por Eduardo Carli de Moraes para A Casa de Vidro
09 de Novembro de 2024
Ainda tô caçando palavras pra expressar o que foi o show da Delírio no Festival Outros Nomes (4ª Edição) que rolou em Goiânia em 13 de Outubro de 2024. Deve ter sido pra eventos-no-mundo deste tipo que inventaram adjetivos como “inefável”. Vou fazer um esforço, tateando por termos, enquanto esta experiência estética tá ainda vivinha na memória, para comunicar algo do que se passou ontem dentro do Teatro da FETEG.
A maioria dos artistas que está estreando na cena, que ainda não têm renome, que estão fazendo o primeiro show de canções autorais, começa “pianinho”, dando seus passinhos tímidos, partindo de uma certa insegurança, para com o tempo ir ganhando experiência de palco e se apossando desta qualidade intangível da firmeza. A Delírio já inaugurou-se no cenário musical com uma rara desenvoltura e auto-confiança, manifestando uma total sintonia afetiva e musical tanto com a bandaça que a acompanhava quanto com a platéia com quem soube se conectar com empatia.
Convidou à dança, provocou com versos, encarnou a liberdade – não vou esquecer do momento em que a artista praticamente ordenou ao público que estava sentadinho na frente do palco para que se levantasse dizendo: “eu quero só ver como a nossa música vai bater no corpo de vocês.” E o som “bateu” no corpo da galera “coçando a sola” da geral.
Algum desavisado que chegasse ali no momento da festança, sem nada saber da banda, e ouvisse a informação de que este era o primeiríssimo show dos sons de Delírio, talvez fizesse aquela cara de ceticismo – “não é possível, este trem já tá muitíssimo bem engrenado…”.
Ao fim de cada música, os aplausos eram uma estrondosa chuva de aclamação sincera – e não palminhas protocolares para apoiar o recém-chegado aos palcos. Delírio, como suspeitávamos, borrifou poesia por todo canto em meio a um som brincante, cheio de quentura, daqueles que vem pra renovar e revitalizar o maculelê cerradeiro.
E que bandaça! Já sabíamos que Jamaika é um dos bateras mais foda da galáxia e desta vez um dos maiores mestres-ritmistas da cena não decepcionou; muitos também já sabíamos que ninguém em Goiânia toca uma sanfona tão bem e com uma atitude tão cool quando a Dani Frisson (que dá ânimo sônico também ao Forró Fiado, Forró Quentim e Trio Cajamanga); e que a Conceição canta pacas, tem mó presença e é a backing vocal que soma demais a qualquer grupo musical; também pudemos ver o jovem prodígio das 6 cordas Lucas Barbosa pilotando sua guitarra com maestria, o baixista Tatu segurar um groove danadíssimo e o rabequeiro Vytor Brios mandar melodias sempre certeiras e cheias de bom gosto, além de Verô nos backing vocals.
Pois é, parecia-me “inefável”, mas com um esforcinho pude expelir este punhadinho de palavras – ainda que tenham faltado estas, menos pretensiosas mas muito honestas: – @Fernanda Maria: amiga, você arrasou!
“Após um período de imersão no mundo da música, como intérprete e percussionista em bailes de forró, brincante das rodas de coco e artista de rua, Delírio traz ao palco seu primeiro show autoral! Uma jornada sonora que reflete sua paixão pela música, pelos instrumentos e instrumentistas que a acompanham. Expressando sua sensibilidade, a compositora combina melodias envolventes com letras profundas, explorando temas de amor, resistência, autoconhecimento e liberdade. Este show marca o início de uma nova fase em sua carreira, onde suas composições ganham vida em arranjos cuidadosamente elaborados, conectando o público a cada nota e palavra. A banda que a acompanha demonstra a riqueza de suas influências com instrumentos que marcam a cultura popular brasileira como a sanfona, a rabeca, triângulo, alfaia, zabumba, pandeiro e mais alguns tesouros. Uma noite de música com cheiro de cerrado, para dançar e se entregar ao delírio.” TXT divulgado no perfil do Festival no Instagram
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Publicado em: 09/11/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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