“You can bomb the world to pieces, but you can’t bomb it into peace.”
Michael Franti, Spearhead
Deveríamos mudar o nome do país que pretende agir como xerife do mundo para Estados Unidos da Agressão. A patologia social que assola o EUA atinge os píncaros da insanidade coletiva neste início de 2024: nos primeiros 46 dias do ano, aconteceram 49 episódios de mass shooting no país, o que equivale a mais de uma irrupção de violência armada por dia; se incluirmos as estatísticas de suicídios com armas de fogo, já são quase 5.000 pessoas mortas pelos disparos em menos de 2 meses neste ano, conforme reportado pelo [Democracy Now] (1) (informação confirmada pela ABC).
Isto não é chamado de “terrorismo interno” pela grande mídia corporativa, nem se vê significativos movimentos sociais que demandem medidas urgentes para estancar a matança – a mais óbvia sendo o desarmamento da população e o fim dos privilégios e regalias para a indústria de armas e munições.
O fato de que Fevereiro nem acabou e os EUA já possuem uma pilha de cadáveres bem mais alta do que aquela das vítimas do 11 de Setembro de 2001 deveria nos deixar em choque – mas não, tal situação é, neste país bizarro, algo banal. Nem mesmo o novo normal – é o velho normal que vem sendo descrito e analisado há décadas, como fez o ainda pertinentíssimo Bowling For Columbine do documentarista Michael Moore.
Ao invés de se preocupar com 5.000 cadáveres de cidadãos estadunidenses, mortos por outros cidadãos estadunidenses num frenesi de trabucos disparados a esmo ou mortos por armas de fogo em que estouram os próprios miolos, a administração Biden está ocupada em ajudar Israel a “combater o terrorismo” em Gaza – em 15 de Fevereiro, o atual presidente do partido democrata está ocupado em aprovar com urgência o envio de 14 bilhões de dólares para o Estado Sionista de Israel, além de estar engajado em desmantelar completamente o financiamento do país à UNRWA – como [o Democracy Now também reportou] (2). São atitudes que vão na contramão das medidas propostas pelo ICJ de Haia em Janeiro quando o tribunal supremo da ONU acolheu a denúncia apresentada pela equipe sul-africana para julgar Israel pelo crime de genocídio.
Em aliança com o U.K., os Estados Unidos da Agressão também esteve envolvido nestas primeiras semanas de 2024 com bombardeios na Síria, no Iraque e no Yêmen – além de ter praticado assassinatos pontuais contra membros do exército iraniano. Seria muito difícil encontrar alguma frase dita por Joe Biden desde 7 de Outubro de 2023 que manifeste um pingo de compaixão pelas quase 30.000 pessoas mortas e as mais de 65.000 pessoas feridas pelas bombas e balas que a aliança Yankee-Sionista despeja sobre os palestinos. Diante disto não há como escapar da conclusão de que Joe Biden é uma espécie de psicopata senil, com compasso moral danificado, capaz apenas de ler no teleprompter algumas groselhas enjoativas que parecem um replay de George W. Bush após o ataque ao World Trade Center.
O que eles chamam de “War On Terror” é o pretexto perfeito para promover os lucros obscenos da indústria bélica, mas necessita de um braço propagandístico que propague a noção de que Nós, os bons, os justos, os democratas, os civilizados, os exportadores do capitalismo liberal democrático, estamos limpando o mundo da escória Deles, os maus, os bárbaros, os monstruosos jihadistas que querem a destruição do american way of life com seus maravilhosos Big Macs baratos e bazucas à venda nos Wal Marts.
A reportagem [“Rafah No Precipício” no Mondolweiss] (3) revela a extensão da catástrofe humanitária que ocorre no Sul de Gaza, na fronteira com o Egito: um mar de tendas acolhe precariamente 1 milhão e 500 mil palestinos que perderam suas casas e foram forçados a migrar; a sede e a fome são constantes, assim como o pavor diante da iminência de uma ofensiva militar sionista naquela que se tornou uma das áreas mais densamente povoadas do planeta.
O cartunista brasileiro Latuff, diante de tão tétrico quadro, desenhou uma analogia entre o gueto de Varsóvia durante a II Guerra Mundial e o gueto de Rafah na atualidade, apontando para uma similaridade histórica entre as tropas da SS nazi em seu trato com os judeus e as tropas da IFD sionista em seu trato com os palestinos.
SAIBA MAIS: Why we have to make the Jewish Ghetto comparison – The horror of the past has returned in a new guise, and the comparison of the Jewish ghetto under Nazism with the Gaza ghetto under Israel’s current fascistic authority must cease to be sacrilegious. – TXT BY MICHELLE WEINROTH, ART BY LATUFF, @MONDOWEISS: https://mondoweiss.net/2024/01/why-we-have-to-make-the-jewish-ghetto-comparison/
Ao contrário do que tenta dizer a máquina de propaganda e fake news que tenta justificar a empreitada sionista, não se trata de um conflito entre Civilização e Barbárie, a primeira sendo prerrogariva de Israel e seus parceiros ocidentais: em seu texto para Truthout, [Stéphanie Wahab] destacou que o povo palestino, apesar das imensas adversidades correlatas à vida sob ocupação armada e apartheid, rodeados pela violência do settler colonialism, sempre valorizou a educação (em todos os níveis) e a alfabetização do povo; mas também a infra-estrutura escolar e universitária foi brutalmente arrasada pelas agressões sionistas dos últimos 4 meses:
“Palestinians have always valued education, as evidenced by the fact that Palestinians have one of the highest literacy rates in the world, coupled with an exceptionally high rate of Ph.D.s per capita. In the current phase of the ethnic cleansing of Palestinians in Gaza and the West Bank, Israel has destroyed every institution of higher learning in Gaza. Every single one. Any scholar who believes in academic freedom should appreciate the scholasticide and sociocide implicit in the targeted destruction of every university in Gaza, not to mention the added fact that nine out of ten schools for children have been significantly damaged. In addition, Israel has murdered university presidents, at least 94 university professors and at least 4,327 students since October.” (WAHAB, 2024, Truthout) (4)
A difícil tarefa da crítica aos poderes perpetradores de tão horrenda carnificina em Gaza consiste também no fato de que erguer a voz contra as ações do Estado de Israel e bradar contra as atrocidades do sionismo é imediatamente identificado como atitude anti-semita, assim como criticar os Estados Unidos da Agressão é descrito como a conduta moralmente reprovável de fazer apologia de um terrorismo bárbaro que quer o fim da Civilização Capitalista Ocidental tal como a conhecemos. Não, vidas palestinas não importam para os líderes sionistas ou yankees, nem para os chefes-de-estado que são cúmplices do massacre – inclusive aqueles que fazem pose de bons moços como Macron, Sunak e Trudeau… vocês também têm sangue em suas mãos! Como cantou Michael Franti, do Spearhead, numa punchline anti-bélica ainda muito pertinente: “you can bomb the world to pieces but you can’t bomb into peace.” (5)
Todos os olhos em Rafah.
Eduardo Carli de Moraes
Amsterdam, 18-02-2024
LINKOGRAFIA
(1) https://www.democracynow.org/2024/2/16/gun_violence.
(2) https://www.democracynow.org/2024/2/15/military_bill
(3) https://mondoweiss.net/2024/02/rafah-on-the-precipice/
(4) https://truthout.org/articles/we-cant-watch-genocide-and-do-nothing-now-is-the-time-for-renewed-bds/
(5) https://www.facebook.com/2metersessies/videos/789763687799294
Publicado em: 18/02/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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