“Gastrite” é um curta-metragem documental que debate o controverso cenário das artes urbanas em Goiânia, dando voz aos agentes culturais que se expressam através do grafite, do stencil, do pixo, dentre outras manifestações artísticas no espaço público. Foi idealizado e dirigido pelo cineasta e fotógrafo Hugo Brandão, com a colaboração de Eduardo Carli de Moraes na assistência de direção e entrevistas. O projeto foi contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiás e teve apoio da SEDUCE e do Governo de Goiás. Confira o teaser e assista ao filme na íntegra:
ASSISTA AO FILME NA ÍNTEGRA:
Link para compartilhar: https://youtu.be/CAJKk2QWOcU ou https://vimeo.com/447978597
O filme tem a cidade de Goiânia como epicentro e instiga uma discussão sobre o cotidiano nas metrópoles brasileiras em que o protagonismo da arte de rua deixa suas marcas e provoca controvérsias sobre os rumos da sociedade contemporânea. De maneira semelhante a obras que marcaram o documentário brasileiro como Cidade Cinza ou Pixo, Gastrite dá voz aos artistas e também debate as atitudes de autoridades públicas e do cidadão comum diante de toda a cor e toda a fúria dos grafites e pixos que se manifestam na urbe.
Em 20 minutos de montagem dinâmica e sincopada, a cargo do editor Asafe Ramos, Gastrite é propulsionado por entrevistas com figuras de muita expressão no cenário artístico e intelectual da metrópole goiana:
O curta ganha a Internet em Agosto de 2020, através de lançamento organizado pelo portal A Casa de Vidro (www.acasadevidro.com), disponível em várias plataformas: Youtube | Vimeo | Facebook. Ao fim do filme, traçamos um panorama da atual repressão jurídica às artes visuais urbanas em Goiânia, que parece querer espelhar a distopia monocromática imposta pelo prefeito Dória à cidade cinza a que tentou (sem pleno sucesso) reduzir Sampa.
O filme surge para intensificar debates e controvérsias sobre o que há de mais urgente na criação artística e no cenário sócio-político contemporâneo, em um contexto onde é mais urgente do que nunca debater a liberdade de expressão da arte subversiva e transviada, sob ameaça cada vez mais palpável de silenciamento, “cancelamento” e repressão.
A trilha sonora de Gastrite, no intuito de realizar uma ponte entre o grafite e outros elementos essenciais da cultura Hip Hop (o DJ e o MC), dá voz a alguns dos mais importantes artistas alternativos de Goiânia: o poeta e rapper Vitor Hugo Lemes, vulgo “VH – O Escrivão”, que rima na companhia dos os beats espertos do DJ Saggaz, que assina também as vinhetas instrumentais que povoam o curta. Quem gostou do som, pode apreciar a mixtape Pele Negra Máscaras Brancas e assistir a 2 video-clipes de V.H. dirigidos por Carli: a canção que dá nome ao álbum e “Marginal Latina”.
Pensando a cidade como um enorme organismo vivo, em Gastrite as intervenções das artes visuais urbanas são vistas como sintomas, ruídos e interferências que vão problematizando, denunciando e protestando: são obras que perpassam temas que vão desde política até religião, nos fazendo refletir sobre a cadeia artística e a própria cidade. Sendo assim, a arte urbana se torna uma expressão singular da sociedade e do ser urbano.
A partir desta perspectiva, o principal objetivo do filme “Gastrite” é fomentar a discussão sobre esse movimento contemporâneo, abrindo espaço para debater questões como censura, espaço público, direito à cidade, em suma: o papel que estas vertentes artísticas e agentes culturais desempenham na nossa vida cotidiana e na história contemporânea.
“Imagine uma cidade em que o grafite não é ilegal, uma cidade em que qualquer um pode desenhar onde quiser, onde cada rua seja inundada por zilhões de cores e frases cruas, onde esperar no ponto de ônibus não seja uma coisa chata, uma cidade que pareça uma festa para a qual todos foram convidados, não apenas as autoridades e os figurões dos grandes empreendimentos. Imagine uma cidade como essa e… não encoste na parede, a tinta está fresca!” BANKSY, do livro Wall and Piece
VISLUMBRES DAS FILMAGENS
DEU NA MÍDIA:
Documentário goiano ‘Gastrite’ gera reflexões sobre trabalho dos artistas de rua em meio à realidade do abandono da cidade
Diário da Manhã, 15/16 de Agosto de 2020
“Eu sinto o gratife como uma experiência que vem do fundo das pessoas e, de repente, adquire aquela consistência de um grito”, define o poeta Paulo Leminski numa palestra realizada lá pelos idos de 1986, na Universidade Federal do Paraná. Adepto da “tatuagem provisória” dos traços da arte urbana, Leminski dissertou sobre o tema em “Ensaios e Anseios Cripticos”, obra que reúne seus pensamentos sobre esse ofício. E por causa de sua verve porra-louca, ele acreditava que o gratife estava para o texto assim como o grito para a voz.
É, Leminski, de fato, a arte de rua instiga reflexões sobre os rumos da sociedade contemporânea. Ou seja, a cidade é um organismo vivo, com suas intervenções, com suas expressões, com suas inquietações, com seus ruídos, com seus problemas, que denunciam, que protestam, que escarram o cotidiano sobre o qual estão inseridos certos grupos sociais reduzidos a meros marginais pelos donos daquela bic da burocracia e pelos detentores do capital. Um muro, ora pois, é com uma folha em branco esperando um ímpeto de criatividade.
Dos sprays borrifadores de ideias e das pinceladas dos sentimentos libertários, abrem-se alas para a mordaça provocada pelas autoridades públicas e pelos empresários diante da fúria multicolorida dos grafites e pixos. E desse tamborim de mentalidades tão modernas quanto aquelas que reduzem a arte a soníferos quadros destinados aos bem-nascidos, “Gastrite”, curta-metragem documental dirigido por Hugo Brandão e com colaboração de Eduardo Carli de Moraes, vai direto ao ponto: é preciso falar sobre o trampo dos artistas de rua.
Ao longo de seus 20 minutos, o documentário prende a atenção do espectador e é impulsionado por entrevistas realizadas com figuras relevantes no meio artístico e intelectual goiano. A lista é grande: Mateus Dutra, Diogo Rustoff, Eduardo Aiog, Santiago Selon, Juliano Moraes (FAV/ UFG), Carol Viana, Kaiky Fernandez. Por isso, o filme intensifica os debates e as controvérsias sobre assuntos considerados urgentes na criação artística e no cenário sócio-político. Afinal, um imóvel ocioso é perfeitamente normal, mas um muro… bem… um muro…
Sabe-se lá Deus qual é a lógica dos engravatados, mas que ela é, digamos, intrigante, isso é. Com a ameaça explanada por viúvos do coturno preto e da farda verde-oliva, faz-se necessário debater o papel das pincelas da urbanidade subversiva, já que tornou-se “o novo normal” o “cancelamento”, enquanto a repressão, bom, esta sempre esteve aí. Deste modo, o objetivo proposto pelo documentário, de alimentar a discussão sobre grafite e pixo, obtém êxito e mostra que é preciso falar sobre democratização espaço público e direito à cidade.
Feito com recursos do Fundo de Arte e Cultura de 2016, “Gastrite” acerta ao botar sob panos quentes aspectos da realidade experimentada pelos artistas de rua, que usam a cidade como um formidável meio de expressão. Trata-se, isto sim, de um alento em meio ao abandono da coisa pública. Então as imagens, captadas em praças famosas da capital e no centrão de Goiânia, não simbolizam apenas a indigestão – como diz o diretor Hugo Brandão -, e sim ilustram a importância do trampo de gratifeiros, muralistas, pichadores, sickers, artistas de lettering e stencil. Com diz Leminski: um muro é uma folha em branco. Alguém precisa preenchê-la. E logo, de preferência.
A GASTRITE NO CORPO URBANO – O filme goiano Gastrite, que terá Lançamento no dia 12 em A Toca Coletivo, contextualiza o cenário controverso da arte urbana.
Por Ludimila Mendonça
Diário da Manhã – Goiânia, 02 de Julho de 2018
A Gastrite é uma erosão do revestimento do estômago, é o indício de que alguma coisa pode não estar muito bem. Ela pode ser temporária ou crônica, assim como qualquer elemento visual que está por aí pelas ruas da capital. Sob a perspectiva de que a cidade é um organismo vivo, portanto passível de demonstrar sintomas, foi construído o documentário “Gastrite”, um curta-metragem idealizado e dirigido por Hugo Brandão que aborda a arte urbana. O lançamento do filme será no dia 12 de Julho na Toca Coletivo.
O filme conta com a colaboração de Eduardo Carli de Moraes (Assistência de Direção e Entrevistador) e Débora Resendes Rodrigues (Produção Executiva). Este projeto foi contemplado pelo Fundo de Arte e Cultural 2016, com apoio da Seduce e Governo de Goiás. O filme “Gastrite” tem a cidade de Goiânia como cenário, ponto de partida para a discussão sobre o cotidiano das metrópoles e o protagonismo da arte de rua como: grafites, stencils, pixos, lambes, tipografia e outras erosões no contexto urbano contemporâneo.
O documentário contextualiza o cenário controverso da arte urbana, retratando esse movimento por meio de um panorama de artistas dessa vertente, que se apropriam das ruas da cidade e a utilizam como plataforma de expressão. O doc pensa a cidade como um enorme organismo vivo. O filme sugere que a arte urbana é como um ruído, uma interferência, problematizando, denunciando e protestando, através de temas que vão da política à religião, nos fazendo refletir sobre a cadeia artística e a própria cidade.
“Sendo assim, a arte urbana se torna uma expressão singular da sociedade e do ser urbano. A partir dessa perspectiva, o principal objetivo do filme é fomentar a discussão sobre esse movimento contemporâneo, abrindo espaço para debater questões como censura, espaço público e o papel que estas vertentes artísticas desempenham na nossa vida cotidiana, cultural e social” – explica a equipe de “Gastrite”.
PONTOS CHAVE PARA O DIAGNÓSTICO
Hugo Brandão, o diretor, conta de onde começaram para chegar ao diagnóstico: “Partimos do centro, um ponto chave para a narrativa, e arredores, sempre buscando pontos importantes da cidade, que tivessem relevância para os temas que abordaríamos no documentário, como por exemplo espaço público, censura e abandono. Então, os locais escolhidos de alguma forma remetem a estes temas. E também buscamos os locais com maior número de intervenções e artistas urbanos diferentes.”
A equipe do filme correu a cidade para conhecer os personagens que gritam nos muros da cidade. “Conversamos com vários artistas de diferentes vertentes, que intervém na cidade. Desde grafiteiros, muralistas, pichadores, stickers, artistas de lettering e stencil. Consideramos a arte urbana uma manifestação contemporânea muito importante na construção da identidade da cidade. E gostaríamos, com esse projeto, fomentar a discussão sobre essa manifestação, que diz muito, basta parar para ouvir” relata Hugo.
Hugo Brandão resume a idéia do curta: “Durante a construção da idéia para esse projeto e a partir da pesquisa e entrevistas, percebemos que as intervenções urbanas ainda são vistas como um ruído, um corpo estranho, algo negativo, por uma boa parcela dos moradores da cidade. Daí que surgiu o paralelo com a gastrite e, de uma forma mais abrangente, a cidade como um organismo vivo, um corpo urbano. Então, a arte urbana não é só algo indigesto, como uma gastrite, é um indicativo, um alerta, para que olhemos com mais atenção para a cidade em que vivemos.”
Publicado em: 13/08/20
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia