Wael Dahdouh tem 52 anos de idade e é editor-chefe da AlJazeera em Gaza; recentemente, foi amputado de praticamente todos os seus entes amados: sua esposa, seu filho, sua filha e seu neto foram todos mortos em um ataque aéreo de Israel <Saiba mais>. Poucas horas depois, mesmo com lágrimas nos olhos, ele estava ao vivo em meio aos escombros de sua terra atualmente massacrada pela agressão genocida de Israel.
A monstruosidade da aliança entre sionistas e yankees que já aniquilou mais de 18.000 vidas também inclui o que poderíamos apelidar de uma guerra contra a verdade – nos últimos 30 anos, não houve registro de nenhum conflito armado que tenha sido tão mortífero para profissionais de mídia, <como relatou NPR>.
Os profissionais que trabalham com a visibilização do que ocorre no território conflagrado, com suas câmeras fotográficas, filmadoras e microfones, vem sendo alvos de uma brutalidade sem precedentes: de todos os jornalistas e comunicadores assassinados em 2023, totalizando 94 vítimas, 72% pereceram em Gaza – é o que nos conta a IFJ, International Federation of Journalists (saiba mais: https://www.ifj.org/war-in-gaza).
São pessoas como Samer Abu Daqqa, cameraman da Al Jazeera, assassinado no exercício de sua profissão por um bombardeio das forças armadas israelenses enquanto fazia uma cobertura dentro de uma escola da UNRWA transformada em centro de abrigo para refugiados.
O analista político Marwan Bishara fez comentários pertinentes sobre a conjuntura ao apontar que os comandantes-em-chefe do estado sionista de Israel de fato consideram profissionais da comunicação como se fossem combatentes inimigos:
Desde 7 de Setembro, já são 71 trabalhadores da comunicação que vieram a óbito – 64 palestinos, 4 israelenses e 3 libaneses (dados da mesma IFJ). A entidade <CPJ – Comitee to Protect Journalists – informa que nunca houve uma situação tão catastrófica e letal em nenhum momento desde que sua monitoração iniciou em 1992>.
Além de proibir a entrada de correspondentes estrangeiros no território ocupado, invadido e amplamente devastado de Gaza, o estado de Israel informa a todos os jornalistas do território que “não pode garantir sua segurança” – o que equivale a uma tática de aterrorizar os profissionais para que saiam dos territórios palestinos e desistam de realizar seus trabalhos de reportagem. Para além disto, o enclave é alvo de frequentes sabotagens de seu sistema de telecomunicações e internet – “apagões” que lançam Gaza a uma espécie de escuro tenebroso onde as tropas sionistas realizam suas matanças sem que estas possam ser devidamente registradas.
Tudo isto indica que a IDF de Israel tem desenhado alvos e disparado seus projetéis letais sobre jornalistas, o que é mais uma violação do Direito Internacional e um crime de guerra potencialmente punível pela International Criminal Court (ICC) de Haia.
A isto de soma, é claro, um dos mais graves fenômenos na midiosfera contemporânea, as fake news. Como Jeremy Scahill vem destacando com pertinência em seus artigos e podcasts para Intercept, o presidente dos U.S.A. Joe Biden vem repetidamente se utilizando de notícias falsas para justificar o apoio estadunidense à carnificina com feições de limpeza étnica que o regime de Netanyahu comete há mais de 2 meses. O ocupante da Casa Branca foi pego em flagrante de mentira deslavada de maneira reiterada ao afirmar que o Hamas havia decapitado 40 bebês e que ele havia visto as fotos. Biden espalhou esta mentira em Outubro, voltou a espalhá-la em Novembro, e continua espalhando-a em Dezembro. Mesmo quando os piores warmongers de Israel já desistiram de tentar conquistar a credulidade dos incautos através desta fábula mórbida.
Ainda que fosse verdade e que houvessem evidências factuais de que o inimigo pratica atrocidades contra bebês e crianças, é difícil de conceber como se saltaria disto para a conclusão de que atrocidades estão permitidas contra quem pratica atrocidades. A absurdidade lógica e a perversidade moral do argumento insustentável fica evidente se imaginarmos a seguinte justificativa, não muito distante da realidade: – Já que o Hamas decapitou 40 bebês, para combatermos estes monstros sanguinários estamos no direito de passar dois meses bombardeando um território densamente povoado, mesmo que isto implique a morte de mais de 7.000 crianças e mais de 5.000 mulheres, para além de milhares de outros civis.
Que loucura! O compasso moral do “Ocidente Civilizado” e da vanguarda da “Democracia Liberal” está tão defeituoso que a gente está tendo que gritar, nas ruas e nas redes, para homens brancos adultos que são chefes-de-Estado, que matar crianças em escala industrial e bombardear escolas e hospitais não é certo, não é legítimo, não é justificável. Faria sentido que o fizessemos para crianças de 4 anos de idade e que acabaram de começar seu letramento e sua inclusão na aventura humana. Mas ter que explicar o óbvio para estes marmanjos, e ainda sem que eles mudem suas atitudes de morticínio, que loucura!
Que bizarro! Eles dizem crer em Deus e dizem ter Livros Sagrados e Tábuas de Mandamentos. Parece até que “não matarás” consta nos ditos cujos. E a gente tá tendo que berrar, e sem que eles ouçam, que “não matarás” inclui também “não matarás mais de 7.000 crianças que não tem nenhum envolvimento com movimentos armados de libertação nacional”. Que bizarro!
Que curioso! A gente assiste os vídeos dos discursos de Netanyahu e de Joe Biden e fica com a impressão de que estes caras dormem à noite. Talvez nem precisem engolir cápsulas de algum forte sonífero. Eles falam diante das câmeras como se todas as noites dormissem o sono dos justos numa cama de serenidade não perturbada por nenhuma fisgada de reprovação da consciência. Eles podem estar encharcados com a responsabilidade direta por litros de sangue humano derramado, e ainda assim dormem como se tivessem Deus ou Jeová a seu lado. Quem não dorme somos nós, que nos debatemos através da madrugada, com indignação, inconformismo e rebeldia inúteis, pensando na morte da empatia nos palácios do poder. Putzgrila, o Bibi e o Genocide Joe têm uma cara bizarra de quem dorme à noite. Que curioso!
“Repórter: Como podem homens sem Deus serem bons?
José Saramago: Como podem homens com Deus serem tão maus?”
ACESSE PARA SABER MAIS: https://acasadevidro.com/genocidio-em-gaza-2/
Publicado em: 17/12/23
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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