É plenamente possível – como a obra de Konder, de Bensaïd ou de Kosík provam – abordar o marxismo de maneira fecunda, sem qualquer dogmatismo, não fazendo da doutrina um sinônimo de catecismo ou uma verdade absoluta: ao invés de ser a proclamação de verdades indiscutíveis, o legado marxista pode nos convidar ao salutar exercício crítico permanente, na dialética entre a denúncia e o anúncio de que fala Paulo Freire.
Visto deste viés, o marxismo é uma ferramenta de muito valor para uma autêntica “leitura do mundo”, atenta à totalidade e capaz de enxergar os links entre o econômico, o político, o cultural, de modo que, como o filósofo francês Jacques Derrida, será sempre “um erro não ler Marx” – pois então perderíamos a chance de ler corretamente a realidade, que sua obra desvela e revela em toda a sua complexidade.
O real, porém, não está aí apenas para ser “lido”, mas sim para ser refeito, transformado, revolucionado! É o que diz Marx em uma das mais célebres das Teses Contra Feuerbach: não devemos jamais nos limitar a ler e interpretar o mundo, já que isto é apenas a pré-condição para a tarefa da transformação emancipatória do mesmo.
Na obra de um pensador como Leandro Konder (1936 – 2014), tenho descoberto um excelente exemplo na intelectualidade brasileira de um marxismo exercido com graça e brilhantismo, sem apego a dogmas, despreocupado com os juízes da ortodoxia que, com seus “marxímetros” em mãos, pretendem bater o martelo sobre as manifestações autênticas ou deturpadas daqueles que seguem as pegadas de Marx. Os artigos breves reunidos no livro O marxismo na batalha das ideias (Ed. Expressão Popular) revelam um autor muito culto, de texto sagaz e cheio de vida, exercitando uma escrita que jamais esquece que a crítica realmente frutífera não pode jamais esquecer do processo permanente de auto-crítica.
O “espírito auto-crítico” que Konder reivindica está presente em algumas das figuras mais importantes que integram o vasto campo do pensamento marxista – como Engels, Gramsci, W. Benjamin, Paulo Freire, dentre tantos outros. O próprio Marx jamais foi um proclamador de peremptórios dogmas a serem aceitos por leitores-cordeiros ou por ativistas-obedientes, e chegou mesmo a declarar que, “se tivesse de adotar um lema, seria a frase latina que recomendava duvidar de tudo: de omnia dubitandum.” (KONDER, op cit, p. 57)
Só através do autoquestionamento radical é que podemos superar tudo o que há de conservadorismo, preconceito de classe, estreiteza de visão e apego identitário irracional em nossas próprias interioridades. Autocrítica, no entanto, é diferente de autodepreciação: Konder não está jamais sugerindo que o sujeito se torture com o cilício, que se recuse a reconhecer seu devido valor, numa mortificação-de-si bem ao gosto do ideal ascético tão fustigado por Nietzsche. Poderíamos até mesmo aproveitar o modelo de Aristóteles na Ética a Nicômaco e dizer que a virtude, no que diz respeito ao amor-próprio, não está nem na arrogância narcísica (vício por excesso) nem na auto-humilhação de quem só sabe fustigar seu próprio self (vício por escassez), mas sim na lúcida apreciação de si e no apreço justo do próprio eu:
“O apreço por si mesmo é importante para todo ser humano: se não gostar de si mesma, nenhuma pessoa conseguirá gostar saudavelmente de outra; se não acreditar de fato em suas convicções, não conseguirá comunicá-las a outras pessoas, não conseguirá intervir no mundo, contribuindo para melhorá-lo. A partir de um determinado nível, contudo, a auto-estima fica sobrecarregada de narcisismo e acarreta uma atrofia conservadora da autocrítica.
Podemos então deixar de lado as condenações moralistas – inócuas – do narcisismo. Elas são antigas e apresentam escasso interesse teórico. O problema que merece a nossa preocupação é outro: é aquele que se manifesta no efeito conservador da autocomplacência, que coagula o movimento auto-renovador da consciência, enrijecendo-lhe o ímpeto criativo e a abertura para o novo. (…) É provável que a estrutura da mente humana seja muito mais conservadora do que costumamos reconhecer. Renovar-se, reformular suas idéias, modificar seus valores, é operação dolorosa e arriscada.
(…) A verdadeira autocrítica exige uma espécie de “complementação negativa” para o curriculum vitae: depois de apregoar seus êxitos e seus méritos, a pessoa enfrenta o desafio de reconhecer suas frustrações, suas deficiências, seus fracassos, suas fraquezas. Talvez possamos chamar essa reconstituição dolorosa e necessária de curriculum mortis. Os indivíduos mais gravemente contaminados pela ideologia “triunfalista” que se manifesta no curriculum vitae carecem de sensibilidade, de madura lucidez e de coragem intelectual para a elaboração desse curriculum mortis.
Querendo ou não, cada um de nós caminha inexoravelmente para a morte (e o prestidigitador não escapa a esse destino). Reconhecendo francamente nossos fracassos, elaborando nosso curriculum mortis, assumindo autocriticamente os momentos “noturnos” em que vamos morrendo aos poucos, aumentamos as nossas possibilidades de nos conhecermos e de nos aperfeiçoarmos espiritualmente; e, de certo modo, esse talvez seja o único caminho possível de preparação para o fim pessoal inevitável. Quem insiste em se iludir, na realidade, está optando por enfrentar despreparado todas as dores que lhe vão desabar em cima, na hora da desilusão.” (KONDER, 2009, op cit, p-58-59)
Satirizando a ostentação presente em muitos dos atuais currículos profissionais, Konder escreve, em seu saboroso artigo de 1983 “O Curriculum Mortis e a Reabilitação da Autocrítica”:
“Para obter um emprego, para conseguir uma promoção, fazer carreira, o sujeito precisa exibir suas qualidades, ostentar seus êxitos. Já existem até manuais que ensinam o cidadão a preparar seu curriculum vitae. A trajetória ascensional de cada um depende dessa peça de literatura, que lembra as antigas epopeias, porque nelas o protagonista – o herói – só enfrenta as dificuldades para poder acumular vitórias. Os obstáculos servem apenas para realçar seu valor. O passado é reconstituído a partir de uma ótica descaradamente “triunfalista”.
Evidentemente, trata-se de uma imagem que não corresponde à realidade. Em sua imensa maioria os seres humanos não são campeões invictos, não são heróis ou semideuses. Se nos examinarmos com suficiente rigor e bastante franqueza, não poderemos deixar de constatar que somos todos marcados por graves derrotas e amargas frustrações. Vivemos uma vida precária e finita, nossas forças são limitadas, o medo e a insegurança nos frequentam; e nada disso aparece no curriculum vitae de cada um de nós.
O curriculum vitae é a ponta do iceberg: ele é o elemento mais ostensivo de uma ideologia que nos envolve e nos educa nos princípios do mercado capitalista; é a expressão de uma ideologia que inculca nas nossas cabeças aquela “mentalidade de cavalo de corrida” a que se refere a escritora Doris Lessing (1919 – 2013). Não devemos confessar o elevado coeficiente de fracasso de nossas existências, porque devemos ser “competitivos”. Camões, o genial Camões, autor de tantos poemas líricos maravilhosos, não poderia colocar em seu curriculum vitae o verso famoso: “Errei todo o discurso dos meus anos”.
A ideologia que se manifesta no curriculum vitae, afinal, aumenta as nossas tensões internas, porque nos dificulta a lucidez e a coragem de assumir o que efetivamente somos; nos obriga a vestir o uniforme do “super-homem”, a afetar superioridades artificiais. Além disso, ela incita à mentira, gera hipocrisia. Por sua monstruosa unilateralidade, a imagem do vitorioso, que ela nos obriga exibir, empobrece o nosso conhecimento de nós mesmos, prejudica gravemente a sinceridade da nossa auto-análise.” (KONDER, 2009, p. 53-54, Leia o artigo na íntegra)
A crítica é uma arma que pode e deve incidir tanto sobre o mundo objetivo quanto sobre o âmbito das subjetividades, o que abre um vasto horizonte interdisciplinar: é possível pensar nas interlocuções e interconexões entre psicologia, sociologia, história, filosofia, antropologia, economia, de modo a revelar, no marxismo depurado de dogmatismo, um valioso aliado para o esforço humano rumo à verdade factual, esta complexa e multifacetada entidade que é o télos da busca de qualquer intelectual autêntico. Inspirado por Walter Benjamin, Konder dirá também que não podemos de modo algum depreciar a importância do passado: o que passou continua sendo um campo-de-batalha!
“Benjamin tem uma visão agudamente crítica daquilo que a história da luta de classes ‘cristalizou’ na tradição: o legado que nós recebemos, segundo ele, está profundamente marcado por ‘expurgos’ promovidos pelos opressores, por exigências reprimidas, pelas esperanças dos oprimidos que foram sufocadas. À consciência revolucionária cabe reexaminar o passado, resgatando nele o que foi mutilado; cabe-lhe, como diz Jeanne Marie Gagnebin – ‘arrebatar ao esquecimento a história dos vencidos’. Além de recuperar a memória do que aconteceu, a dialética revolucionária, nas palavras do próprio Benjamin, ‘provoca a explosão da carga de dinamite que ficou depositada no passado.'” (KONDER, op cit, p. 74)
Em outro artigo brilhante, O Novo Conteúdo Político do Direito ao Prazer, Leandro Konder demonstra uma capacidade incrível de ir ao passado distante – por exemplo, à obra dos filósofos materialistas antigos Demócrito e Epicuro, a quem Marx dedicou sua tese de doutorado – para discutir candentes problemas do presente.
Partindo do senso comum, que atribuiu à palavra “epicurismo” uma carga negativa, como se “epicurista” fosse sinônimo de “devasso”, “libertino”, “libidinoso”, alguém que despreza todo tipo de freio moral ou escrúpulo ético em sua busca desenfreada por orgias e bebedeiras, Konder mostra que esta (má) representação é intriga da oposição e difamação. Como Konder aponta com razão:
“Tudo indica que Epicuro foi apenas uma vítima das calúnias de seus adversários. Documentos dignos de fé comprovam que ele era um cidadão sóbrio e recomendava aos discípulos que, antes de procurar satisfazer um desejo, verificassem se valia a pena, quer dizer, se os aborrecimentos não seriam, afinal, maiores do que as vantagens. Segundo Epicuro, os prazeres da inteligência eram, sem dúvida, preferíveis aos prazeres proporcionados pelos sentidos, justamente porque proporcionavam aborrecimentos menores. Epicuro era materialista; por isso, causava irritação entre os filósofos estoicos, seus adversários, inimigos do materialismo. Alguns estoicos mais equilibrados – como o filósofo e dramaturgo Sêneca – reconheciam que Epicuro era pessoalmente um sujeito virtuoso.” (KONDER, op cit, p. 137)
O que Konder revela em seu artigo são os nexos entre esta polêmica antiga – que opôs o ethos materialista-hedonista às doutrinas bem mais ascéticas dos estóicos e dos primeiros cristãos – com uma polêmica bastante atual e da qual os marxistas não podem se esquivar: vivemos hoje em um mundo onde existe, escreve Konder, uma “colossal indústria dos prazeres”, “capaz de alcançar um amplíssimo público consumidor”, e que marca forte presença nas sociedades urbanas e industrializadas do Ocidente atual. “A busca do prazer é habilmente explorada por poderosos mecanismos comerciais. Na corrida ao lucro, se difunde por toda a sociedade um espírito imediatista e hipercompetitivo: todos são incitados a extrair, no menor tempo possível e com o mínimo esforço, o máximo proveito de todas as situações.” (p. 139)
Teria sido o hedonismo completamente cooptado pelo capitalismo globalizado e pela hegemonia das “sociedades de consumo”? Ou ainda é possível fundamentar no prazer uma política radicalmente libertária? Se, por um lado, vivemos em um meio social saturado de iscas para o consumismo, em outdoors e anúncios de TV, por outro será que é legítimo desprezar o “direito ao prazer” como pauta reacionária e reivindicação exclusivamente capitalista-neoliberal? Não seria possível reinventar o hedonismo enquanto ética para desatrelá-lo do consumismo irresponsável e perdulário, recuperando o potencial libertário da obra de autores como Wilhelm Reich e Herbert Marcuse?
“De fato, ao longo da história, até muito recentemente, as teorias de legitimação filosófica do prazer sempre foram aproveitadas pelos setores privilegiados da sociedade, pelas minorias que dispunham dos meios necessários para levar uma vida de prazeres. Na Ideologia Alemã, há uma passagem na qual Marx – em 1846 – escreveu: ‘A filosofia do prazer sempre foi apenas a linguagem espiritual de determinados círculos que, dentro da sociedade, dispunham de condições privilegiadas para a obtenção do prazer.’ O hedonismo, portanto, não passava – a seu ver – de uma ideologia oportunista.” (KONDER, op cit, p. 140)
No entanto, seria uma distorção fazer de Marx uma espécie de rigoroso pregador do ascetismo, cheio de condenações contra aqueles que buscam o prazer: tanto o imenso apreço que Marx possuía por Epicuro quanto o seu ideal de uma sociedade que contribuísse para a formação “onilateral” do ser humano apontam para uma filosofia que não despreza o ingrediente do gozo no complexo emaranhado das condições para a emancipação humana.
Assim como o epicurismo antigo sofreu com a distorção imposta pelas difamações da oposição, é possível que também o marxismo tenha adquirido, para muitos, uma “configuração ascética” que não faz justiça à complexidade de uma visão-de-mundo que procura sim emancipar o prazer, porém realizando uma severa crítica do entrelaçamento sórdido, atualmente não só vigente como agudamente hegemônico, entre o hedonismo e a doutrina capitalista do consumismo individualista competitivista.
“O mercado fabrica egoístas, que se revelam com frequência na cama e na mesa. A sensibilidade deseducada, deformada, passa a atribuir uma importância menor aos prazeres plenamente partilhados e uma importância maior aos prazeres obtidos na contenda com os outros, eventualmente na negação dos prazeres alheios. As condições de competição extremada em que vivemos geram muita insegurança e ansiedade em nossas almas, enfraquecem nossa autoconfiança. O dinheiro relativiza corruptoramente todos os valores.
(…) O prazer é uma dimensão importantíssima da vida; mas a vida não pode ser reduzida a uma só das suas dimensões. Em suas formas superiores, o prazer depende de outras dimensões da realidade humana, como o conhecimento e o amor. O escritor francês Marcel Proust dá o exemplo do homem apaixonado pelo canto dos pássaros: enquanto nós, na floresta, só conseguimos distinguir uns poucos sons, seu ouvido educado se deleita com uma imensa variedade de gorjeios.
Epicuro já sabia que o prazer é um mundo vastíssimo e bastante diferenciado internamente: há prazeres inteligentes e prazeres burros. Marx, que era um grande admirador de Epicuro, poderia ter retomado essa observação lúcida e materialista; poderia tê-la desenvolvido, à luz da sua concepção do homem, reconhecendo que há prazeres que nos animalizam e prazeres que nos humanizam. ” (KONDER, p. 141)
Decerto que o tema do prazer não é o foco de Marx, tão engajado ele está na tarefa de emancipar os homens da opressão e da exploração que sofrem no mundo do trabalho. Mas não é evidente que o movimento comunista tendia à concretização de uma sociedade onde a abolição da divisão classista conduziria a uma ampliação das possibilidades de gozo na existência já que nos libertaria do trabalho mecânico, especializado, repetitivo?
Marx, com certeza, não era um utopista ingênuo e despejava sarcasmo contra os romantismos de certos socialistas utópicos: “O trabalho, disse Marx, não pode se converter em brincadeira como quer Fourier.” Konder explica: “há no trabalho uma dimensão de disciplina, imposta pelo interesse coletivo da produção, pelas exigências técnicas da produção, uma dimensão que não se harmoniza e nunca se harmonizará inteiramente com a gratuidade dos movimentos lúdicos individuais. Há algo no trabalho que manifesta uma insuprimível dureza na vida.” (p. 142)
Porém, é óbvio que Marx sempre lutou para “humanizar cada vez mais as condições de trabalho”, inclusive suprimindo a injustiça que consiste na cisão entre uma classe de proprietários de meios de produção, com privilégio do gozo e da preguiça, e uma classe de trabalhadores explorados, espoliados dos frutos de seu labor e obrigados a um cotidiano cinzento onde quase não há oportunidade, no “tempo regulamentar”, para as ações daquilo que Huizinga chama de homo ludens.
“Por isso, é sobre o encaminhamento de soluções para os problemas do trabalho que precisa se apoiar a política que corresponde aos anseios mais profundos da massa dos trabalhadores, e por isso não tem sentido procurar fundar uma política – isto é, uma ação coletiva, conjugada, visando a efeitos imediatos e efeitos duradouros – sobre o desejo, tal como propõem alguns neoanarquistas contemporâneos. Marx não ignora, contudo, que não basta aos homens desenvolverem suas forças produtivas para se libertarem. No 3º volume d’O Capital, Marx explicou com muita clareza: ‘O reino da liberdade só começa, na realidade, onde deixa de existir o trabalho imposto pela carência, pela necessidade exterior. (…) A redução da jornada de trabalho é a condição fundamental do reino da liberdade.'” (KONDER, p. 143)
O reino da liberdade, que o movimento comunista procura instaurar, revoluciona o mundo do trabalho também para superar a gritante injustiça vigente também no que tange aos prazeres: na sociedade que terá abolido a divisão classista do trabalho, com a cisão entre, de um lado, a massa proletária, oprimida e fatigada pelo excesso de labor e pelas péssimas condições de vida, e, de outro lado, a minoria de capitalistas vastamente ociosos e que contam cédulas e acumulam capital de “papos pro ar”, emergeria um novo contexto social onde é legítimo esperar uma espécie de “democratização do gozo”.
Konder defende um marxismo que possa ser libertário também no âmbito ético, honrando suas fontes epicuristas antigas, e critica “os marxistas que indulgem em proclamações moralistas e intolerantes” e “chegam a ‘demonizar’ a ‘decadência’ e a aprovar medidas de repressão contra os que manifestam ‘desvios’ (?) de comportamento sexual. Com isso, aplicam em ‘cruzadas’ contra os ‘libertinos’ as energias que deveriam ser empregadas na luta contra os adversários realmente poderosos do processo revolucionário.” (KONDER, p. 142)
A denúncia de uma sociedade que impõe a desumanização e a opressão aos trabalhadores une-se, em Marx, ao anúncio de um outro mundo possível, onde todos os seres humanos possam desenvolver suas potencialidades de modo onilateral, ao invés de serem reduzidos a robôs que realizam tarefas mecânicas e repetitivas. Longe de ser um pregador do ascetismo auto-mortificante, Marx é fiel ao epicurismo que lhe inspirou desde a juventude, porém conecta o hedonismo muito mais a uma ética da partilha e da colaboração do que a uma lógica da competição e da contenda.
A auto-crítica, tão louvada por Konder, deve incidir também sobre nossas tendências, condicionadas pelas ideologias hegemônicas, de caçar o prazer no consumo e nos triunfos dúbios das vitórias individuais (“eu contra todos”).
Assim podemos nos purgar de um hedonismo narcísico e egóico, abraçando um hedonismo solidário, transsubjetivo e autenticamente epicúreo, aquele que tem a sabedoria e a lucidez de preferir os prazeres de partilha, os gozos do conhecimento e os êxtases do amor ao invés de todas as sensaborias vendáveis e quinquilharias estúpidas que se encontram em promoção pelos supermercados de um capitalismo moribundo.
Ousemos, pois, construir uma realidade social, política e econômica que tenha por meta uma felicidade comum e partilhada, um direito ao prazer que não seja privilégio mas direito a todos facultado. Deste modo, um marxismo hedonista libertário é plenamente pensável e possível como antídoto à “colossal indústria de prazeres” que hoje nos deseja como súditos de seus engodos industrializados.
Ousemos gozar os prazeres da solidariedade, os êxtases do engajamento em um destino comum, as delícia dos intercâmbios (intelectuais, artísticos, afetivos, sexuais, festivos…), ao invés de investir neste falido modelo do capitalismo vigente que, como um falso profeta que prega nas propagandas, indica-nos apenas o caminho do abismo da solidão. Para além da massificação da lógica dos indivíduos atomizados e auto-interessados, em competição feroz e ostentação vã, afirmemos uma filosofia, perfeitamente conjugável com o marxismo e o epicurismo, que atente ao fato de que feliz é quem partilha e não quem possui.
“Happiness is only real when shared.”
(McCandless)
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SAIBA MAIS:
BIOGRAFIA (via Boitempo):
VÍDEOS:
A NECESSIDADE DA FILOSOFIA
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Parte 2 – Parte 3 – Parte Final
O FILÓSOFO QUE SONHA (UniRio)
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A ATUALIDADE DE MARX
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ALGUNS LIVROS DO AUTOR EM CATÁLOGO:
ED. BOITEMPO:
ED. EXPRESSÃO POPULAR
SAIBA MAIS:
Publicado em: 07/04/16
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia
carlos machado
Comentou em 08/04/16