Para surpresa de quase ninguém, os <Estados Unidos da Agressão mais uma vez vetou uma resolução em prol do cessar-fogo e da ajuda humanitária aos territórios palestinos que foi votada no Conselho de Segurança da ONU> em uma atitude que <Médicos Sem Fronteiras caracterizou como “um voto contra a humanidade”>.
Proposto por 100 países e aprovado por 13 dos membros do CS, com os EUA sendo o único voto contrário e o UK abstendo-se, a proposta foi votada em 8 de Dezembro de 2023 na sede das Nações Unidas em NYC enquanto a crise humanitária se agrava em Gaza, com a escalada do morticínio executado pelas tropas sionistas somando-se ao que a <Oxfam chama de “a fome sendo utilizada como arma de guerra”>: para mais de 2 milhões de palestinos, comida e água são impossíveis de conseguir.
<O programa Inside Story da Al Jazeera> debateu a fundo se esta recorrente atitude de Washington de apoio ao Estado de Israel torna a Casa Branca cúmplice de crimes de guerra e de genocídio atualmente perpetrados pela ofensiva bélica israelense contra Gaza e a Cisjordânia. Tudo indica que a administração de Joe Biden está com a cabeça feita em dar um cheque em branco para que o regime sionista e de extrema-direita chefiado por Netanyahu prossiga com sua “Guerra Contra o Hamas” que, sob o pretexto de combater o terrorismo, já matou mais de 17.000 pessoas, a maioria delas civis, sendo que mais de 7.000 delas eram crianças e mais de 5.000 eram mulheres. Eles não eram números, “they had names, they have dreams!” (eles tinham nomes, eles tinham sonhos), como cantavam os manifestantes que fizeram um protesto na Estação Central de Amsterdam em 8 de Dezembro.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) alerta para o total colapso do sistema de saúde nos territórios palestinos duramente bombardeados e manifesta seu repúdio à atitude da IDF em atacar hospitais e ambulâncias lotados de médicos, enfermeiras e feridos. As lideranças das Forças Armadas de Israel fingem que não ouvem e prosseguem com o massacre e a punição coletiva que já provocou o deslocamento forçado de 1 milhão e 900 mil pessoas.
Neste momento, dezenas de milhares de palestinos estão sendo empurrados para o sul de Gaza, na região de Rafah, perto da fronteira do Egito, enquanto a IDF intensifica sua agressão aérea, naval e terrestre contra Gaza; a intenção dos sionistas parece mesmo ser a expulsão da população de Gaza para o deserto do Sinai seguida por uma “reconstrução” do território hoje reduzido a um amontoado de escombros com cadáveres apodrecendo por baixo deles. Uma “reconstrução” com muito capital norte-americano investido num replay da Shock Doctrine que Naomi Klein tão bem analisou: o settler colonialism israelense quer construir sua Cidade Sagrada sobre as covas das crianças que matou aos milhares. Eles contam com a nossa amnésia e nossa apatia.
As Nações Unidas atravessa um dos seus momentos mais desoladores desde sua fundação após a II Guerra Mundial, nunca haviam morrido tantos de seus funcionários em um conflito armado (em 10 de Dezembro, estima-se que 133 funcionários da ONU já perderam a vida desde 7 de Outubro) e não existe nenhum refúgio seguro para os palestinos em nenhum prédio da UNRWA. O sionismo e seus parceiros ocidentais provavelmente continuarão com o genocídio mesmo que o Conselho de Segurança da ONU futuramente não seja barrado por mais um veto dos United States of Aggression. Netanyahu já aponta para a escalada do conflito, <alertando o Hezbollah no Líbano que está preparado a fazer com Beirut o que está fazendo com Gaza>.
O caquético Joe Biden vem conseguindo a proeza de ser um “democrata” que age exatamente como o faria um “republicano” – o que significa que os dois partidos que monopolizam a vida política nos Estados Unidos da Agressão estão cada vez mais parecidos em seu devir-fascista. É difícil imaginar que o Trumpismo teria conseguido fazer pior do que o governo Biden está fazendo. Dou três exemplos: Biden falou publicamente que Israel tinha direito de “defender-se” dos monstros do Hamas que estão “decapitando bebês”, tornando-se assim um Trumpista de carteirinha ao espalhar fake news sem fundamentação nenhuma nas evidências. Não há nenhuma prova material de que a resistência armada islâmica tenha decapitado bebês, mas sobram evidências, mais de 7.000 pequenos cadáveres, de que a aliança YanKKKee-Sionista, ela sim, massacra a infância e depois diz que isto são danos colaterais.
Em outra ocasião, Biden, em visita a Israel, ao receber a notícia de que um hospital havia sido bombardeado em Gaza, resultando na morte de mais de 500 pessoas, teve a desfaçatez abominável de dizer, perante às câmeras e ao lado de Netanyahu, que tinha confiança de que o ataque tinha sido realizado “pelo outro time” – sugerindo assim que o próprio Hamas teria explodido um hospital repleto com palestinos, uma acusação tão falsa e leviana quanto cruel e desumana.
Diante dos números crescentes de óbitos de civis e de crianças, Biden não teve palavras de lamentação ou de piedade pelas famílias violentamente privadas de seus entes amados. Preferiu lançar descrédito sobre os números divulgados pelo Ministério da Saúde da Autoridade Palestina dizendo que não confiava neles. É assim mesmo: matar em massa as crianças, as mulheres, os médicos, os jornalistas, os trabalhadores dos direitos humanos, está tudo muito bem, pois depois a gente diz que os números de mortos divulgados estão sendo falsamente incrementados.
No “combate ao terrorismo”, pelo jeito, também vale destruir universidades e assassinar poetas. O acadêmico, poeta e escritor palestino Refaat Alareer (PhD em literatura), um dos criadores do projeto <WE ARE NOT NUMBERS> e um dos editores do livro GAZA WRITES BACK, acaba de ser assassinado pela IDF de Israel em um ataque aéreo contra seu lar em Gaza. Neste link do Youtube, vocês podem acessar nada menos que 28 aulas que ele ministrou na Universidade Islâmica de Gaza, ela também reduzida a escombros – eis um exemplo de “terrorista” que o sionismo genocida está massacrando neste momento:
Este foi seu último poema:
“SE EU DEVO MORRER”
Se eu devo morrer,
você deve viver
para contar a minha história
para vender minhas coisas
comprar um pedaço de pano
e alguns barbantes,
(deixe-o branco com uma cauda longa)
para que uma criança, em algum lugar em Gaza
enquanto ela encara o céu nos olhos
esperando seu pai que partiu em chamas
e não se despediu de ninguém
nem mesmo de sua carne
– nem mesmo de si –
veja a pipa, minha pipa que você fez, voando acima
e imagine por um momento que um anjo está lá trazendo de volta o amor
Se eu devo morrer
deixe que isso traga esperança
deixe que isso seja um conto
Refaat Alareer
Leia também: https://acasadevidro.com/lucro-por-sangue-no-massacre-de-gaza/
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Publicado em: 10/12/23
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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