Apesar do consenso na necessidade de transição energética, texto final não menciona a eliminação do uso de combustíveis fósseis
Escrito por Renato Costa
O encerramento da 28ª Conferência do Clima da ONU se deu na quarta-feira, 13 de dezembro. O evento termina com um acordo de estímulo à transição energética, sem, contudo, estabelecer o fim do uso de combustíveis fósseis, como almejam setores da causa ambiental e cientistas climáticos, que consensualizam sobre a necessidade de eliminação desses combustíveis para alcançar a meta estabelecida no acordo de Paris: limitar o aumento da temperatura global em 1,5 ° C. Apesar da demora na mudança da matriz energética, pela primeira vez desde 1994 – ano de criação da conferência – houve consenso também entre os representantes estatais a respeito da sua necessidade para o enfrentamento do aquecimento global.
O acordo final propõe o aumento do uso de energias renováveis em três vezes o patamar atual até 2030 e reforça a meta da neutralidade de carbono até 2050. Estabelece ainda que essa transição seja “justa, ordenada e equitativa.” Porém, a noção de “eliminação gradual” do petróleo, proposta em esboço preparatório, não entrou na versão final do documento. A esse respeito, o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres escreveu: “Àqueles que se opuseram a uma referência clara à eliminação progressiva dos combustíveis fósseis durante a COP28, quero dizer: Quer você goste ou não, a eliminação dos combustíveis fósseis é inevitável. Esperemos que não chegue tarde demais […] a era dos combustíveis fósseis deve terminar e deve terminar com justiça e equidade”.
Foi também anunciada a criação de fundo no valor de 420 milhões de dólares para indenizar países afetados pelo aquecimento global. Fora isso, o documento falha ao não apresentar iniciativas de prevenção ou metas mais abrangentes, deixando a cada país a responsabilidade de regular a emissão de gases poluentes. O financiamento de iniciativas de mitigação da crise climática é apontado por especialistas como a melhor forma de investimento ecológico, principalmente aqueles voltados para os países em desenvolvimento.
Entre eles, o Brasil, que se destacou durante a COP28. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, discursou nos seguintes termos: “Aprovamos aqui um acordo basilar, que dá concretude aos compromissos que assumimos no âmbito do Acordo de Paris. O compromisso que acabamos de assumir redireciona nossas ambições, mas também nossas responsabilidades.” Ela deu o tom da posição dos países em desenvolvimento, com relação à transição energética, ao fazer um apelo aos países ricos, para que se dediquem ativamente a estancar as mudanças climáticas, visto que são essas nações as principais responsáveis pela emissão de GEEs, antes de buscarem impedir a expansão industrial dos países pobres.
“A nossa próxima tarefa é alinhar as medidas de implementação necessárias, assegurando uma posição fundamental da transição justa. Assim, é fundamental que os países desenvolvidos tomem a frente da transição rumo ao fim dos combustíveis fósseis e assegurem os meios necessários para que os países em desenvolvimento possam implementar suas ações de mitigação e adaptação”. No mesmo dia do encerramento da COP28, a revista Nature reconheceu a ministra como uma das dez personalidades mais relevantes para a ciência neste ano.
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Com informações da Agência Brasil
Publicado em: 14/12/23
De autoria: Gabi Callegaris Gabi
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