O Centro de Mídia Independente (CMI) d’A Casa de Vidro, sediado em nosso Ponto de Cultura no Setor Universitário de Goiânia/GO, traz a público neste Março de 2024 esta produção documental independente que retrata o Dia Internacional da Mulher (8M) na capital de Góias. Este Estado é atualmente (des)governado pelo <latifundiário Caiado, historicamente vinculado à UDR>, e que vem agindo como “bajulador de genocidas – o genocida Bolsonaro e o genocida Netanyahu”, como expressou ao microfone a ativista e advogada popular Kelly Gonçalves em cena presente no curta-metragem.
Nadando contra a corrente reacionária que as quer “belas, recatadas e do lar”, as mulheres aqui representadas – incluindo figuras das artes (como Linda Granadus), da política institucional (representantes eleitas como Kátia Maria e Mauro Rubem, do PT), lideranças dos partidos de esquerda (como Cintia Dias e Fabrício Rosa) – não querem ser bem comportadas, preferem a desordeira feitura da história – sempre um escarcéu coletivo. Elas – e seus aliades – insurgem-se contra vários elementos que compõe nossa realidade sócio-política: dos alarmantes índices de feminicídio ao desmonte de políticas públicas focadas nas mulheres, da cultura do estupro às desigualdades de gênero incrustadas no mercado de trabalho, elas estão em movimento, sentindo as correntes que as prendem e unindo forças para quebrá-las – o Patriarcado e a masculidade tóxica que se lasquem.
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O curta oferece vislumbres das falas, batuques, bandeiras, cartazes e marchas que tomaram as ruas goianienses nesta ocasião onde também manifestou-se fortemente a solidariedade com o povo palestino: afinal, os eventos aqui retratados ocorrem no começo de um mês, Março de 2024, em que o número de mulheres e crianças massacradas pela guerra de Israel em Gaza ultrapassa 25.000 vítimas (veja: Al Jazeera).
Um dos elementos de maior interesse desta produção de midiativismo está na intersecção entre o movimento feminista do Cerrado e a solidariedade ao povo palestino. O filme inclui uma entrevista realizada com Nágila Ibrahin el Kadi, que <já havia conversado conosco no Criticidades, 4ª edição, de outubro de 2023>, que bradou em alto e bom som: “Estamos aqui também, para defender, a Palestina livre, do Rio ao mar.” Solidária às mulheres mortas pelo governo sionista Israel, Nágila apontou que nas ruas goianienses, nesta ocasião, “todas as mulheres, numa só voz, se irmanam, para além das fronteiras nacionais, étnicas e religiosas.”
Filmada na frente de uma delegacia da mulher que encontra-se desativada, nas proximidades da Catedral de Goiânia (Rua 10), a cena dá voz ao estrondo das ruas neste 8M em que também ouviu-se samba ao vivo sobre o carro-de-som (“Pra matar preconceito eu renasci”, canção de Marina Iris, foi um dos magníficos momentos de música ao vivo que ressou pela cidade e foi parar dentro do doc). Frisando de maneira lúdica que vivemos numa Goiânia “que é mulher” – “ela é a Goiânia, não é o Goiânia”, a professora Janira Sodré frisou ao microfone que a capital goiana, segundo o Censo do IBGE/2020, é de maioria feminina (<“Goiânia tem 55.300 mulheres a mais do que homens, o que equivale a 51,8% da população total estimada em 1.536.097 pessoas”>).
Janira também destacou a forte pertinência das pautas do feminismo negro e apontou para a necessidade de compreender o problema do feminicídio também levando em consideração que a maioria de suas vítimas são mulheres negras. Goiânia tem de índices de feminicídio assustadores: foi revelado por “estudo realizado pela Prefeitura de Goiânia que a cada 5 dias, uma mulher morre em decorrência de violência na cidade”, e a maioria das vítimas “são mulheres negras, pobres, solteiras e de baixa escolaridade”. (Fonte: Notícia Preta.com.br)
O filme Mulheres Comportadas Não Fazem História – 8M 2024 foi produzido pela equipe do CMI A Casa de Vidro composta por Eduardo Carli de Moraes (filmagem e montagem), Gabriela Callegaris (design gráfico e poster, assessoria de edição) e Renato Costa (assessoria de edição). A trilha sonora inclui ainda trechos das músicas: “Respeita As Mina”, de Kell Smith; e “Mar de Fuego”, da Mano Única.
Em 2019, já havíamos realizado, em parceria com o Jornal Metamorfose, o primeiro curta-metragem Mulheres Comportadas Não Fazem História – 8M 2019, realizado no que foi o primeiro semestre do desgoverno neofascista de Bolsonaro e também o primeiro 8 de Março ocorrido após <o assassinato de Marielle Franco (PSOL), ocorrido no fim de Março de 2018>. Cinco anos depois, recuperamos o mesmo nome – sugerido pela jornalista Rosângela Aguiar, uma das “âncoras” de nosso filme de 2019 – e lançamos nosso segundo curta focado nas mobilizações cívicas de mulheres no 8M goianiense.
Durante a pandemia, apesar dos percalços no caminho, pudemos realizar também uma trilogia de curtas-metragens acompanhando as mobilizações feministas: A Polifonia dos Corpos Insubmissos, Nenhum Genocida de Pé e Medo Nós Tem Mas Não Usa. Tais trabalhos, na confluência entre midiativismo e cinema vérité, consolidaram A Casa de Vidro como uma das principais entidades midiáticas independentes que dá voz e visibilidade às lutas femininistas em Goiás. E este trabalho segue a todo gás e só expandirá suas ações e repercussões com apoiadores do projeto (acesse o nosso financiamento colaborativo na plataforma Apoia-se e colabore!).
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No poster, em que estão representados movimentos sociais como MTD e MST e ícones como Marielle, também decidimos trazer à tona Pagu e sua frase mais famosa: “esse crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre.” É um modo de honrar, em Patrícia Galvão (1910-1962), não apenas a escritora (seu mais célebre livro, Parque Industrial, de 1932, publicado quando ela tinha 22 anos, foi republicado em 2022 pela Companhia das Letras), não apenas a artista modernista que se envolveu com Oswald, Raul Bopp e tant’outros, não apenas a ativista comunista que por suas ações no PCB amargou anos em prisões e “foi torturada pelo governo de Getúlio Vargas”; queremos lembrar também da Pagu jornalista, da Pagu desprovida de neutralidade em seu ímpeto de jornalista crítica, atuante em órgãos como A Tribuna de Santos (SP).
Frequentemente acusada por seus detratores por ser uma “agitadora”, Pagu de fato agitou, e no livro Lute Como Uma Garota – 60 Feministas Que Mudaram o Mundo, é dito algo de tamanha pertinência que o convocamos para fechar este texto: “Os que a chamavam de agitadora só erraram no tom pejorativo que deram à palavra. Pagu agitou, sim, sua vida e todos os ambientes aos quais decidiu se dedicar. Em qualquer atividade que fosse, sempre foi uma revolucionária.” (BARCELLA, Laura; LOPES, Fernanda. Cultrix, SP, 2018, p. 273)
Eis um filme, camarades, que nós d’A Casa de Vidro entregamos ao público com o ímpeto de Pagu e sem nenhuma vontade de usar tons pejorativos contra a agitação político-cultural. Com orgulho de fazer documentarismo de agitação, cinema engajado, audiovisual revolucionário, largamos na rede mais este agitprop, somando esforços na luta multi-frentes contra a multiforme Opressão que à Terra arrasa. Seguindo nas agitações e bradando ainda (quem une a voz ao coro?): “nenhum genocida de pé!“
Carli
Goiânia/Brasil, 17-03-2024
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Mulheres Comportadas Não Fazem História: 8M Goiânia 2024 – Um documentário d’A Casa de Vidro @acasadevidro. Confira: https://t.co/aBMRDTtFx7
— A Casa de Vidro (@acasadevidro) March 19, 2024
NUVEM DE ARROBAS – ATIVISTAS E ENTIDADADES REPRESENTADAS NO VÍDEO:
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Publicado em: 18/03/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia