Aquele que os otários tratam como Mito não passa de um perverso mitomaníaco, vivendo no reino da mentira compulsiva. A mentira como instrumento político não é novidade alguma, mas o modo como o Bolsonarismo a utilizou carrega alguma carga de inovação: eles inventaram o genocídio por desinformação, a fake news como máquina de produção da carnificina. Ele mentiu sobre a gravidade da pandemia (“resfriadinho”), incentivou aglomerações sem máscaras (com o agravante: para atos atentatórios à já tão estuprada Democracia brasileira) e disseminou ilusões cloroquínicas que nos causaram dezenas de milhares de óbitos e infecções evitáveis. Quem ousará dizer que a mentira não mata?
Por exemplo: pesquisa USP/Conectas mostrou que, mais do inépcia e incompetência, o que tivemos foi um governo que deliberadamente espalhou mentiras (e produziu atos administrativos baseados nestas mesmas mentiras). Ao propagar a ilusão de que a cloroquina seria um remédio eficiente no tratamento da covid19, Bolsonaro enviou o povo para o matadouro munido apenas de um delírio de invulnerabilidade.
Uma postura negacionista, de “terraplanismo sanitário” (Leonardo Sakamoto), de franca hostilidade à Ciência e à Medicina, em que Seu Jair demonstrou de novo que nunca topou jogar no fair play mas sim dando chute na canela dos adversários e mandando jornalistas e cientistas enfiarem latas de leite condensado no ânus. Um “líder” que prefere agir às cegas no labirinto do obscurantismo trevoso, perpetrando assim crimes de responsabilidade em série que o tornam bem mais letal que todo a letalidade reunida num hipotético Sindicato dos Serial Killers…
Nenhum país do mundo entrou no “delírio da Cloroquina” tanto quanto o Brasil, e esta mentira mortífera ainda precisa ser penalizada em seus perpetradores: Jair Bolsonaro é a encarnação do poder maléfico da mentira organizada. A palavra ausente do debate sobre fake news é credulidade – como pode tanta gente ser crédula destas lorotas? Como as pessoas se deixam enganar assim? Quando foi que se estilhaçou todo senso crítico? Ou o problema é que o senso crítico nem sequer foi desenvolvido, massacrado no berço por pastores neopentecostais, publicidade comercial, família tradicional (heteropatriarcal binária e homofóbica), politiqueiros torturadores da democracia…
A verdade é que a credulidade de tantos diante da Mentira da Cloroquina que virou política-de-Estado sob o General Pezadello (“não sabia nem o que era o SUS”) – o escândalo da produção superfaturada de Cloroquina pelo Exército, o “dumping” que Trump quis fazer da substância conosco, isto resta não só a contar mas a mobilizar direitos internacionais e os tribunais que os defendem para punir exemplarmente. Isto não resolverá o problemaço da credulidade nas mentiras, mas des-empoderará muitos mais maléficos mentirosos – como é o clã Bolsonaro, a famiglia miliciana que mais mente, com suas mentes dementes, mentem mas a gente não consente!
Que a mentira da Cloroquina tenha podido se propagar tanto não é de surpreender tanto a quem acompanha a história recente do país: quem engoliu a lorota do kit gay, uma das piores fake news que a homofobia Bolsonarista invenvou para cometer crime de difamação contra Fernando Haddad e todo o campo lulopetista…
O Bolsonarismo, como movimento político que une o führerzito miliciano à sua Tropa de Choque de apoiadores (todos eles cúmplices, ativamente, da produção da catástrofe humanitária pandêmica, com mais de 200.000 cadáveres evitáveis produzida pela Máquina Mortífera dos necropolíticos da extrema-direita brasileira. O bielorusso Evgeny Morozov escreveu o essencial sobre o problema:
“As eleições brasileiras de 2018 mostraram o alto custo a ser cobrado de sociedades que, dependentes de plataformas digitais e pouco cientes do poder que elas exercem, relutam em pensar as redes como agentes políticos. O modelo de negócios da Big Tech funciona de tal maneira que deixa de ser relevante se as mensagens disseminadas são verdadeiras ou falsas. Tudo o que importa é se elas viralizam (ou seja, se geram números recorde de cliques e curtidas), uma vez que é pela análise de nossos cliques e curtidas, depurados em retratos sintéticos de nossa personalidade, que essas empresas geram seus enormes lucros. Sob a ótica das plataformas digitais, as fake news são apenas as notícias mais lucrativas.
Como qualquer eleição recente pode evidenciar, a infraestrutura da comunicação política mudou dramaticamente. Esforços feitos no passado para controlar seu uso – como leis de financiamento de campanha política e restrições do tempo de TV de cada candidato – não são mais adequados em um mundo onde grande parte da comunicação se dá em plataformas digitais. Caso não encontremos formas de controlar essa infraestrutura, as democracias se afogarão em um tsunami de demagogia digital; esta, a fonte mais provável de conteúdos virais: o ódio, infelizmente, vende bem mais do que a solidariedade.”
MOROZOV. Big Tech – A Ascensão dos Dados e a Morte da Política, São Paulo: Ubu 2018. Coleção Exit, pgs 11-12.
Bolsonaro mente compulsivamente e mostra o quanto nossa sociedade está pouco preparada para controlar e punir comportamentos tão reiterados e nefastos de um chefe-de-Estado (ilegítimo, é óbvio, pois sua própria ascensão ao poder é marcada pela manipulação da opinião pública a partir de uma comunicação demagógica marcada pelo extremismo de um apego à “pós-verdade”. Quem fala a verdade sobre o desmatamento ou as queimas, é demitido – quem mente em uníssono com o governo, periga ser promovido… Diante da covid19, a boca-de-esgoto mitomaníaca que é o Bolsonarismo fez proliferar tragédias como estas relatadas pelas reportagens do UOL:
1. MENTE-SE HÁ MILÊNIOS – Uma reportagem de Vitor Paiva no Hypeness, que revela 8 mentiras que marcaram a História, afirma:
“Ainda que possa parecer que as fake news tenha sido inventadas nos últimos anos, e por mais que a internet tenha corroborado e intensificado tal fenômeno, a verdade é que notícias falsas movem a história desde os primórdios da humanidade. No Brasil e no mundo, boatos foram forjados e espalhados a fim de alterar o resultado de eleições, justificar graves golpes de estado, derrubar reputações públicas ou efetivar manutenções de grandes poderes. A roda por trás de importantes capítulos da história foi muitas vezes a mentira, noticiada nos jornais e na boca do povo feito fossem verdades, e deixando a fidelidade dos fatos e o rigor ético no chão.” [1]
No Brasil, uma História da Mentira teria que abarcar mais de 520 anos – e certamente tomaria mais de uma dúzia de tomos com 1.000 páginas cada. Algum humorista por aí já deve ter inventado uma frase lapidar que revele toda extensão do território do Engano neste país onde se mente pra cacete – desde os primórdios até hoje em dia. O que hoje chamamos pelo estrangeirismo viral fake news teve um de seus episódios mais notáveis na própria narrativa construída para falar sobre o “Descobrimento” destas terras repletas de pau-brasil.
A Hypeness diz ainda: “O descobrimento do Brasil é um ninho de fake news, a começar pelo próprio título: tratou-se muito mais de uma invasão do que de uma descoberta, considerando os milhões de nativos que já viviam aqui, e a ideia de que o país ‘começa’ em 1500 é uma ilustração perfeita do descaso que temos pela nossa própria história – o que passamos a chamar de Brasil, afinal, é logicamente muito mais antigo do que isso.” [2]
Não é preciso ter lido a obra clássica de Todorov sobre A Conquista da América, ou ter aprendido as lições de Marilena Chauí em outra obra-prima, Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária, para saber desde as vísceras, partindo de um conhecimento basilar, que estamos numa terra onde o imperialismo gringo e as elites nacionais – muitas vezes mancomunadas – espalham mentiras mortíferas faz séculos.
Mais recentemente, a partir da ruptura severa do tecido democrático ocasionado pelo golpeachment desferido contra a presidenta re-eleita Dilma Rousseff em 2016, os brasileiros tiveram uma nova dose cavalar de mentiras em série infectando o espaço público de maneira virulenta. Com a ascensão do Bolsonarismo, vimos a Mentira empoderada causando imensos estragos – e aja capital empresarial ilegal (caixa 2) para financiar tanta lorota!
Durante a pandemia de covid19 em 2020, o mitômano do presifake divulgou uma série de propagandas falsas sobre a cloroquina, como se esta fosse uma receita milagrosa para combater o novo coronavírus – o que não tem base científica nenhuma. Mas muito antes de 2020, a extrema-direita Bolsonarista se acostumou ao uso e ao abuso da mentira como instrumento para o oportunismo político mais descarado.
Distribuídas às massas, via ZapZap, as fantasias lunáticas sobre o kit gay, da mamadeira de piroca e da camiseta “Jesus é travesti” poderiam ter sido apenas uma nota de rodapé das deslealdades eleitorais perpetradas pela extrema-direita caso não tivessem encontrado uma tão vasta massa de crédulos e multiplicadores. A quantidade de mentiras caluniosas disparadas contra Lula, Haddad, Manu, Dilma e os governos petistas – fenômeno que ficou conhecido como #Caixa2doBolsonaro e que culminou no Gabinete do Ódio chefiado por membros da familícia e da seita bolsonarista – está na raiz da psicose-de-massas que empoderou o miliciano genocida e seus gangsters.
Os Bolsominions entram para a História, nos capítulos “lata de lixo” desta, como o gado-de-manobra de uma Seita de Mentirosos que roubou uma eleição com base nas calúnias, difamações e desinformações mais estapafúrdias. O grau de auto-engano dos Bolsominions brazucas serve de emblema do grau de barbárie a que pode descer uma sociedade que permite que o senso crítico se atrofie diante da ascensão da credulidade estúpida. A vitória nas urnas do Bolsonarismo, toda calcada na fraude e no fake, é um daqueles experimentos errôneos e catastróficos que devem servir como cautionary tales para as gerações por vir. O Bolsonarismo é um dos movimentos políticos de extrema-direita mais mentirosos de todo o caminhar pregresso da Humanidade e tem várias similaridades com a mentirada que calcava a Ditadura Nazista.
As eleições presidenciais de 2018 estão fadadas a se tornar um paradigma contemporâneo da eficácia perversa da mentira organizada. A denominação “Mito”, com a qual muitos daqueles que integram a Seita Bolsominion referem-se ao seu líder miliciânico (para eles messiânico), é ilusório: Jair Bolsonaro não chega aos pés de um mito – esta construção simbólica humana que é o mito, tecido em belas narrativas, capaz de conquistar nosso interesse e se marcar na nossa memória, sendo transmitido de geração em geração como um tesouro a atravessar os naufrágios. Seu Jair não passa de um reles mitomaníaco, a encarnação da má-fé e do embuste. O ano de 2020 explicita que estamos falando de mentiras mortíferas (e não de mentiras sem efeito) – e que o responsável por elas, por seus crimes contra os brasileiros mas também contra toda a Humanidade, precisa ir com urgência para o banco dos réus por delitos de genocídio.
Seria ofender os avestruzes dizer que Jair Bolsonaro se parece com um deles. Avestruzes são aves formidáveis, utilizadas às vezes de maneira pejorativa como se fossem cegas voluntárias, que enfiam a cabeça debaixo da terra como se não quisessem enxergar o mundo à sua volta, tirando assim umas “férias da realidade” (um comportamento que é mais um mito construído por humanos do que algo que emana de fato da observação empírica). Jair Bolsonaro não tira férias da realidade, como o avestruz mítico – ele está permanentemente alojado fora dela. Ele gira numa órbita insana onde o conceito de Verdade não opera como deveria, onde a Verdade não é um valor mas apenas um empecilho. Ele frequentemente confunde sua crença lunática em uma realidade paralela (onde a terra é plana, Olavo é sábio e os “homens-de-bem” alegram-se torturando petistas e exterminando cubanos) com a realidade ela-mesma. Crença que seria cômica, digna de um palhaço Bozo, se não fosse trágica – pois infelizmente é aparentada que à psicologia que presidia ao III Reich Hitlerista.
A Ditadura Nazista, afinal de contas, lá pelos idos de 1933, também se ergueu sobre as asas de mentiras mortíferas. Os nazis organizaram um partido de extrema-direita que adorava perseguir judeus e comunistas. Contra ambos foram alardeadas mentiras grotescas que frequentemente vinham somadas ao “comando” de perseguir e exterminar os desviantes, os transviados, os vagabundos matáveis destes judeus sujos e destes comunistas horrorosos. A isto se somava o racismo e a eugenia – a crença nefasta na superioridade (e, portanto, no direito à supremacia) que os auto-proclamados “arianos” concediam a si próprios. Assim destravou-se a repressão brutal contra aquelas pessoas que por participação em atividades políticas comunistas, socialistas, anarquistas, neo-espartaquistas, contestadoras do status quo de múltiplas variedades, eram xingados de “bolcheviques culturais” – e assim, através deste estigma, marcados para sofrer e morrer.
Na história das fake news, é preciso lembrar sempre de como o III Reich instrumentalizou um panfleto anti-semita fake chamado Os Protocolos dos Sábios de Sião, e que diante do Incêndio do Reichstag de 1933 (causado pela própria extrema-direita nazi!) apressou-se a providenciar o velho “bode expiatório” do comunismo…
“Comunistas foram presos em massa, incluindo todos os parlamentares do partido, fazendo com que os nazistas se tornassem a absoluta maioria no parlamento, e permitindo a Hitler ampliar e consolidar seu poder. A famigerada Lei de Concessão de Plenos Poderes foi aprovada – concentrando todo o poder nas mãos do Führer – Marinus van der Lubbe foi executado, mas até hoje nenhuma conspiração foi remotamente comprovada. Em verdade, boa parte dos historiadores reconhece ter se tratado de uma “operação de bandeira falsa” – quando um governo conduz uma operação de modo a parecer ter sido realizada pelo inimigo. Os nazistas teriam incendiado o Reichstag alemão a fim de justamente criar o ambiente perfeito para a perseguição à oposição comunista e instaurar seu regime.” HYPENESS [3]
Bolsonaro, como bem argumentou Iná Camargo Costa, está de fato “requentando a marmita nazista” [4] (e Aroeira tem razão em seu censurado cartum!).
2. PÓS-VERDADE E FAKE NEWS EM TEMPOS DE PANDEMIA
Eugênio Bucci, em seu excelente artigo News Não São Fake, E Fake News Não São News, provoca: “Não custa lembrar que a mentira é tão antiga quanto a fala. A mentira da imprensa é tão antiga quanto a imprensa. Também em livros, a mentira dolosa é tão velha quanto a invenção de Gutenberg. O livro chamado Os Protocolos dos Sábios de Sião talvez seja o exemplo mais conhecido. De origem obscura – provavelmente foi forjado nos bastidores do czarismo, na Rússia, já em seus estertores -, a obra desencadeou ondas de antissemitismo pela Europa e difundiu preconceitos que levariam a perseguições genocidas, como se viu no Holocausto.” (BUCCI, p. 41) [4]
O Bolsonarismo requenta esta marmita Nazista durante a pandemia de coronavírus: faz alarde de ser um governo anti-comunista, profere ofensas sem fim contra Cuba, Venezuela e China (países tacados pelo “pensamento” presidencial, estreito e tapado, no mesmo balaio-de-gatos dos “países comunistas”), mas no fundo é profundamente fake sua propaganda “nacionalista”. O slogan Brasil Acima de Tudo é a síntese da mentira Bolsonarista: tornar-se uma Colônia dos EUA, re-instaurar por aqui uma Ditadura Militar fantoche, que responde aos ditames da White House e não às demandas e necessidades da população brasileira, é o sonho da familícia Bolsonaro.
Eles idolatram Trump, usam bonézinhos Make America Great Again, e o próprio Seu Jair agiu frequentemente como soldado raso que presta continência diante da Star Spangled Banner e que adoraria ser a macaca de auditório de seu bilionário corrupto predileto, Donald Trump. Esta identificação afetuosa que parecia mover Seu Jair na direção de Donald tem decerto a ver com os vícios que ambos compartilham, a começar pelo vírus da supremacia branca, que ambos carregam como hospedeiros infectados a disseminar a peste.
O que a crise de saúde coletiva agora em curso, com o novo coronavírus, revelou mais explicitamente sobre o Bolsonarismo foi a extensão praticamente “incurável” da mitomania mortífera que move esta gente que, segundo o diagnóstico da psicanalista Maria Rita Kehl, tem todos os sintomas da psicopatia. Em entrevista à BBC, uma das maiores pensadoras da psicologia brasileira e ex-integrante da Comissão Nacional da Verdade apontou: “falta de empatia de Bolsonaro com mortes por covid-19 parece psicopatia.” [6]
Em palavras mais rudes, Jair Bolsonaro está doente de psicose – e seus crimes de irresponsabilidade em série revelam os desvelos de um serial killer. Porém o psicopata Jair está fazendo às claras o que outros psicopatas fazem às escuras, tentando esconder os rastros de seus crimes. Jair, às claras, enche o Ministério da Saúde com militares, após a queda dos Ministros Mandetta e Teich, e explicita que estará colocando sob controle do Estado a divulgação de informações sobre a pandemia no Brasil. O nobre Jair reivindica seu “direito presidencial” de mentir e omitir sobre a realidade da covid19 no Brasil, fabricando uma farsa onde aquilo que chama de “resfriadinho” não cause nenhum abalo a seu projeto autoritário-autocrático.
A isso se soma um horror suplementar: o Bolsonarismo delirante e relinchante acredita piamente que está envolvido em uma “guerra cultural”, e alia-se a Olavo de Carvalho formando uma espécie de Exército de Brancaleone, só que desta vez com muitas limusines e jetskis envolvidas na mobilidade dos “soldados do Bozo”. Nesta guerra cultural, eles querem aniquilar qualquer traço, qualquer rastro, realmente exterminar da face da Terra e enviar ao Nada eterno tudo o que tenha sido dito, feito, criado ou disseminado por entidades tais como: Paulo Freire; Marielle Franco; Che Guevara; Fidel Castro; Luiz Inácio Lula da Silva; Gramsci; Angela Davis; Jean Wyllys; etc. São todos declarados inimigos do Estado, e é preciso convocar um Rambo truculentaço feito Abraham Weintraub para entrar no MEC com um lança-chamas e reduzir a cinzas tudo o que tenha a ver com a Pedagogia do Oprimido, a História do MST, ou o Lulo-petismo…
O que os artistas satíricos brasileiros – dentre eles os talentosos Aroeira, Vitor Teixeira, André Dahmer, Laerte, Latuff, Ribs, Quinho etc. -, vem denunciando são estas similaridades sinistras entre Nazismo e Bolsonarismo. Nada mais sintomático disto do que o episódio lamentável envolvendo Abraham Vai Tarde, também conhecido como Abrãao Aí-vem-trauma, quando ele decidiu abandonar o MEC e fugir para Miami, com ajuda de Bolsonaro e burlando um decreto do governo dos EUA que proíbe a entrada de brasileiros naquele país. Antes de abandonar o Ministério da Educação, Weintraub desceu uma canetada extinguindo políticas de inclusão social (demasiado “petistas”…) que garantiam direitos de participação na pós-graduação às populações historicamente negligenciadas e espoliadas (povos quilombolas e afrodescendentes, aldeias indígenas, comunidades ribeirinhas, populações faveladas etc.).
Provalmente o Olavete Rambônico pense que isto seria o equivalente, em seu filme de ação interno, àquela cena em que o protagonista se sente acuado, rodeado por inimigos e pelos tiros que tentam alvejá-lo, e aí decide “cair atirando” – “se morrer, pelo menos mato uns 3 e levo os filhos-da-puta pro túmulo comigo.” Só uma “mentalidade Chuck Norris” movida com o combustível da destruição perversa para explicar tal medida. Ele, que tanto mandou a Esquerda ir pra Cuba, que tanto zoou a estudantada por só fazer balbúrdia, que tanto ofendeu professores e servidores públicos por seguirem fazendo surubas regadas a maconha plantada nos câmpus em rituais diabólicos de esquerdopatas orgiásticos (com dinheiro público, vejam se pode!), agora foi pra Miami para não virar réu no Brasil. Verdade, Ministro, vá mesmo pra Miami que ela tem bem mais a ver com você… Vaze e nos deixe em paz! Vai tarde… atendendo enfim à demanda de pressão cívica que maravilhosamente tomou o Brasil em Maio e Junho de 2019 no fenômeno de massas “educadas” (educadores e educandos, em posições inter-cambiáveis, juntos na vivência da resistência e da parturição de uma realidade alternativa!) que foi o Tsunami da Educação.
A “guerra cultural” deles manifesta-se, na prática, como um combate entre as mentiras maléficas organizadas em Sistema – chamarei isto de A Seita dos Mentirosos – e aqueles que ainda valorizam em suas vidas o conhecimento, a ciência, a lucidez, a fidelidade ao real – e chamarei isto de A Fraternidade dos Despertos. Antes que me acusem de maniqueísmo, já me apresso a dizer que não se trata de guerra entre o Bem e o Mal em um sentido binário: aqui, afirma-se, ao contrário, que o próprio binarismo é maléfico, a começar pelo delírio que acomete A Seita dos Mentirosos de racharem o mundo entre Nós vs Eles, Amigos contra Inimigos.
O Bolsonarismo é uma ideologia política toda calcada na rigidez de um binarismo insustentável: ao basear seu único combustível no ódio-à-alteridade, vai afundando na necropolítica do “governo pelo ódio” tão bem revelado pelo jornal Le Monde Diplomatique em edição histórica. E o ódio mente. Proliferam mentiras mortíferas em uma conjuntura onde o Outro não é visto como alguém-com-quem-posso-atar-um-diálogo (e quem sabe uma aliança, quem sabe uma amizade!). O ódio faz desejar o mal do outro, a sua aniquilação, o seu sofrimento: o ódio do supremacista branco faz com que ele desenvolva uma psicose perversa que o leva a gozar com o “espetáculo” de negros enforcados em árvores pela Ku Klux Klan.
Em um contexto como o de 2020, a desinformação mata. Se Bolsonaro for parar no banco dos reús por crimes contra a humanidade, teremos algo sem precedentes: um julgamento, em tribunal penal internacional, em que Haia pela primeira vez irá avaliar se é possível causar um morticínio em massa usando como principal ferramenta homicida as mentiras. A mentira de que era só um “resfriadinho” que não deveria preocupar ninguém com “histórico de atleta”, a mentira da Cloroquina Milagrosa que iria curar todo mundo como vara de condão, a mentira dos “leitos vazios” que a horda de Bolsominions foi instigada a filmar após invadir hospitais de campanha… Mentiras que matam, contadas ainda impunemente.
3. GOVERNANDO PELO ÓDIO: A COESÃO PELA MENTIRA
Já passou da hora de percebermos que fake news estão enraizadas nas políticas do ódio. Que as fake news tem menos a ver com jornalismo do que com propaganda fascista. E que só uma cidadania desperta e ativa, mobilizada contra os desmandos da Seita dos Mentirosos, poderá tornar eficaz a Fraternidade dos Despertos para que esta possa seguir seu trabalho de seguir interminavelmente despertando a outros seres humanos hoje cativos. Bolsonaristas, que constrõem sua união sectária com o cimento do ódio, não conseguem suportar, na Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire ou nas práticas agroecológicas e culturais do MST, que o “cimento humano” seja outro: o amor, o respeito à diversidade, o acolhimento do estranho, a disposição ao diálogo, características que fazem da Fraternidade dos Despertos um espaço onde o binário colapso em prol do coro da multiplicidade reunida.
O Bolsonarismo é avesso ao diálogo e esmagador das diferenças: como a Ditadura Nazista, a ideologia Bolsonarista manifesta este desejo de Império do Homogêneo, quer impor o ser humano macho e “modelo ariano” como o supra-sumo, o ideal, o sumo bem da Mankind… Isso é doentio, adoecedor.
Falando desde o viés da Filosofia, do “lugar de fala” do professor de filosofia atuando em instituição federal, devo dizer que a frustração cotidiana que sinto é imensa diante da força ultrajante da Seita dos Mentirosos, uma força que só pode se dever a uma credulidade a que milhões de mentes foram condicionadas. O desprezo pelo pensamento autônomo, o desdém pelo exercício soberano do intelecto, a fúria contra o sapere aude (ouse saber) dos iluministas, é uma marca destes que lucram com a estupidez: a Seita Bolsominion faz de tudo para conquistar a coesão pela mentira e pelo ódio alterofóbico. A Fraternidade dos Despertos quer abrir mentes que a Seita dos Mentirosos fechou no quadrado de seus dogmas estreitos. Queremos cidadania desperta e rebelde onde eles querem apáticos zumbis. Queremos cidadãos que ousam transformar a si e ao mundo, e não ovelhas que se resignam placidamente e caminham para o abatedouro só porque um líder assim o ordenou. Onde eles querem obediência cega, queremos lucidez irreverente. Onde eles querem o monótono coro da “família tradicional brasileira”, queremos todo o colorido e a cacofonia de amores mais livres e libertos, fora da jaula de tuas normas heterosexistas. Em entrevista recente, Rubens Casara falou sobre isso em bons termos:
“O fanatismo impede qualquer reflexão. Isso porque para o fanático só existem “certezas”. E a existência de dúvidas é fundamental ao desenvolvimento do pensamento e da crítica. Mesmo no campo religioso, a dúvida é fundamental à construção da ideia de fé, enquanto as certezas levam aos fundamentalismos que negam a alteridade. Pode-se dizer que as certezas são inimigas da ciência e do conhecimento. A ideologia, em sua concepção negativa, nubla a percepção da realidade, o que facilita o surgimento de fanatismos.”
RUBENS CASARA, 2020. [7]
https://www.facebook.com/blogacasadevidro/posts/4666399846719637
O que ainda resta por compreender a fundo é a “Psicologia de Massas do Neo-Fascismo na Era das Mídias Digitais”, uma espécie de trabalho de renovação de Wilhelm Reich que ainda está vastamente por fazer. Este escrito pretende contribuir para este canteiro de obras coletivo: compreender, para transformar, esta máquina de produzir mentiras mortíferas e de cimentar pelo ódio.
Para isto, é preciso compreender a psiquê em suas dinâmicas emocionais não como manifestação imediata de um caráter fixo e rígido, mas sim como uma espécie de barco navegando em vastas águas, por vezes turbulentas, em que sua potência-de-existir (conatus) é expandida ou retraída ao sabor dos encontros, dos contatos com outros. Nossa novidade histórica está na quantidade de encontros e contatos que temos uns com os outros através de dispositivos computacionais digitais, e não mais presencialmente. Para além disso, temos “contatos” com imagens de outros em profusão através de filmes, videogames, fonogramas etc. Para Bucci,
“Pessoas mal-intencionadas ainda faturm com a mentira travestida de jornalismo porque as regras dessa nova indústria digital permitem isso. Quanto maior o número de cliques, mais o autor arrecada. A mentira é fácil de produzir – é barata – e desperta o furor das audiências. Despertando emoções intensas nos internautas, mobiliza-os para propagar o malfeito. (…) As redes sociais acrescentaram à paisagem um pacote inédito de perversidades. As notícias hoje circulam segundo os ditames do entretenimento, orientadas por fontes pulsionais, sem as mediações da razão. Aí, as fraudulentas levam vantagem. (…) O que agrava é o problema é o isolamento do indivíduo dentro das bolhas. Na era das redes sociais, o sujeito se encontra encapsulado em multidões que o espelham e o reafirmam. São multidões de iguais, especulares, multidões de mesmos. Vêm daí as tais ‘bolhas’ das redes sociais, cujo traço definidor é a impermeabilidade ao dissenso. ” (BUCCI, op cit, p. 45) [8]
Sejamos, pois, permeáveis ao dissenso, abertos ao diálogo, mas não menos combativos contra as forças do obscurantismo que hoje infectam o espaço público com suas fétidas mentiras mortíferas. Hannah Arendt, a filósofa que cunhou o conceito de “banalidade do mal”, sabia bem que a política e a mentira estão em tenebrosas transações há milênios – sendo a pia fraus da República de Platão um dos melhores exemplos na antiguidade greco-romana. Esta “fraude pia”, que no livro platônico é defendida por Sócrates em sua apologia do reinado do “filósofo-rei”, segue existindo hoje, por exemplo, nas atitudes lamentáveis e nefastas de pastores do protestantismo neopentecostal que agem como mercadores de mentiras “pias”, condicionando as massas à credulidade cega, prenhe de catástrofes.
Queremos viver em uma sociedade onde tenham voz e vez, para participação efetiva na co-criação da realidade societal, todos os que foram até aqui silenciados, não levados em conta, chutados para escanteio. Queremos a liberdade de opinião e de imprensa, para que A Fraternidade dos Despertos e a Seita dos Mentirosos possam sim “digladiar” a olhos vistos, mas sobretudo queremos uma sociedade que valorize de verdade aqueles que dedicam seus esforços ao despertar das consciências, à libertação de todos em relação à servidão dos dogmas confinantes. O presifake psicopata Bolsonaro é prova viva da catástrofe que se segue ao empoderamento impune da mentira organizada. Na esfera pública transtornada e tirada de órbita pela proliferação de celulares conectados à Internet 24h por dia, nos quais circulam sem muitas restrições as propagandas fascistas, ainda é preciso afirmar em coro com Arendt: “A liberdade de opinião é uma farsa se a informação sobre os fatos não estiver garantida e se não forem os próprios fatos o objeto do debate.” [9]
4: OS ENGENHEIROS DO CAOS – Mark Twain dizia que “uma mentira é capaz de a volta ao mundo no mesmo tempo em que a verdade calça seus sapatos.” Era mentira aquele papo, que ouvimos na infância, da boca dos otimistas, de que “mentira tem perna curta”. O Brasil de 2020 é prova de que mentira tem eficácia, ou seja, que há predisposição massiva ao apego àquilo que o viés da lucidez enxerga como falso e equívoco. A mentira contemporânea, longe de estar reduzida a uma relativa impotência, ela viraliza. O aspecto mais perturbador do fenômeno das fake news talvez seja o fato de que a mentira faz mais sucesso que a verdade. A mentira tem mais chance de compartilhamentos e re-tweets. A mentira vem ganhando de lavada no jogo contra os verazes…
“Um recente estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) demonstrou que uma falsa informação tem, em média, 70% a mais de probabilidade de ser compartilhada na internet, pois ela é, geralmente, mais original que uma notícia verdadeira. Segundo os pesquisadores, nas redes sociais a verdade consome seis vezes mais tempo que uma fake news para atingir 1.500 pessoas.” (DE EMPOLI, p. 78)
Os casos estudados por De Empoli em Os Engenheiros do Caos revelam muito sobre a viralização do fake: Trump acusando Obama de não ter nascido nos EUA, por exemplo, revela a atitude deliberada do trumpismo de acusar deslealmente um adversário político, com calúnias que Mr. Donald sempre soube serem infundadas. Ele tacou pedra em Obama por esporte, ou melhor, para gozar com os aplausos de sua seita cibernética. No Brasil, a ascensão ao poder do Bolsonarismo também se explica pela utilização que a Direita fez da Internet, das mídias sociais, aproveitando-se da falta de marcos regulatórios do mercado midiático digital no Brasil:
“O Movimento Brasil Livre (MBL), uma organização fundada durante a campanha a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, dotado de uma poderosa produtora de vídeos para o YouTube que empregava jovens profissionais dedicados à luta contra o que consideram ‘a ditadura do politicamente correto’. Em outubro de 2018, um de seus membros mais ativos, Kim Kataguiri, foi eleito, aos 22 anos, o mais jovem deputado a integrar o Congresso Nacional.” (p. 82) [10]
Bolsonaro, um dos “engenheiros do caos”, é fruto das micaretas de coxinhas do MBL, financiado com Koch dollars; é fruto do filé mignon concedido pela Fiesp a todos que idolatraram o ídolo mais bizarro do contexto brasileiro de 2016, o Pato Amarelo; é fruto do Lava Jatismo que, tendo Mr. Moro à frente, inspirou-se na “Operação Mãos Limpas” italiana, que empoderou figuras atrozes como Berlusconi e Salvini, para praticar a perseguição judicial contra o lulopetismo que gorou qualquer legitimidade das eleições de 2018: dois anos após a “demissão” de Dilma a partir do bunker de um Congresso Nacional dominado pela escória escravocrata e elitista de Bolsonaros e Aécios, o povo brasileiro descobria que certa fração do Judiciário havia decidido cassar o direito da população em votar no candidato Lula, franco favorito a vencer o pleito. Aprisionado às pressas, em ano eleitoral, Lula assistiu de dentro da Bastilha de Curitiba ao triunfo do presifake que, ainda na metade de seu mandato, revelaria toda a extensão de sua psicopatia genocida em meio à crise do coronavírus.
Não é à toa que 2018 representa uma enxurrada nova de Bolsonarismo, PSL e MBL tentando forçar sua entrada no seio do poder institucional – são forças do fake que parecem se orgulhar, quase com ostentação, do que devem considerar como sagaz Maquiavelismo. Política não se faz com bons sentimentos, e “direitos humanos são só pra humanos direitos”! O MBL, sabe muito bem quem foi atrás de pesquisar, cometeu inúmeros crimes de desinformação em massa em sua trajetória de headquarters dos liberais Yankeefílicos do Brasil. O próprio processo preparatório do impeachment contra Dilma, que começou a ser conspirado desde a derrota de Aécio Neves nas urnas em 2014, envolveu todo um massacre midiático imposto ao segundo mandato de Dilma Rousseff – que terminara seu primeiro mandato com o Brasil em situação econômico de pleno emprego, e tendo dado importantes passos na direção do Direito à Memória e à Verdade com a criação da CNV.
Quem diria que as redes sociais poderiam esconder a potencialidade de auxiliar a “criar o clima que tornou possível a eleição de um ex-militar de extrema-direita, ele mesmo muito popular nas redes sociais, à presidência da república. O vídeo dos apoiadores de Jair Bolsonaro, reunidos em Brasília no dia de sua posse, que gritavam alegremente os nomes do Facebook e do YouTube, rodou o mundo…” [11] (DA EMPOLI, p. 82)
A tecnologia que invadiu tão profundamente as vidas humanas a ponto de termos hoje mais de 5 bilhões de celulares no mundo todo também revelou a extensão do obscurantismo e da cegueira ignorante – ainda tão reinantes. Ao invés de utilizar os celulares em prol de sua libertação, muitas pessoas deixam com que estes pequenos aparelhos eletrônicos torne-se o senhor de suas vidas, o tirano de sua servidões. Não falo apenas no vício que leva à condição cada vez mais widespread de pessoas de comportamento compulsivo diante de telas de smartphones que são tocadas em média pelos dedos das pessoas mais de 2.700 vezes ao dia. Falo também da ignorância em que muitos vivem em relação à grande quantidade de dados gerada por nosso “surfe” na Internet – navegamos, neste mar informacional, deixando muitas pegadas, e esta Big Data das pegadas reunidas dos internautas é que agora está conseguindo empoderamentos perigosos.
No livro, que tem por subtítulo Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições, Giuliano Da Empoli encontrou uma expressão perfeita para apelidar os celulares: gaiolas de bolso. “Hoje, cada um de nós se desloca voluntariamente com sua própria gaiola de bolso, um instrumento que nos torna rastreáveis e mobilizáveis a todo momento.” (p. 145) É este o contexto que está por trás da emergência dos populistas de direita, normalmente homens brancos e ricos, obcecados pela fama e cheios de uma irrefreável ganância, como Trump (eleito com auxílio de Bannon, Breitbart e Cambridge Analytica) ou como Jair Bolsonaro (o “coração de pedra”, como o apelidou Juan Arias do El País, denunciado no próprio processo eleitoral por crimes envolvendo desinformação em massa, paga por capital empresarial não declarado à Justiça Eleitoral, como revelou Patrícia Campos Mello na Folha).
5: TROLLANDO JORNALISTAS – BOLSOMINIONS vs PATRÍCIA CAMPOS MELLO E BIANCA SANTANA
Este é um caso dos mais emblemáticos de todo o contexto caótico que atravessamos: a mulher que “virou vidraça depois de denunciar o uso de disparos automáticos via WhatsApp em uma campanha de desinformação promovida por simpatizantes do então candidato Jair Bolsonaro nas eleições de 2018”, escreve Mariana Barbosa (p. 109). Para tornar-se alvo da fúria trolladora dos Bolsominions, Patrícia Campos Mello não fez nada além de cumprir com seu serviço, fazer o que é devido por ofício ao jornalista: desvelar os fatos, assinalar um evento, denunciar um mal-feito, fiscalizar os poderes. Ora, para lembrar da canção de Chico Buarque, a seita Bolsonarista quis tratar Patrícia como Geni, “taca pedra na Geni, taca bosta na Geni, ela gosta de apanhar, ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um, maldita Geni!”
A odienta insanidade do Bolsonarismo trollador, que é também marcante no MBL, que é pulsante também no Tucanato (PSDB), manifesta-se na paranóia anti-comunista e na fúria sectária movida contra os “petralhas”, a começar pelo “Luladrão”. É inédito no Brasil que uma autoridade política, como Bolsonaro, instigue em seus sectários a atitude de troll – o que atinge neste caso um ápice. Ora, a jornalista Patrícia descobre um “furo” jornalístico, o #Caixa2doBolsonaro viraliza nas redes, e ao invés de reconhecer os fatos que o jornalismo profissional trouxe à tona, os enfurecidos Bolsominions saem à caça contra a bruxa, querendo queimá-la, promovendo linchamentos virtuais, trucidando em tweets a Folha De São Paulo etc.
Em qualquer contexto razoável, a maioria da sociedade comemoraria o ato louvável e corajoso da jornalista que nos alerta com a verdade salutar que nos permite, a bom tempo, punir a chapa criminosa (caso isso tivesse ocorrido, hoje teríamos Haddad e Manu no lugar ocupado pelo miliciano genocida e seu general). Mas poucos entre as massas manobradas por Bolsonaro quiseram saber de reconhecer as virtudes cívicas e éticas manifestadas pelas atitudes de Patricia Campos Mello. Afinal de contas, seu magistral trabalho de jornalismo investigativo culminava com a revelação de fraude eleitoral da chapa Bolsonaro – Mourão, e os eleitores do “Mito” queriam permanecer apegados a seu delinquente de estimação, preferindo soltar os cães raivosos contra Patrícia. Ela mesma confessa o que viveu:
“Eu tinha telhado de vidro: logo que saiu a matéria, o perfil @marqueteirosdojair viralizou o vídeo em que eu falo que votei no PT. Com as legendas mais escrotas, me chamando de vagabunda, comunista, filha da puta. Até determinado ponto, é do jogo. Eu tinha 2 mil seguidores no Twitter, passei para 30 mil, sendo que 28 mil eram haters bolsominions me destruindo, falando coisas horrorosas. Mas aí começaram a mandar mensagens privadas ameaçadoras no Facebook, do tipo: ‘Se você quer a segurança do seu filho de seis anos, saia do país.’ (…) Hackearam meu WhatsApp, que passou a disparar mensagens pró-Bolsonaro para os meus contatos. Comecei a receber ligações de pessoas que me xingavam de vagabunda e desligavam. A gota d’água foi quando comecei a ver postagens falando que ‘a jornalista petista irá mediar um evento, no lugar tal, dia tal. Vão lá confrontá-la.” [12]
Já é bem conhecido todo o desapreço que Seu Jair nutre pela liberdade de imprensa. Se pudesse, o “projetinho de Hitler tropical” (como o apelidou o jornalista Mário Magalhães) colocaria a censura de novo em vigência no país. Impediria que se noticiasse a verdade sobre as infecções e os óbitos da covid19. Espalharia mordaças pelas redações do Brasil, instituindo um novo AI que instituísse: “só pode publicar quem for me elogiar!”
Depois de ter instigado o ódio de sua seita de fanáticos contra Patrícia Campos Mello, autora da série bombástica de reportagens sobre a fraude eleitoral da chapa Bozo-Mourão (#Caixa2doBolsonaro), publicadas na Folha de S.Paulo durante o período eleitoral de 2018, o presifake agora avança sobre Bianca Santana, acusando-a de disseminar fake news! Ora, Jair Bolsonaro acusar alguém de espalhar notícias falsas é algo bastante bizarro, considerando que este senhor só está no cargo que atualmente ocupa, e para o qual nunca esteve à altura, por força das mentiras que sua campanha contou e espalhou com a grana de seus cúmplices-no-crime no empresariado-Bolsominion.
A fúria Bolsonarista se deve ao fato de que o maior portal do Brasil, o UOL, publicou uma importante matéria de Bianca Santana em que ela questionava: “Por que querem federalizar as investigações do assassinato de Marielle Franco?” Ora, respondia Bianca, “minha hipótese para a pergunta acima é de que o Presidente da República Jair Bolsonaro quer se aproveitar do cargo que ocupa para proteger os mandantes do crime. E a hipótese ganha ainda mais força se observarmos as relações da família Bolsonaro com os assassinos de Marielle e Anderson. (…) Deixar a investigação sob o comando direto de Bolsonaro, pela PF em Brasília, significa aceitar a manipulação do caso.” [13]
O povo brasileiro tem o direito à verdade sobre os vínculos da família Bolsonaro com as milícias homicidas. E jornalistas tem o direito de questionar as autoridades públicas sobre a condução das investigações sobre a execução política da vereadora do PSOL/RJ. No The Guardian, Bianca Santana – mulher negra que denuncia o quanto, no Brasil, o racismo estrutural impede a população afrobrasileira de respirar – ganhou o direito de se explicar perante a opinião pública global:
REFERÊNCIAS
[1] [2] [3] PAIVA, Vitor. Pega na mentira: 8 fake news que mudaram o curso da história antes da era Trump. Em: Hypeness, 2018.
[4] COSTA, Iná Camargo. Dialética do Marxismo Cultural. Expressão Popular, 2020.
[5] BUCCI, Eugênio. Em: Pós-Verdade e Fake news. Ed. Cobogó, 2019. org: BARBOSA, Mariana.
[6] KEHL, Maria Rita. Entrevista à BBC, 2020.
[7] CASARA, Rubens. Entrevista à Revista Esquinas – Casper Líbero, 2020.
[8] BUCCI, op cit.
[9] ARENDT, Hannah. “Verdade e Política”. Em: Entre o Passado e o Futuro. Ed. Perspectiva.
[10] [11] DA EMPOLI, Giuliano. Os Engenheiros do Caos. Ed. Vestígio, São Paulo, 2020.
[12] MELLO, Patricia Campos. “Denúncia de Fake News rende ataques – e prêmios – a jornalista”. Entrevista concedida a Mariana Barbosa. Em: Pós-Verdade e Fake news. Ed. Cobogó, 2019, p.109.
[13] SANTANA, Bianca. “Por que querem federalizar as investigações do assassinato de Marielle?”. UOL, 26/05/2020.
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CONVITE
Publicado em: 20/07/20
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
Há meses, trivializou-se a locução “fake news”, que os media empregam para nomear a divulgação maciça e deliberadamente manipulada de informações falsas, engendradas intencionalmente com fins políticos.
“Fake” é adjetivo de coisa: objeto contrafeito, falsificado, imitado; é adjetivo de pessoa: impostor, charlatão; é verbo: contrafazer, falsificar, forjar. Assim, “fake news” é traduzível (em sentido literal) por “notícias contrafeitas”.
“False” é adjetivo de pessoa: indivíduo falso, dissimulado, fingido, e de coisa: objeto falso, de fantasia, imitante o verdadeiro, contrafeito.
Em inglês, “fake” e “falso” equivalem-se.
A notícia apenas falsa corresponde à mentira (com dolo ou sem ele, esteja-lhe o autor cônscio de que partilha conteúdo falso ou não); a “fake new” corresponde à mentira congeminada intencionalmente, de cujo teor se cogitou, que se maquinou com vistas a induzir a opinião pública em dado sentido, a formar corrente de opinião conveniente aos interesses de seu mentor; ela constitui desinformação difundida em grande escala, para multidões, destinada à massa: é desinformação maciça ou simplesmente desinformação (“fake new” na acepção em que corre tal locução).
Vladimir Volkoff define desinformação como manipulação da opinião pública para fins políticos graças a informação trabalhada por processos ocultos. Ela I) é aplicada não a pessoas individualmente visadas mas à generalidade do público, ao grande número; II) sua destinação é política, ela exerce-se no âmbito das disputas de grupos que almejam o poder político, nele permanecer e dele alijar seus êmulos; III) faz-se com informações, com dados que se cria deliberadamente, como produtos da análise das circunstâncias presentes e das reações que se deseja surtir; IV) é engenhada às ocultas, sigilosamente, sem que se possa facilmente identificar-lhe os mentores.
A desinformação é diferente da propaganda, da publicidade, da intoxicação. Todas comunicam conteúdos, mas:
a) a propaganda não se volta necessariamente ao grande público e caracteriza-se por ser confessada, explícita, reconhecível como tal. Louve ou denigra objeto, pessoa, nação, ocorrência, instituição, seu intuito é precisamente o de louvar ou denegrir, sem mais intenções. Por exemplo: “a homofobia é censurável pois causa sofrimento injusto”, “fulano merece nossas homenagens”.
b) a publicidade aplica-se ao grande público e visa a promover pessoa, objeto, produto, mercadoria, para granjear em seu favor a preferência de fregueses, compradores, tomadores de serviços, mais por sedução do que por persuasão. Ela menos argumenta do que associa seu objeto a outros, potencialmente atraentes. Por exemplo: “Os brinquedos Estrela brilham no céu de seus filhos”; “Ler livros de Harry Potter resolve seus problemas em um passe de mágica”.
c) a intoxicação consiste na propinação de informações falsas a destinatários específicos para levá-los a tomar decisões erradas, favoráveis ao intoxicador. Por exemplo: o espião propicia ao inimigo militar dado falso para que o respectivo chefe adote estratégia que lhe seja inútil.
As notícias contrafeitas, tal como a elas se refere a locução “fake news”, correspondem a informações engendradas criteriosa e sigilosamente para despertar correntes de opinião em matéria política: elas coadunam-se com o conceito de desinformação. As mal chamadas “fake news” são desinformação. Em lugar de referirmo-nos à investigação das “fake news”, referir-nos-emos melhor à investigação da desinformação; em vez de dizermos que fulano foi acusado de propalar “fake news”, diremos que o foi de propalar desinformação.
O vocábulo “desinformação” é usável coloquialmente, bem assim no meio jurídico e noticioso. Jornalistas, comentadores, juristas, populares, podem servir-se dele em lugar de “fake news”, que substitui à perfeição. Erradiquemos tal locução; empreguemos, sempre e orgulhosamente, o vernáculo “desinformação”.
A nomenclatura dos crimes exige esmiuçamento: “prevaricação”, “concussão”, tráfico” e os demais seus nomes são palavras cuja compreensão depende de definição, que por sua vez contém elementos técnicos de direito penal. O nome do crime identifica dado comportamento e resume os elementos que a respectiva definição e a doutrina explicitam; por isso, ao chamar-se as notícias de desinformadoras e ao referir-se à desinformação, a definição do crime ou o exame do jurista conterá os elementos de falsidade intencional, de propagação maciça, de dolo, de sigilo na sua produção, de afã de influir na opinião pública.
Se inexistisse o vocábulo desinformação, poder-se-ia substituir aquela expressão por tradução, sucedâneo ou neologismo (demais, qualquer estrangeirismo é substituível por qualquer uma dessas formas): como tradução dir-se-ia, por exemplo, “notícias fabricadas”; como sucedâneo dir-se-ia, por exemplo anti-verdades ou contra-verdades; como neologismo dir-se-ia, por exemplo, pseudança (pseudo + ança). Dir-se-ia e podemos assim dizer.
Desinformação maciça, desinformação, notícias fabricadas, anti-verdades, contra-verdades, pseudança, dentre outras conceptíveis, são seis formas aptas a inculcar em vernáculo o que com estrangeirismo dispensável a carência de espírito vernacular de uns e a abundância de espírito de mimese dos demais pôs em circulação.
Como qualquer inovação terminológica, bastou o uso da expressão “fake news” para que, sem necessidade de explicações semânticas, rapidamente as pessoas compreendessem-lhe o significado, após alguma estranheza e dúvida iniciais. Da mesma forma, sem carecerem de elucidações léxicas, depressa as pessoas atinarão no sentido dessas alternativas: basta empregar qualquer uma delas no contexto correto.
Anos atrás, leram em inglês “impact” e fabricaram impacto e impactar, não no sentido legítimo, em português, de colisão, choque, embate violento de massas sólidas e sim no de efeito, conseqüência.
Atente em que “impacto” no sentido de efeito não integra o português legítimo: é estrangeirismo (anglicismo). Atente em que impactar no sentido de produzir efeito não pertence ao português puro: é estrangeirismo (anglicismo).
Bem traduzir não é imitar, não é decalcar, não é ler “impact” (na acepção de efeito) e verter por “impacto” e sim ler “impact” (na acepção de efeito) e verter por efeito, conseqüência, influência, consectário; é ler “to impact” e verter por afetar, interferir em, entender com, dizer respeito a, prejudicar, lesar, beneficiar, favorecer e sem-número de verbos consoante o contexto.
Diremos, pois: “Os efeitos da pandemia na economia”, “As conseqüências da crise política”, “Como o vírus afeta seu corpo”.
“Impacto” e “impactar” são exotismos desnecessários, cafonas e que já enjoaram. Público em geral e diários desdenham de usar sete e mais palavras vernáculas que os substituem com vantagem da variedade e da precisão.
Também leram, em inglês, “to shock” e fabricaram “chocar” (“Estou chocado”, “Fiquei chocado”). Chocar é a galinha que choca o ovo. Traduzir com qualidade consiste em ler “to schock” e verter por pasmar, abismar, espantar, perplexar, surpreender, impressionar, estarrecer, siderar.
Isto de “impacto”, “impactar” e “chocado” é mau português e monótono; “fake news” sequer português é. Nosso rico e belo idioma têm inúmeras palavras genuínas, que nos dispensam desses estrangeirismos. Público em geral e gazetas em especial, se querem comunicar-se com qualidade, devem evitá-los e procurar, sempre, boas soluções vernaculares.
Qualquer peregrinismo elimina vários vernacularismos ou, quando menos, o equivalente vernacular, se um somente houver. Nunca os estrangeirismos enriquecem o idioma quando ele já dispõe da palavra equivalente; eles não se somam aos vocábulos do próprio português, mas substituem-nos e com isso estreitam nossa variedade de comunicação, nossa beleza estética, nossa pureza idiomática e nossa capacidade de pensarmos e nos comunicarmos com rigor e exatidão. A cada vez em que se aceita estrangeirismo rival de palavra (ou mais de uma) em português, nosso vocabulário mingua. Quem já sabe que “detalhe” (do francês “detail”) é galicismo que excluiu pormenor, minúcia, minudência ? Quem já sabe que o galicismo “envelope” erradicou sobrecarta e sobrescrito ? Quem diz o horrível “caubói” já desaprendeu vaqueiro, pegureiro, boieiro. A francesia “elite” proscreveu escol, nata, fina-flor. Quatro francesias aniquilaram onze palavras. O mesmo se passa com as importações do inglês.
Leram “task force”, que traduziram por “força-tarefa”, o que é despautério. O equivalente vernacular das palavras e locuções decorre de sua tradução literal, de sua tradução aproximada ou de neologismo. A tradução literal deve fazer sentido em português, o que não é o caso de “força-tarefa”, perfeitamente substituível por junta de trabalho, junta de ação, junta de atividade, grupo de trabalho, grupo de ação, grupo de atividade, junta ou comissão. Quem por primeiro decalcou “task force” em “força tarefa” traduziu mecanicamente, palavra por palavra, o que leu em inglês, sem procurar termo vernacular equivalente. Ter-lhe-ia sido facílimo encontrar “comissão”. É o mesmo caso das construções do inglês “procurar por”, “buscar por”, “pesquisar por”, erradíssimas em português.
A feíssima palavra “brainstorm” deve ser repelida em favor de, por exemplo, sessão de atenção, reunião de inteligência, jornada de soluções, esforço teórico. Já prescreveu (e ainda bem) “email”, substituída por mensagem eletrônica ou apenas mensagem. “Pen drive” traduz-se literalmente por “caneta dirigir” ou “dirigir caneta”, o que manifestamente nos é absurdo. Por que não “mini-arquivo” ou “mini-memória” ?
Todo estrangeirismo é suscetível de substituição por equivalente vernacular. Traduza literalmente se fizer sentido; introduza neologismo com afixos e raízes gregos, latinos e vernaculares, e consoante a morfologia vernacular (consulte gramáticas); aportuguese (esqueite, esfirra, pitsa); repila sempre os estrangeirismos: assim proceder integra a educação da pessoa e a sabedoria em idioma.
Louvo o proceder dos portugueses e sirva-nos ele de exemplo: traduzem ou adaptam quase tudo às formas do vernáculo. Lá surgiu “teletrabalho” no início do confinamento na atual pandemia. Também lá, há décadas, grafa-se equipA e controlO, aportuguesamentos corretíssimos do francês “equipe” e “controle”. Também lá até as crianças usam mesóclise, tu, nós, vós, e todos três corretamente conjugados.
Ah! A próxima onda é a seguinte: Com a “Copa das Copas” do PT, no lugar se se construir hospitais, construi-se prédios inúteis.
PT super profissional. Não deixa marcas. Tem a manha de saber bem e de maneira não amadora roubar.
E culturalmente o PT:
Globo é exatamente igual ao PT. A Globo faz exatamente o estilo cultural que o PT sempre venera a adora, a saber: O estilo Kitsch.
O PT é Kitsch. A Globo é Kitsch. O PT adora “artistas” barangos. Baixa-cultura.
O PT odeia a alta cultura. Se escamba sempre para a baixa cultura. O PT nivela tudo por baixo! Sobretudo a educação básica. E a arte. Idem a cultura — o PT adora um oba-oba.
Bom…, o PT “se acha”…
lula é pior, pois se trata de um narcisista apedeuta contumaz.
Mas o PT é Kitsch. O pior partido de toda América. Acabou aquela baranguice enorme de “PÁTRIA EDUCADORA”. [Eta frasezinha de João o Milionário Santana, slogan, bregona. E falsa]. Além de ser picareta e vigarista. Muito pior que mentiras ou “fake news”…
Nunca vi partido mais bregaço, mais Kitsch, mais cafonérrimo, mais bregão que o PT. Há muito partido ruim no Brasil, mas de todos o PT é o pior.
E a estética Petista, hein? O estilo petista de ser? Cujo gosto musical — sertanejo universitário — é apenas lixo e o tipo de música fraca e curta que gostam de produzir e de ouvir e que se faz hoje em dia (estética petista).
o PT é um lixão grosseiro em relação a cultura e a educação: totalmente descartável, os projetos bregas petistas. O PT tem um mau gosto enorme. É Kitsch. O PT é barango, nivela tudo por baixo. Sobretudo a educação das curuminhas e dos curumins.
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia
Arthur Virmond de Lacerda Neto
Comentou em 08/07/20