KINOKRITIK – EP. 01 / https://youtu.be/uk9ejm5vJVw
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Fala galera! Estamos aqui n’A Casa de Vidro Ponto de Cultura, prestes a reinaugurar essa casa que volta a abrir as portas ao público no dia 11 de abril (Cinebate, financiado pela PNAB), para dizer que faremos tudo o que pudermos, tudo o que nossas mãos e nossas mentes puderem obrar, nós estamos dispostos a fazer para que a Palestina não seja esse Club Med dos genocidas, como Donald Trump anunciou a Netanyahu numa recente reunião de psicopatas genocidas.
E que papel o cinema pode ter nisso tudo? É o que a gente quer debater com vocês através da exibição desse documentário que já faz parte da história, não só do cinema de não-ficção, mas acho que podemos dizer da história do cinema em geral, tendo sido o primeiro filme a vencer um Oscar de melhor documentário que tenha sido realmente filmado no território palestino ocupado pelas tropas sionistas. Então, Sem Chão já é uma proeza histórica.
Anteriormente, Hany Abu Assad, um dos maiores cineastas palestinos vivos, já havia sido indicado algumas vezes pelo Omar e pelo Paradise Now, mas nunca um cineasta palestino havia conseguido a proeza de conquistar lá na Califórnia essa ambicionada estatueta dourada concedida pela indústria cultural dos ianques. Mas Sem Chão fez história também no festival de Berlim, o que também é muito significativo.
Quero aqui, além de convidar para o filme e ler a sua sinopse, trazer algumas outras informações relevantes que podem servir também como uma espécie de aperitivo, o antepasto desse nosso debate. Sem Chão, então, foi dirigido pelo Basel Adra e pelo Hamdam Balal, dois cineastas palestinos, o segundo deles recentemente ferido, sequestrado e questionado com requinte de tortura pelo Estado de Israel, e também pelos israelenses Yuval Abraham, um jornalista de grande excelência, e a Rachel Sor. Essa aqui é a sinopse que redigi após assistir o filme para divulgarmos nas redes da Casa de Vidro que está promovendo esse evento com os recursos da Lei Aldir Blanc, Política Nacional que nos deu aí o fomento para que fizéssemos esse Cine Debate no ano de 2025 e ele se inicia com esse filme que se passa na Palestina, na Cisjordânia, também conhecida como West Bank em inglês, onde os palestinos sofrem cotidianamente com expulsões e demolições impostas pelos soldados sionistas.
Uma inusitada e tensa aliança se instaura entre o nativo Basel Adra, que vive sob uma brutal ocupação militar, junto com seus mais de 2 milhões de concidadãos na Cisjordânia ocupada, e essa aliança se dá com esse jornalista israelense, Yuval Abraham, que vive livre e sem restrições, por ser um cidadão de primeira classe, de acordo com o apartheid instalado por Israel na região. Cinema de Guerrilha, premiado em Berlim e no Oscar, Sem Chão será exibido na Casa de Vidro, agora na sua sede no Jardim Novo Mundo, na Avenida Nova York, quadra 98, nesse dia 11 de abril, a partir das 19 horas, e também filmaremos esse debate para a criação de conteúdo relevante que venha acrescentar à fortuna crítica sobre o filme.
Para finalizar, eu gostaria de trazer aqui a perspectiva de um pesquisador de cinema, e de um realizador também de documentários, a respeito desse território conflagrado que nós veremos na telona através do Sem Chão que é a Cisjordânia. E fazendo pesquisas recentes eu cheguei a dois filmes que são muito similares né, que são predecessores deste No Other Land/Sem Chão, e que inclusive de modos bem curiosos incluem o Brasil em suas produções e naquilo que está retratado em tela. São os filmes Budrus e Cinco Câmeras Quebradas.
Esse primeiro filme eu realmente considerei ele uma obra-prima do documentário. Foi dirigido por uma brasileira chamada Júlia Bacha e Budrus é o nome de um vilarejo com cerca de 2 mil habitantes que se insurge contra a construção de uma cerca, ou de um muro que atravessa essa comunidade, que atravessa inclusive seus cemitérios, seus campos de oliveiras. Então é um filme realmente predecessor do Sem Chão, que revela inclusive o protagonismo feminino e infanto-juvenil nesse combate que os palestinos da Cisjordânia realizam desde a primeira Intifada de 87, contra esses ocupantes sionistas e contra esses colonos que querem construir os seus novos lares em terras roubadas do povo palestino.
Quem diz isso é a própria Organização das Nações Unidas, que considera que a partir de 1967, com aquela guerra de agressão que Israel realiza (Guerra dos 6 Dias ou do Yom Kippur), avançando sobre os países árabes da região, desde então existe uma ocupação ilegal, militar e baseada no apartheid de territórios que a ONU não reconhece o direito de Israel ocupar. Então o filme da Júlia Bacha é belíssimo, ele traz o movimento social popular na Cisjordânia, que confronta esses soldados e colonos sionistas que estão ali também para destruir as formas de vida com as quais os palestinos vivem em uma espécie de simbiose natural e cultural, como é o caso das oliveiras.
Então nós vemos ali milhares e milhares de oliveiras sendo uprooted, ou seja, eles arrancam essas árvores e suas raízes, também no sentido de matar os palestinos de fome, de tornarem indisponíveis essas azeitonas, de fazer com que a agricultura de subsistência e esse pequeno comércio de agricultura familiar não possa florescer. E aí se mostra muito bem como as mulheres também se organizam para ser uma espécie de vanguarda e como também os moleques, os pivetes acabam se juntando a esse movimento e mandando as pedradas contra os tanques. Um tema que foi lindamente tratado pelo rapper argentino Residente, aliás acho que não é argentino, é porto-riquenho: o artista que participa do grupo Calle 13 e agora é o rapper Residente fez essa música “Bajo Los Escombros” lidando com esse fenômeno dessa juventude, dessa pivetada palestina que se ergue com base na pedrada para confrontar os tanques e os muros israelenses.
E o outro filme muito foda, muito interessante: Cinco Câmeras Quebradas né… que revela também os dilemas e as trágicas circunstâncias que os documentaristas palestinos lá no chão passam. Então é extremamente atual tendo em vista o que ocorreu recentemente com Hadman Ballal ter sido assim por algumas horas desaparecido nas mãos e nas catacumbas do regime israelense, que o sequestrou para a interrogação. Então esse documentário, Cinco Câmeras Quebradas, realmente revela um documentarista na Cisjordânia, sua família, suas relações, seus ferimentos, seus traumas, suas prisões, seus momentos no hospital, revela essas cinco câmeras que foram destruídas no processo de registrar os confrontos nesse território conflagrado.
Inclusive uma cena muito comovente onde ele conta a história de uma bala que possivelmente teria o matado mas que acabou destruindo a câmera. Então de algum modo essa câmera salvou sua vida. O fato dessa câmera ter sido destruída e baleada ao invés do crânio foi um episódio de um milagre profano.
Então eu achei esse filme muito interessante para pensar o documentarismo, os riscos que os palestinos correm fazendo suas coberturas audiovisuais, estando na mira dos snipers, estando como alvo dos drones e podendo ser a todo momento alvejados por balas ou por granadas ou por gás lacrimogêneo. Então realmente Cinco Câmeras Quebradas é um belíssimo filme e nele também estão contidas algumas das cenas mais impressionantes que eu já vi das batalhas campais nos vilarejos da Cisjordânia, entre essa população que resiste e que se insurge com os seus meios, com estilingues, com pedras, mas também com palavras, com danças, poemas, canções e filmes, para contestar esse regime extremadamente opressor que é o Estado de Israel, sob o comando da extrema direita.
Então vamos debater tudo isso aqui na Casa de Vidro, nesse próximo dia 11 de abril, e estão todos convidados para pensar o papel histórico do cinema, do documentário, nessa nossa amostra de cinema de ficção de alto impacto, e através da qual o Ponto de Cultura A Casa de Vidro reitera o seu compromisso com o Comitê de Solidariedade ao povo palestino e libanês aqui de Goiânia, com a Feira Árabe Palestina, a Feira Cultural e Gastronômica, que já está criando história na cidade, e reafirmamos o nosso compromisso de estarmos juntos, em aliança com todos aqueles que vão obrar, com tudo que tem, com todo o ânimo que dispõe para que de fato a Palestina não seja o Club Mediterránee dos genocidas, e que possa um dia florescer um território soberano, independente, autônomo e governado pela vontade do povo palestino que tem sido tão oprimido, massacrado, segregado, e que passa hoje por um genocídio transmitido ao vivo nos nossos feeds, e que nós estamos sendo fracassados em parar.
Então fica aí a questão, uma primeira questão para o debate. Será que o cinema pode ter algum papel em colocar um stop no genocídio em curso?
Publicado em: 09/04/25
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia