LESLEY CHAMBERLAIN
“Nietzsche in Turin: An Intimate Biography”
Editora Picador USA, 1999
(Publicado no Brasil pela Ed. Difel em 2000.
Disponível para compra na Estante Virtual.)
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O NAUFRÁGIO DE NIETZSCHE EM TURIM
“The year-in year-out lack of a really refreshing and healing human love, the absurd loneliness that it brings with it, to the degree that almost every remaining connection with people becomes only a cause of injury; all that is the worst possible business and has only one justification in itself, the justification of being necessary.” – Carta de Nietzsche a Overbeck, 3.2.88
Ano após ano, a ausência de um “refrescante e terapêutico amor humano” abisma o filósofo Nietzsche em um estado de “solidão absurda”, como ele confessa ao amigo Overbeck em carta de 1888.
Apesar de já ter publicado quase toda a sua obra obra consagrada (Além de Bem e Mal, Genealogia da Moral, Humano Demasiado Humano, Zaratustra, A Origem da Tragédia, Aurora, A Gaia Ciência…), Nietzsche chega ao fim dos anos 1880 e descobre-se mais isolado do que nunca. Na Alemanha, seus livros são ignorados por quase todos, ou incompreendidos pelos poucos que os lêem: o verdadeiro “sucesso” editorial, na época, são os panfletos anti-semitas que se propagam pelo Reich de Bismarck e que Nietzsche abomina com toda a força de seu nojo.
Enquanto vão surgindo os primeiros sinais de que sua obra repercute pela Europa – o professor judeu George Brandes começa seu curso sobre Nietzsche na Universidade de Copenhagen, por exemplo – ao redor do homem Nietzsche se adensam as nuvens pesadas de uma solidão cada vez mais densa.
“Alguns homens nascem póstumos”, escreverá Nietzsche, tentando consolar-se com a idéia de que só espíritos livres do futuro o compreenderiam e que ainda estava por nascer uma época que tivesse ouvidos para suas mensagens. A solidão ao seu redor era quase absoluta: após toda uma série de rupturas com aqueles que haviam sido importantes em sua vida (Wagner e Cosima, Paul Rée e Lou-Salomé…), Nietzsche se encontrava, como diz Lesley Chamberlain, em um “deserto emocional”.
Por mais que tenha vociferado contra o ideal ascético, de que eram adeptos tantos eremitas e anacoretas, Nietzsche também se encontrava em uma espécie de eremitério em Turim: não sabia falar grande coisa de italiano, o que decerto dificultava encetar amizade com os estranhos ao seu redor, e sua melhor companhia era a música, em especial a de Bizet, cuja ópera Carmen o filósofo irá assistir por duas de vezes e depois celebrará como uma obra-prima nas antípodas do wagnerianismo.
No geral, Nietzsche vivia só, quase sempre desacompanhado, um andarilho que caminha com sua sombra, lidando sem auxílio externo com sua doença, seus dilemas, suas turbulentas reflexões. Desde que havia se demitido, por razões de saúde, de seu posto como professor de Filologia na Universidade da Basiléia (Suíça), Nietzsche havia perambulado pela Europa como cigano peripatético, um caminhante introspectivo, sem amarras com nenhum emprego, nenhuma instituição, nenhuma “causa” de militância social. Tampouco tinha qualquer relacionamento amoroso que lhe acalentasse os dias com os imprescindíveis calores da convivência.
Só encontrava um grão de diálogo humano através das cartas que escrevia e recebia. Entre seus correspondentes havia figuras eminentes da cultura européia daqueles tempos – como o historiador Jacob Burckhardt, o dramaturgo August Strindberg, o compositor Peter Gast (Koselitz)... – mas todos eles vivendo a grande distância física de Nietzsche.
Imagino às vezes o tamanho da inconfessável fome de abraço que ele deveria sentir: o filósofo que redimiu o corpo tão massacrado pela tradição idealista da filosofia ocidental era um pensador sofria nas próprias vísceras a falta de sentir seu próprio corpo agasalhado pelo afeto humano. Além do mais, este mesmo corpo, que reconhecia como fonte de seu pensamento, de sua criatividade, da vida em seu inteireza, era massacrado pela doença. Diante dos açoites do destino, recomendava o amor fati, uma trágica aceitação jubilosa de tudo aquilo que a existência tem de mais problemático e angustioso.
O que ocorreu com Nietzsche em Turim é um mistério que não cessa de instigar a curiosidade daqueles que se interessam pelo filósofo, já que foi o “palco” do colapso psíquico que o fez mergulhar de vez, sem volta, na insanidade. Era o começo de 1889 quando, nas ruas da cidade italiana, um certo sábio-louco alemão, professor de comportamento tão extravagante e de tão longos bigodes, abraçou um cavalo que estava sendo maltratado em via-pública e depois desfaleceu. Nunca mais pôde reaver toda a potência de seu prodigioso cérebro: em breve estaria de cama, sob cuidado de seus familiares, quase um “vegetal”, incapacitado de ler e escrever. Não reconhecia mais ninguém. Na aurora do século 20, em 1900, iria enfim tornar-se banquete para os vermes.
Nos meses que antecederam seu desmoronamento psico-somático, Nietzsche havia produzido algumas de suas obras de maior impacto: O Caso Wagner, O Crepúsculo dos Ídolos, Anticristo e Ecce Homo são todos livros desta última fase, em que sua pena mordaz não teme chocar, provocar, polemizar.
O mínimo que se pode dizer destas obras é que seu autor não se preocupa em ser polido e delicado: expressa suas opiniões radicais como se desejasse que cada frase tivesse o efeito de uma banana de dinamite. Estava convencido de que algo de melhor podia ser construído sobre os escombros da Europa que ele enxergava, desde o fim do século 19, no caminho desgraçado do nacionalismo militarista, do racismo, do anti-semitismo, do continuado fanatismo religioso conjugado a um moralismo autoritário. Até o fim de sua vida, escreveu livros que prosseguem sendo pura Dinamietzsche.
Compreender as razões que levaram Nietzsche a terminar sua vida criativa em Turim é tarefa dificílima, que já foi tentada por muitos pesquisadores e biógrafos, mas sem que nunca se tenha chegado ao desvendamento final do enigma. Penso que a solidão, o isolamento social, é uma das chaves para entender o crepúsculo nietzschiano. Pois estou convencido que até um grande artista, um gênio criador, um filósofo brilhante, não é nunca completamente “auto-suficiente” em matéria de afeto, que precisa da estima alheia para ter um chão sólido sobre o qual caminhar com passo firme, e que a saúde do corpo e da mente é inalcançável sem o intercâmbio com os outros.
“Nenhum homem é uma ilha”, diz o poeta John Donne. E aqueles que acabam ilhados na solidão, rodeados por todos os lados pelas gélidas águas da indiferença, ou pela hostilidade dos tubarões, não raro terminam também loucos. E o que há de mais enlouquecedor do que a sina de Robinson Crusoé após o naufrágio?
Em seu livro mais recente, Nietzsche – O Humano Como Memória e Promessa, Oswaldo Giacoia reflete, pegando carona nas reflexões de Hannah Arendt sobre a condição humana, que uma das explicações para o colapso psíquico de Nietzsche foi a progressiva perda de participação em um “mundo comum”. Em outras palavras: para Nietzsche, que se considerava “extemporâneo”, um peixe fora d’água em sua própria época, não havia nenhuma comunidade real que ele integrasse.
A própria megalomania que se manifesta em Ecce Homo parece um sintoma da vida no deserto que Nietzsche então levava: é como se ele tentasse elogiar a si mesmo na falta de qualquer ser humano que o elogiasse. É a falta do apoio do outro que o leva a buscar apoio em si mesmo, e de maneira que soa tão “narcisista”, a julgar pelos títulos de alguns dos capítulos deste seu escrito auto-biográfico e auto-glorificante (“por que escrevo livros tão bons”, “por que sou tão sábio” etc.).
É claro que muitos outros comentadores, biógrafos e pesquisadores destacam que causas puramente orgânicas levaram Nietzsche a naufragar em Turim no início de 1889 – alguns apostam na hipótese de que ele havia contraído sífilis na juventude em algum prostíbulo; outros, que seu estado de saúde tão debilitado devia-se aos ferimentos que sofreu no campo de batalha, durante a Guerra franco-prussiana de 1870, na qual Nietzsche serviu como enfermeiro e onde contraiu difteria e disenteria; outros ainda destacam que devia haver alguma predisposição genética para a doença cerebral correndo no sangue da família, já que o pai de Nietzsche, pastor luterano, havia morrido precocemente aos 35 anos de idade. Impossível bater o martelo e apontar a “verdade das verdades” sobre um tema tão complexo.
De todo modo, o tema “Nietzsche em Turim” é instigante e suscita muitas obras que se debruçam sobre o “caso”, tentando decifrar o enigma – inclusive o cinema brasileiro realizou um experimento de compreensão com Dias de Nietzsche em Turim, filme de Julio Bressane, roteirizado por sua esposa Rosa Dias.
Na sequência, compartilho alguns trechos da “biografia íntima” escrita por Lesley Chamberlain, Nietzsche em Turim, em que a autora realiza uma interessante jornada pela vida e pelo pensamento de Nietzsche – o qual, nas palavras de Alain de Bottom, “emerges as a kind, awkward man with an immense, unsatisfied hunger for love” (Los Angeles Times Book Review).
A autora – que também participa do documentário da BBC Humano, Demasiado Humano – não procura dar respostas definitivas ou resolver de vez o enigma da esfinge. Ao contrário, convida-nos a conhecer em minúcias as circunstâncias existenciais que precederam o naufrágio e assim nos convida a indagar das razões que conduziram o barco nietzschiano a pique.
Para Lesley Chamberlain, Nietzsche lutou com a doença como Laocoonte batalhando contra as serpentes na clássica escultura; ao abraçar o cavalo nas ruas de Turim, encenou na vida real um sonho de Raskolnikov em Crime e Castigo, e manifestou, segundo a interpretação de Milan Kundera, horror diante da crueldade humana diante dos animais; ao celebrar o deus Dioniso e seus ditirambos, quis cantar um hino de júbilo à existência em sua absurdidade, irracionalidade e inexplicável deleite, ao mesmo tempo que lamentou por uma comunidade bacântica que não chegou a vivenciar…
O filósofo, que na juventude havia ficado tão impressionado pela música de Wagner, em especial Tristão e Isolda, viveu em Turim o último ato da tragicomédia de sua existência consciente. Parece-me que não entenderemos seu naufrágio se não levarmos em conta que este homem solitário, apaixonado pela música e pela vida, não encontrou para sua voz um lugar no humano coral.
Mas sua voz de solidão prossegue ecoando, séculos depois de sua morte, assombrando-nos e iluminando-nos, instigando-nos e provocando-nos, cheia de luzes e sombras, cantos e lamentos, choros e risos, sabedoria e insanidade… Tudo mesclado e cambiante, como a própria chama da vida que dança ao sabor dos ventos do fado, lutando contra a morte enquanto mantêm queimando sua ânsia insaciável por alegria e potência… Para citar o poeta Quintana: “que importa restar em cinzas se a chama foi bela e alta?”
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Passo a palavra à Lesley Chamberlain:
“Nietzsche’s readiness to espouse the Dionysian was there even in 1870. He believed that there could be, as there once had been, an art form capable of embracing life’s horrors and irrationalities without needing to explain them or sublimate them or lessen the furious pace of their attack. In this sense pain could be directly confronted and celebrated without loss of present vitality and without what we would surely call today ‘repression’…” (pg. 39)
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“Three things high mountains signified for Nietzsche: aesthetic beauty, moral courage and intellectual clarity. (…) The high vantage point gave him not a sense of the world below being inferior to some higher realm, but a sense of the sheer relativity of its judgements. The paradox was that the realization of limitation was liberating. The Upper Engadine’s 5.500 feet above sea level stood for the most desirable capacity in human beings to see far over the heads of individual nations and people and creeds, the ability to survive by rising above the fray, and the need to go beyond the familiar world in order to see the arbitrariness of its values…” (99)
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“Nietzsche’s famous rejection of pity demonstrates how pity diminishes the integrity of the other. If I flood another person with pity I may dull his or her ability to find strenght within, for pity is a crippling kind of sympathy which confirms misfortune and woe, expressing the idea: ‘Yes, hasn’t life treated you badly, you deserve to feel sorry for yourself.’ At issue for Nietzsche the psychologist is the way people manipulate each other, often making others feel weak in order to enhance their own power. It is the manipulativeness that Zarathustra and Nietzsche reject as being beneath love…” (103)
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“Spinoza had said the act of knowing involved an act of laughter, an act of mourning and and act of cursing. Nietzsche homed in on those subconscious processes For him the act of knowledge embraced subconsciously that mixture of moods he consciously favoured as a working method. Knowledge – and love – emerged out of a confrontation on the battlefield of the subconscious, which engages our powers to spurn and to ridicule, to welcome, cherish and mourn… (cf. The Gay Science 179)”
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“Nietzsche loathed the repression of the sensual as a supposed moral value, hence much of his invective against the Church. The achievement of ‘The Genealogy of Morals’ was to see this institutionaized repression, practised by the Church, in political terms. Nietzsche’s ascetic priest and his ‘ideals’ spoke of totalitarianism in all but name nearly 50 years before the 20th century invented it, and impressively anticipated Wilhelm Reich’s criticism of the ‘mass psychology of Fascism…” (151)
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“Nietzsche fought a tremendous battle with sickness. He was like the outcast Trojan priest Laocoon, resisting the punishing sea serpents to the last breath. Thinking of the meaning of that classical statue, depicting terror and resignation, Nietzsche considered Laocoon’s fate showed the Apollonian forces of life yielding to Dionysus. The statue could have worn his face.” (182)
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“A dithyramb originally described the song of Dionysus. It was an expression of intoxication and community, with Dionysus leading others in choral song. The choral element was what first inspired Nietzsche to see in Wagner’s music a rebirth of the Dionysian. (…) The dithyramb also bore, in its modern meaning of a poetic tone more than a form, a much closer personal significance for Nietzsche. It betokened wild howling, vehement expression. Nothing could have been more apt for a poet in love with the masks of self-intoxication and madness. What a way to rebel against being made chaste and virtuous by misfortune! The medium itself expressed a desire to be sensually out of control. Had Nietzsche used the form to greater artistic effect his poems might have become iconic for the modern condition, like Munch’s ‘The Scream‘, because they are a kind of howling after lost community. All of Nietzche’s writing where the pictorial and the musical dominate over the discursive could be called Dionysian and dithyrambic. They sing, they laugh, the flash colour, they luxuriate in texture…” (191)
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“On 3 January 1889 he tearfully embraced a mistreated nag in the street. The horse under duress was pulling a public conveyance. (…) In his embracing the horse several writers through the 20th century have seen a human being commiserating with an abused soul. Nietzsche rebelled against human cruelty and crudeness by hugging this horse who was his partner in metaphysical abjectness.
It is possible too that he had read the passage in Dostoievsky’s ‘Crime and Punishment‘ where Raskolnikov dreamed of throwing his arms around a mistreated horse. When Nietzsche dreamed of the mistreated horse he felt pity; he wanted to weep. Now in reality some ultimate autobiographical urge made him embrace a real hose…
The Czech novelist Milan Kundera wondered in ‘The Unbearable Lightness of Being‘ if Nietzsche did not beg this wonderful equine specimen to forgive Descartes for believing animals do not have souls. Kundera found Nietzsche’s to be a symbolic gesture against the dominance, the arrogance of the human mind over nature, against blind worship of progress…” (p. 210)
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Na sequência, assista na íntegra aos filmes Dias de Nietzsche em Turim, de Julio Bressane e Rosa Dias, e Humano Demasiado Humano, documentário da BBC inglesa (que também inclui episódios sobre Heidegger e Sartre). Boa viagem!
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Publicado em: 20/12/13
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
Foi como tinha que ser. Talvez nunca saberemos qual foi o arremate final que arrancou Nietzsche de sua vida. Acredito que o desfecho, foi o mais trágico possível diante do que ele se tornou e diante de sua obra. Findar-se nas mãos de vermes, dependendo do cuidado das mãos de vermes. Mas, é impensável para mim, incalculável, inaceitável, incompreensível: que um visionário e ao mesmo tempo um profundo conhecedor dos diversos graus da alma humana, não tenha sido visto, percebido, notado pelos de sua época. Que não tenha sido valorizado à altura. Ou, não o suficiente, a ponto de terminar seus dias sozinho e sentindo essa solidão. E falta de amor.
Como em “Humano, Demasiado Humano” Máscaras: “Onde quer que se procure por elas, há mulheres que não têm interior e não são senão máscaras. Deve-se lamentar o homem que se abandona a esses seres quase fantasmas, necessariamente pouco satisfatórios, mas que são precisamente capazes de despertar mais intensamente o desejo do homem: ele procura sua alma, e não cessa de procurá-la.”
Talvez, como hoje, era uma época de máscaras.
Convidaria Nietzsche para tomar um café. Ou vários. Perderia prazerosas horas a conversar com ele. A lhe preencher a solidão. A discutir suas idéias. Pena que, não existe amizade entre um homem e uma mulher. Mas, vejo em Nietzsche o amigo que todos deveriam almejar em suas vidas de máscaras. E o amante também.
Só esqueci um detalhe. Talvez uma das possibilidades para o arremate final da vida de Nietzsche. Frasezinha polida, retirada de um poema de Fernando Pessoa, mas, verdadeira: “A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.”
Depois de lê, reler, analisar todos esses que se autodenominavam “espíritos livres” só me atenho a uma conclusão:
Que esse ‘espíritos livres” nasceram com a genitália na cabeça e com uma metralhadora no coração, sim porque só pensam e só falam em:
Sexo, 23 horas por dia
e a 01 hora restante, só falam que
Não gostam de hierarquia;
Só enaltecem a desobediência;
São filhos da rebeldia;
Escravos dos desejos carnais,
Filhos da depravação;
Inventaram o tal de niilismo, como quem queriam extinguir o conceito da moral, mas na realidade queriam extinguir a própria consciência para que não fossem testemunhas do seus próprios atos, tendo a falsa ilusão de que com isso estariam se escondendo de si mesmo.
Resumindo, como no final prevalece a experiência e a coerência, no final de sua vida, Nietzsche, sem um preparo psicológico para a solidão e carente de uma companhia para pelo menos receber um elogio e vendo que só estava pagando pelos seus próprios erros, o medo invadiu sua alma se autodenominou o “Novo Cristo”, as idéias não se concatenavam com as ideias antecedentes e precedentes e o medo cada vez mais invadiu aquele espirito cheio de ódio e inveja e dai veio o CAOS.
Somos coisa pensante, necessariamente.
Um mal psicológico não pode ser resultado de um mal físico.
Olá Airton, não acredito que seja tão radical ao ponto de concluir que todo aquele que almeja ser um “espírito livre” ou que escreveu sobre, possua uma genitália na cabeça.
Em “Além do bem e do mal”, por exemplo, Nietzsche deve citar a palavra sexo com o sentido de relação sexual (genitália), menos de cinco vezes. Foi a obra de Nietzsche, que leu?
O próprio Nietzsche comenta em sua obra, por exemplo, que toda atitude tem sim conseqüências e portanto, ser um “espírito livre” não é ser insano, depravado, promiscuo, parvo.
Eu, por exemplo, sempre fui avessa à normas, regras, religiões. Vejo claramente Cristo e todos o que continuaram em seu nome, como meros filósofos (não escrevo isso para ofendê-lo, não me interprete mal). Faço minhas regras e arco com as conseqüências. E, descobri Nietzsche, anos mais tarde, indo de encontro ao que eu já calculava. Pode ter sim muita gente com a genitália na cabeça que lê Nietzsche a fim de se cobrir de razão. Mas, o faz com o livro de ponta cabeça. Melhor ler Kama Sutra.
Tenho certeza que são imensuráveis as razões que levam qualquer ser humano à terminar seus dias sozinho e sinceramente, não vejo erro de cálculo no caso de Nietzsche, pois, no meu ponto de vista, deixou uma belíssima obra, mesmo que sua função às vezes seja apenas irritar aos niilistas passivos.
Não estamos na época da santa inquisição, e ainda, espero que tal época nunca mais se repita, mas, sempre temos aqueles que clamam por fogueira ao sentirem algum de seus valores “desvalorados”. Não seja um destes. Seja qual for seu ponto de vista, lembre-se que atrás de nossos falsos valores morais da atualidade escondem-se os verdadeiros monstros de metralhadora no coração, a quem deve combater ou pelo menos notar. Dentro das instituições onde há mais regras, mais valores, é onde reina o caos, sem pudores – só máscaras. É onde mais se oprime o ser humano e o coíbe de evoluir.
Talvez o martelo filosófico de Nietzsche o tenha acertado Airton, ou não, visto que a transvaloração dos valores não é algo tão simples de se colocar em prática. E, nem eu mesma tenho essa pretensão de me afirmar sabichona.
Amor fati, Airton.
“Minha fórmula para a grandeza no homem é amor-fati: não querer nada de outro modo, nem para diante nem para trás, nem em toda eternidade. Não meramente suportar o necessário, e menos ainda dissimulá-lo – todo idealismo é mendacidade diante do necessário -, mas amá-lo” – Nietzsche, Ecce Homo, Porque sou tão esperto, §10.
Abs,
Quando comecei a ler Os Seminários Zaratustra de Jung, fiquei com com uma dúvida com uma de suas primeiras frases (parafraseando): “e se Nietzsche soubesse da pólvora?” Cada vez mais penso que N. fazia uma viagem perigosa a qual o próprio J. tinha medo de o enlouquecer. A pespectiva das tribos indigenas era que se poderia vencer o invasor branco com arco e flexa. Talvez essa seja uma boa metáfora do caso N.?
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia
Michele Viviane Vasconcelos
Comentou em 26/12/13