“Sangro, mas canto! / Do luto à luta! / A cada grito de ódio que mente / Vai ecoar: Marielle, presente!” Com estes versos potentes, encharcados de justa rebeldia, a Funmilayo [acesse o site oficial] fez sua entrada no cenário cultural através da canção “Negração”. Esta culminava com um hino feminista, antipatriarcal, decolonial, que ressoa fortemente no ar de nossos tempos tão dominados por machismo obscurantista e teocrático:
“Tirem seus rosários dos nossos ovários
Nosso corpo é território livre
Nossa mente descolonizou
Mirei no seu peito e cê nem viu
Mais ligeira que a bala de fuzil
É a semente que brota do amor!”
Esta bandaça – tanto em seu tamanho e número de membros (são “11 mulheres e pessoas não binárias negras fazendo som”) quanto pelo peso e intensidade de sua música – merece ser apreciada. Participa de uma efervescência cena de afrobeat que cresce na América Latina, representado por grupos maravilhosos como o Newen chileno e aqui no Brasil por entidades como Aláfia, Abayomy e Höroyá. O segundo single, “Vazante de Verão”, oferece um aperitivo para o álbum de estréia da Funmilayo, atualmente em produção:
Segundo o SESC, foi “criada em 2019 pela cantora e saxofonista Stela Nesrine e pela trompetista Larissa Oliveira. A banda faz homenagem à ativista nigeriana Funmilayo Anikulapo Kuti, líder na luta das mulheres por direitos em seu país e mãe de Fela Kuti, criador do afrobeat, gênero musical que mescla elementos de jazz, funk, highlife e percussão africana. Esses mesmos ritmos marcam a sonoridade da Funmilayo, que lançou seu primeiro single, “NegrAção”, em 2019, em tributo à vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 2018. Nos últimos dois anos, a orquestra aprofundou as pesquisas em padrões rítmicos que se espalharam pela África e a diáspora, como salsa, samba, funk, jazz e também afrobeats.”
Em entrevista a HYPENESS, a banda destacou: “Marielle Franco e Funmilayo Kuti foram duas mulheres fortes e ativas politicamente e que foram interrompidas violentamente. As duas são homenageadas por nós, a primeira citamos no single ‘Negração’, e da segunda pegamos de empréstimo o nome para a banda pois acreditamos que as lutas que cada uma delas travou estão totalmente conectadas. As duas lidaram com estruturas coloniais, racistas e machistas. Essas estruturas permanecem ainda intactas, exercendo pressão sobre nossos corpos. É da fonte de força e inspiração que elas beberam que nós também queremos beber, ou seja, da cultura africana e afro-brasileira, da solidariedade feminina e da luta por mais igualdade social”.
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Publicado em: 17/07/22
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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