Amanhece em Haia em 12 de Janeiro de 2024. Mesmo com os termômetros perto de zero graus Celsius, afrontando o frio e a apatia, o vento e a complacência, há muita movimentação nos arredores do Palácio da Paz: manifestantes estendem suas faixas: “health care is not a target”, “israelis against genocide”, “justice for palestinians” são algumas das mensagens expostas bem à frente do suntuoso edifício onde está localizado o I.C.J. – International Court of Justice.
Um telão com potentes autofalantes é montado e transmite ao vivo o noticiário da Al Jazeera English, a empresa de comunicação sediada no Qatar que realiza a melhor cobertura global dos acontecimentos sócio-políticos no Oriente Médio. Somos informados que EUA e UK acabam de escalar seus bombardeios no Yemen contra os houtis. Somos informados que Israel continua suas execuções por drone no Líbano contra lideranças do Hezbollah e do Hamas e prossegue sua matança em escala industrial em Gaza. 10.000 crianças e 7.000 mulheres já perderam a vida nos bombardeios que o estado sionista vem realizando contra o enclave desde 7 de Outubro.
Nesta manhã que começa, os representantes do Estado de Israel terão 3 horas para se defender da robusta acusação de genocídio contra os palestinos que a república da África do Sul demandou que a chamada “Corte de Haia” julgasse e que apresentou em detalhes na véspera.
Tenho calafrios pelo corpo todo não só pelo vento frio dos Países Baixos que sopra sobre meu corpo abaixo de 0 graus Celsius, mas de pensar no gélido que precisa ser o senso moral de homens-de-Estado que consideram hospitais e escolas como alvos. Em minha indignação exasperante, que gera até insônia e ímpetos de agressividade (nada que ouvir um bom punk não resolva), fui buscar aliança, calor humano, fraternidade, entre este povo-da-saúde, Artsen Voor Gaza, que falam o que eu queria ter falado, botam na faixa pra rua inteira ver: HEALTH CARE IS NOT A TARGET.
A absurdidade da situação é extrema, é muito bizarro o que estamos vivendo: estamos tendo que gritar nas ruas, para uns marmanjos psicopatas em palácios em Tel Aviv e em Washington D.C. e em Paris que it’s not okay dudes! isto de bombardear hospitais e massacrar a gente que dá sua vida para trampar com medicina e enfermagem.
Sinto calafrios também de pensar no futuro que advém, e neste “como se…” assustador: como jornalista, documentarista, metido no meio dos movimentos sociais que cobrem esta onda pró-Palestina, começarei quando a ter que usar colete-à-prova de bala, capacete escrito PRESS, e um adesivo (sticker) em algum canto da T-shirt que grite “ISTO NÃO É UM ALVO”!?!
(a ser continuado no próximo post…)
Por Eduardo Carli de Moraes para A Casa de Vidro (www.acasadevidro.com), direto de Den Haag, Nederlands, 12/01/2024.
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Publicado em: 17/01/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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