Pintura do artista palestino Sliman Mansour (https://www.instagram.com/sliman.mansour/)
A Casa de Vidro – Os crimes de guerra e as atrocidades sádicas cometidos pelo estado de Israel se multiplicam enquanto o chamado Ocidente supostamente civilizado demonstra uma falência múltipla de órgãos de sua Ética.
Não, 5.000 cadáveres de crianças não é o suficiente para que a União Européia se manifeste consensualmente em prol de um cessar-fogo. Não, os xerifes do mundo não acham que o Conselho de Segurança da ONU deva intervir no “conflito” mesmo quando o sionismo israelense, não satisfeito com fazer chover toneladas de bombas, mata pela fome e pela sede imposta ao enclave de Gaza.
Não, o Sr. Biden, o sr. Trudeau, o sr. Macron, nenhum deles tem a dignidade de impor sanções à agressão genocida de Israel que hoje viola todas as leis internacionais que visam regular minimamente as guerras para proteger civis. Não, o fato de Israel aniquilar com seu fogo destruidor o campo de refugiados de Jabalia ou o hospital de Al-Shifa não move os líderes do “Mundo Livre” a se manifestar contra – a cumplicidade é explícita.
O discurso sionista é este: o Hamas construiu túneis no subsolo de Gaza inteira, inclusive debaixo de hospitais, de escolas, de padarias, de mercados, então não resta solução senão bombardear tudo e dizer que todas as mortes de inocentes são “danos colaterais”. Para vencer o inimigo, todos os meios são aceitos – matar pela bomba, matar pela fome, matar pela sede, matar pela doença, matar enfermos e crianças, tudo é visto como meio aceitável para atingir o fim de aniquilar o grupo terrorista.
Nunca, desde a primeira Catástrofe (Nakba) que ocorreu na esteira da fundação do Estado de Israel, o povo palestino passou por uma tragédia destas proporções. O sionismo israelense pratica uma punição coletiva contra todos os palestinos, como se não houvesse ninguém no território inteiro que não fosse cúmplice do jihadismo e do terrorismo – como se os bebês em enfermarias merecessem a morte pois são apenas terroristas em potencial, e não podemos deixar esta criançada crescer para que se tornem depois mobilizados em novas Intifadas, não é?
Assistimos horrorizados à transformação de Gaza em um campo de concentração e de extermínio onde o regime chefiado pela extrema-direita, e encabeçado pelo criminoso de guerra Benjamin Netanyahu, aplica sua própria versão da “Solução Final” – em muitos pontos semelhante àquela que o III Reich nazi impôs aos guetos judeus durante o Holocausto.
Nos últimos dias, não pude conter as lágrimas diante das notícias ao vivo da Al Jazeera ao ver os repórteres, que não sabem se estarão vivos amanhã para seguir reportando, descrevem a escalada da crise humanitária no interior do enclave. Se há um Inferno na Terra, hoje, ele se chama Gaza sob a agressão sádica, desproporcional e criminosa da aliança Yankee-sionista, com cumplicidade da U.E., todos sujando suas mãos em um abundante sangue que a mídia corporativa oculta.
Estamos também diante do que é provavelmente a pior crise da Organização das Nações Unidas desde sua fundação após a 2ª Guerra Mundial. Tanto pelo número de vidas perdidas no quadro de servidores da entidade quanto pelo fracasso em fazer valer a lei internacional, a ONU demonstrou nesta segunda metade de 2023 algumas de suas fragilidades e insuficiências.
Nunca na história da ONU haviam morrido tantos de seus empregados em um conflito: 101 pessoas que perderam a vida nas últimas semanas na Guerra Israel vs Hamas (a maioria delas era da UNRWA, a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos, e perdeu a vida durante o impiedoso bombardeio indiscriminado cometido nas últimas 5 semanas pelas forças armadas israelenses):
“United Nations workers observed a minute’s silence on Monday to honour the more than 100 employees killed in Gaza since the Israel-Hamas war began last month, the largest toll of humanitarian workers in the organisation’s 78-year history.” (Reuters)
Outro elemento da crise do sistema ONU é o fato de que a Assembléia Geral tem ampla maioria de países que votam pelo cessar-fogo que permita a entrada ampla de ajuda humanitária, mas esta opinião não tem muito peso diante do Conselho de Segurança, este sim bem mais poderoso e capaz de promulgar resoluções que tenham efeito concreto – porém, os EUA foi o único país que, utilizando-se de sua prerrogativa de veto, gorou todo o processo de pacificação proposto pelo Brasil, que presidia o Conselho em Outubro de 2023, e que conquistou a adesão unânime de todos os membros – com exceção do Tio Sam.
O <equivalente a duas bombas atômicas de Hiroshima já foram despejadas sobre Gaza> e a aliança Yankee-Sionista não se mostra satisfeita com o grau já assustador de destruição e sofrimento humano gigantesco que estes bombardeios já causaram. Um dos fatores impeditivos para que os crimes contra a humanidade do sionismo sejam parados e punidos é certamente o poderio desproporcional que os EUA ainda detêm no mundo devido a seu arsenal bélico e sobretudo por ser a nação na História que mais acumulou bombas atômicas.
Quem é que vai “peitar” os United States of Agression sabendo que este país não só tem mais bombas atômicas do que qualquer outro país no mundo, como foi também o único país na história que já se decidiu a utilizar-se deste armamento de imensa destrutividade contra populações civis? A impunidade de que goza hoje Israel é análoga à impunidade de que ainda gozam os manda-chuvas dos U.S.A. após as guerras que travaram no Afeganistão e no Iraque.
Só como um lembrete: em 11 de Setembro de 2001, morreram aproximadamente 3.000 pessoas nos atentados terroristas na somatória das vítimas e dos terroristas-suicidas. Desde então, <a Guerra Contra o Terror liderada pelos EUA já matou direta ou indiretamente mais de 4 milhões de pessoas>. Eis o que Arundhati Roy chama ironicamente de a álgebra da justiça infinita. Estamos novamente atolados no pântano de sangue desta lógica de psicopatas que julga aceitável reagir a um dia de terror com meses e meses de “política de terra arrasada”.
Se a gente ergue a voz para denunciar os EUA, somos ameaçados prontamente com o maior arsenal de bombas de destruição em massa já reunidos por qualquer nação, democrática ou não. Israel sente-se autorizado, como Estado fora-da-lei, a praticar seus crimes de guerra e suas matanças indiscriminadas de civis pois foi precedido pelos EUA, o maior dos Estados fora-da-lei, que pôde invadir o Iraque, em 2003, sob falsos pretextos e sob protesto da maior mobilização de massa da história do século 21, onde produziu hecatombes criminosas que também nunca foram punidas.
SAIBA MAIS:
War’s destruction of economies, public services, infrastructure, and the environment leads to deaths that occur long after bombs drop and grow in scale over time. This report reviews the latest research to examine the causal pathways that have led to an estimated 3.6-3.8 million indirect deaths in post-9/11 war zones, including Afghanistan, Pakistan, Iraq, Syria, and Yemen. The total death toll in these war zones could be at least 4.5-4.7 million and counting, though the precise mortality figure remains unknown. Some people were killed in the fighting, but far more, especially children, have been killed by the reverberating effects of war, such as the spread of disease.
The report examines the devastating toll of war on human health, whoever the combatant, whatever the compounding factor, in the most violent conflicts in which the U.S. government has been engaged in the name of counterterrorism since September 11, 2001. Rather than teasing apart who, what, or when is to blame, this report shows that the post-9/11 wars are implicated in many kinds of deaths, making clear that the impacts of war’s ongoing violence are so vast and complex that they are unquantifiable.
In laying out how the post-9/11 wars have led to illness and indirect deaths, the report’s goal is to build greater awareness of the fuller human costs of these wars and support calls for the United States and other governments to alleviate the ongoing losses and suffering of millions in current and former warzones. The report highlights many long-term and underacknowledged consequences of war for human health, emphasizing that some groups, particularly women and children, suffer the brunt of these ongoing impacts.
Publicado em: 14/11/23
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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