Ao raiar de 2023, na Esplanada de Brasília agora o Ministério do Meio Ambiente (MAA) também se chama “…e Mudança do Clima” e divide o espaço com o fênix do MinC. As ministras Marina Silva e Margareth Menezes, acompanhadas pela primeira-dama Janja, comandaram o <rito de inauguração> deste que já é um dos símbolos mais expressivos da virada de chave trazida pelo novo governo (vulgo Lula 3).
Logo após a vitória nas urnas em Outubro de 2022, a ida do presidente eleito para seu terceiro mandato até a COP27 da ONU, sediada no Egito, já sinalizava para uma re-emergência do Brasil no cenário internacional como jogador crucial no tabuleiro da crise climática que a todos nós afeta (e que não cessa de se exacerbar e se tornar mais grave):
– Este convite, feito a um presidente recém-eleito antes mesmo de sua posse, é o reconhecimento de que o mundo tem pressa de ver o Brasil participando novamente das discussões sobre o futuro do planeta e de todos os seres que nele habitam. – discursou Lula da Silva na COP. – Vivemos um momento de crises múltiplas – crescentes tensões geopolíticas, a volta do risco da guerra nuclear, crise de abastecimento de alimentos e energia, erosão da biodiversidade, aumento intolerável das desigualdades. (…) É preciso tornar disponíveis recursos para que os países em desenvolvimento, em especial os mais pobres, possam enfrentar as consequências de um problema criado em grande medida pelos países mais ricos, mas que atinge de maneira desproporcional os mais vulneráveis. (LEIA O DISCURSO NA ÍNTEGRA)
O novo frontispício dos ministérios confluentes – MMA e MinC – torna explícito aos cidadãos o compromisso de que a catástrofe ecológica é levada a sério pelo governo do país e não é desvinculada da conjuntura cultural em sentido amplo. Lula 3 recupera pois a sabedoria de Gilberto Gil e seu conceito de “cultura em sentido ampliado” – as tarefas da própria produção cultural não são mais legitimamente separáveis ou apartáveis do destino da biosfera, hoje ameaçado pelo colapso da biodiversidade conhecido nos meios científicos como Sexta Extinção. Ou seja, o Brasil de 2023 volta a ser vanguarda no palco mundial nas políticas públicas destinadas a cuidar do aquecimento global, frear o desmatamento e reverter o colapso da biodiversidade.
Ao institucionalizar um conceito desses – meio ambiente, clima, cultura, jamais desunidos, sempre em colaboração e confluência – e ao dar concretude a isto no prédio público, o regime Lula 3 mostra aos brasileiros e ao mundo seu compromisso com as urgências de nosso tempo. Como ápice da jogada de mestre de Lula em seu início de presidência, surgiu a proposta de que a próxima COP seja na Amazônia – o que nos daria a oportunidade história de transformar esta hipotética COP amazônica em algo tão relevante (ou mais) quanto foi a <Eco Rio 92 (Cúpula da Terra)>, desde que saibamos mobilizar para ela uma ampla gama de movimentos sociais em prol da justiça ambiental que não se limitem a se ocupar do evento em si, mas tomem as ruas e as redes. A Amazônia tem que virar o jogo, ou a vida no planeta, inclusive a humana, se desertificará tanto quanto a maior floresta tropical do planeta se savanizará, para desgraça de todes, ainda que sem distribuição equânime da desgraça (nem dela!).
Além desta proposta oportuna de trazer o epicentro do debate sobre aquecimento global para a “Amazônia centro do mundo”, para falar a língua de Sumaúma, o novo governo também avança no campo da agroecologia e do combate à fome com o renascido P.A.A. – que vem remediar a situação legada pelo desgoverno genocida do bolsonarismo, culpado de gerar uma crise humanitária que vitimava 33 milhões de brasileiros com a fome ao fim de sua cataclísmica gestão (que causou também umas 400.000 mortes evitáveis de covid19):
O grito de sem anistia! também deve levar em consideração que os crimes de Jair Bolsonaro e seus cúmplices também incluem o ecocídio – ou seja, não é possível separar a hecatombe produzida pela extrema-direita amiguinha de garimpeiros ilegais em território yanomami de uma concepção de mundo mais ampla que eles encarnam: ultra-capitalista, extrativista, imediatista, estupradora da terra, violentamente máscula em sua ânsia de domínio e enriquecimento, ambos avessos a quaisquer freios éticos ou considerações pelo bem comum ou pelo bem-viver de futuras gerações.
Dinamite Pura expõe as entranhas do criminoso ecocídio genocida que o bolsonarismo praticou, “passando boiadas” e garimpos sobre as carcaças dos sacrificados. Leia já: Relatório completo sobre uma das facetas mais sórdidas do desgoverno genocida:
Dinamite Pura: como a política mineral do governo Bolsonaro armou uma bomba climática e anti-indígena. Saiba mais: https://www.sinaldefumaca.com/especiais/dinamite-pura/
Caco Galhardo na Piauí
Os próximos 10 anos são determinantes para o futuro da biosfera – como argumenta Luiz Marques em seu novo livro. “O alarmante estado da humanidade, em sua marcha insensata em direção ao abismo, é retratado nesta obra com um discurso irretorquível, potente, inescapável. Com sua narrativa accessível e com um menu impressionante de soluções, deve tornar-se leitura obrigatória para quem quiser ter qualquer relevância nas campanhas de resgate que virão ainda neste decênio.” — Antonio Donato Nobre, na Apresentação de O Decênio Decisivo, Ed. Elefante.
LEIA ENTREVISTA COM LUIZ MARQUES
Vale frisar que saiu o novo relatório do IPCC da ONU e continuamos na rota para a catástrofe: “A temperatura da Terra já subiu 1,1° C em relação à era pré-industrial. Em 2015, os líderes mundiais concordaram, após intensas negociações em Paris, em limitar o aquecimento global a uma meta comum de, idealmente, 1,5° C. Até agora, nenhuma das grandes nações globais está dentro do calendário previsto para cumprir este objetivo”, lê-se em Opera Mundi. “A janela de oportunidade para atingir esses objetivos está se fechando rapidamente, afirmam os cientistas. Até 2030, a comunidade global precisa reduzir a quase a metade suas emissões resultantes da queima de carvão, petróleo e gás, ou então enfrentar um aquecimento global de cerca de 3° C.” >>> https://operamundi.uol.com.br/meio-ambiente/79686/clima-global-depende-de-acoes-urgentes-apela-ipcc
A ideia de “decênio decisivo” consiste na consideração de que nossa omissão ou inação nos próximos 10 anos, ou seja, a continuidade do business as usual, traria consequências catastróficas para toda a teia da vida nos próximos milhares e milhares de anos. Há uma “janela de oportunidade” que está se fechando, um kairós que se estreita, enquanto vão diminuindo nossas chances de escapar de sermos os sinistros assassinos em massa da biodiodiversidade e de legarmos aos viventes vindouros uma Terra com 3 graus Celsius de incremento de temperatura. Como destaca esta matéria da Wired, o IPCC alerta que estamos fracassando em cumprir os Acordos de Paris e que o tempo para mudar de rota está cada vez mais escasso:
WIRED – “There is a rapidly closing window of opportunity to secure a liveable and sustainable future for all,” the IPCC report notes. “The choices and actions implemented in this decade will have impacts now and for thousands of years.”
The more warming occurs, the harder it will be to mitigate it—to preserve human health, agriculture, and the natural world. Some effects, like the collapse of ecosystems, will be irreversible. “The Synthesis Report underlines how important it is to not only accelerate climate action, but to do it in a way that helps everyone in the world, not just those in the wealthiest countries and regions,” said report coauthor Christopher Trisos, director of the Climate Risk Lab at the African Climate and Development Initiative, in a statement.
The science of climate change is “unequivocal,” the report stresses: We’ve already warmed the planet by 1.1 degrees Celsius above pre-industrial levels—spawning fiercer wildfires, heat waves, droughts, and storms, which are killing people and destabilizing ecosystems. But just how much the planet will keep warming, and how quickly, depends on a full deck of wild cards, such as future economic development and poorly understood feedback loops like permafrost thawing and carbon release. Scientists also don’t have a good handle on the global influence of the aerosols produced by burning fossil fuels, which tend to cool the atmosphere—if we decarbonize (and we must), we might actually lose some of that air conditioning.
Still, it’s becoming increasingly clear that we’re going to blow past the Paris Agreement’s goal of limiting warming to 1.5 degrees. To avoid that fate, we’d have to cut emissions in half by 2030…” https://www.wired.com/story/the-climate-report-that-foretells-humanitys-future/
Sobre o tema, recomendo ainda o podcast da Piauí, Foro de Teresina, falando coisas interessantes sobre a questão que não quer calar: a Humanidade é o novo asteóide?
Aqui n’A Casa de Vidro, também já publicamos sobre temas conexos:
Crítica cinematográfica no site d’ A Casa de Vidro: relembrando “Wall-E” e especulando sua relevância atual, 15 anos após seu lançamento. Acesse o hipertexto multimídia: www.acasadevidro.com/wall-e/
Eduardo Carli de Moraes, Goiânia 4-4-23
Publicado em: 05/04/23
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia