problema de uma vez?
Não há uma resposta pronta,. No entanto, é necessário pensar estratégias para além da fuga. É preciso pensar a poluição sonora com tanta importância quanto (deveriam ser) as mudanças climáticas, a exploração das terras e das águas e o consumismo desenfreado. Para começar, poderíamos pensar uma fiscalização mais presente por parte dos órgãos ambientais, bem como políticas que imponham padrões de qualidade industrial maiores na hora de produzir equipamentos.
Problemas ambientais são problemáticas sistêmicas, a poluição sonora, dos transportes individuais e coletivos, está ligada à emissão de carbono dos mesmos e à poluição atmosférica, assim como o aumento de gases de efeito estufa que contribuem para as mudanças climáticas. É necessário pensar, sendo assim, a poluição sonora com tanta importância quanto às demais e percebê-la no dia a dia em uma cadeia de impactos recorrentes tanto ao ecossistema, quanto à saúde humana.
NOTAS:
Publicado em: 06/05/22
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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