Os contextos autoritários que ressurgiram pelo mundo nos últimos anos, com a volta à cena de uma extrema-direita, tornam cada vez mais urgente o resgate e a valorização da nossa história
por Lays Vieira
Somo todos/todas/todes latinos! Isso pode significar várias coisas, mas política e historicamente isso sempre significará resistência. Resistência de povos e de um continente contra a colonização, exploração, violência, opressão, imperialismo, ditaduras, dependência econômica, etc. A ascensão do capitalismo se deu com o sul global como sua base, fornecendo riquezas, mercadorias, mão de obra, pessoas escravizadas, territórios, etc.
E é por esse passado e presente de lutas que devemos nos orgulhar de sermos latinos/latinas/latines. Mas, a história e o orgulho desta também são historicamente apagadas e alteradas pela ideologia, pelas estratégias na disputa por hegemonia. É nesse contexto que eu quero falar de memória. Da necessidade de registrar e valorizar a memória dos nossos povos, das nossas lutas. Por isso, hoje, eu vou falar de Moncada e da Revolução Cubana.
No último dia 26 de julho, se comemorou os 67 anos do assalto ao quartel de Moncada, dando o pontapé inicial para a revolução contra a ditadura de Fulgencio Batista, lacaio dos EUA (que sempre viram a América Latina como seu quintal, e Cuba como cassino e prostíbulo) naquele país (que, diga-se de passagem, já havia todo um histórico de luta, vide o grande José Martí e “Nuestra América”). Por meio de um golpe de Estado, Batista instala uma ditadura militar em 1952, regrada a diversos tipos de violência. Vários núcleos e grupos locais começam e se organizar para combater tal cenário.
Como bem colocado por reportagem do Brasil de Fato, surge um grupo formado por estudantes, camponeses e trabalhadores urbanos que decidem não mais aceitar passivamente a opressão, interna e externa, imposta ao seu povo. Colocam em ação um plano de libertação da pátria por meio de um assalto às armas usadas pelo Estado para repressão. A ideia era distribuí-las ao povo para que pudessem se defender da violência estatal e lutar pela autodeterminação de seu próprio país. É assim que aproximadamente 100 cubanos decidem e colocam em prática o assalto ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, e o Quartel Carlos Manuel de Céspedes, em Bayamo. A data escolhida não foi acidental, coincide com o carnaval em Santiago, usando a festa como distração.
A tentativa falha, muitos foram assassinados, quem sobreviveu foi preso em condições inimagináveis, com diversas torturas. O governo divulgou como uma vitória, mas uma campanha popular pela libertação dos presos teve início, incentivada posteriormente pela autodefesa escrita e proclamada por Fidel Castro, um dos presos, intitulada “A História me absolverá” (Editora Expressão Popular).
De nada adianta, o revolucionário é condenado, mas a pressão popular faz com que ele e outros companheiros sejam exilados no México. Lá, em 1954, fundam o Movimento Revolucionário 26 de julho. Organizados, retornam a Cuba em 1956. Passam um período em Sierra Maestra, organizando nova ofensiva e conscientizando a população. Assim, em 1 de janeiro de 1959, com o apoio popular e sob o lema “a revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes” o Exército Rebelde toma o poder.
A Revolução Cubana é para todos nós, latino-americanos, um dos grandes símbolos contra a ditadura e a opressão. Mas, sim, é comum nos vários veículos de mídia haver falácias, distorções e críticas ao regime posterior comandado por Castro e companhia. Análises estas, vale destacar, bastante a-históricas, que desconsideram as próprias contradições da realidade ou seus efeitos nas subjetividades dos agentes (Che, médico, era homofóbico, adoram dizer… tiram o discurso do contexto – na época, a própria OMS, Organização Mundial da Saúde, considerava a homossexualidade, até então chamada de “homossexualismo”, como uma patologia; apenas em 1990 a Organização excluiu-a da sua lista de distúrbios mentais e o termo foi substituído… mas, ainda é comum, até em algumas vertentes da Esquerda, reduzir a ação, os escritos e o legado de Che Guevara a esse fato).
Por isso, na tentativa de resgatar essa memória e os fatos, publicarei, para o nosso próximo encontro, um breve trecho de pesquisa que realizei em 2018 (parte da minha dissertação de mestrado), relembrando a resistência e a rebeldia que culminou na Revolução Cubana.
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Publicado em: 30/07/20
De autoria: Lays Vieira
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