Em Belém, na Cisjordânia ocupada, as festividades natalinas foram canceladas e uma escultura foi inaugurada que mostra Jesus, Maria e José em meio aos escombros de um bombardeio: https://www.aljazeera.com/features/2023/12/25/bethlehems-bombed-out-nativity-sculpture-sends-a-powerful-message
Em 2023, naquele que acredita-se ser o local de nascimento do profeta seguido pelos cristãos, a guerra grassa sem nenhuma graça e Netanyahu é o novo Herodes, ordenando o massacre dos inocentes.
Um Papai Noel que tentasse ir entregar presentes em Gaza seria impedido de entrar no território em algum dos checkpoints que Israel impõe às centenas. Ainda assim, se conseguisse penetrar no enclave e entrasse no Norte de Gaza, sentiria dificuldade em encontrar alguma criança viva para presentear.
Caso estivesse desavisado e mal-informado, este Papai Noel imaginário, todo bem-intencionado, poderia ter a ideia de se dirigir a escolas e hospitais, onde certamente encontraria os beneficiários de seus presentes. Mas logo descobriria que “o povo eleito de Israel”, através de seus representantes sionistas, transformou em ruínas repletas de cadáveres insepultos os locais onde educação e saúde costumavam ser nutridas na Palestina.
Imaginemos que alguém em Khan Younis tenha tido a ideia de se fantasiar de Santa Claus para trazer alguma alegria para a criançada: infelizmente, ele não encontraria no território nem mesmo bolachas e água potável para encher seu saco de presentes. Seria logo requisitado para emprestar seus músculos para o duro trabalho de remoção dos corpos de mortos e feridos que estão agonizando ou apodrecendo debaixo dos escombros causados pelos bombardeios.
O sionismo apoiado pelos Estados Unidos já matou mais de 20.000 pessoas e não acha que é o suficiente. Eles continuam falando que 8.000 crianças assassinadas são meros efeitos colaterais. Mais de 100 jornalistas mortos são acidentes. O uso da fome como arma de guerra – 90% da população de Gaza passando fome há semanas! – é também um recurso belíssimo e louvável que a Civilização Ocidental utiliza para vencer as trevas da barbárie.
Muitos dos líderes desta carnificina se auto-proclamam como judeus e como cristãos que defendem o judaísmo e o cristianismo contra a ameaça do terrorismo islâmico. É bem curiosa esta assim chamada “auto-defesa” que implica jogar no lixo, por semanas e por meses, o tal do “não matarás” que, da boca pra fora, eles proclamam como mandamento e imperativo adjetivado como “sagrado”. Fanático religioso é o outro…
Eles parecem jogar o sagrado no lixo enquanto produzem a matança do outro demonizado, num “espírito” sinistro similar ao que presidiu as Cruzadas e a Inquisição. É islamofobia, racismo e supremacia branca o que preside visceralmente a este massacre que não cessa no período natalino. Assim caminha a humanidade…
O que os sionazis estão produzindo é uma das maiores monstruosidades do século.
Lembra uma versão contemporânea, altamente distópica, do “Massacre dos Inocentes” que tanto inspirou artistas – como Rubens, Tintoretto, Brueghel e Guido Remi (https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_dos_Inocentes).
Desta vez, não é Herodes quem ordena a matança da criançada, na esperança de aniquilar Jesus ainda na semente; desta vez, a morte em massa de milhares de civis, de crianças, de mulheres, é ordenada pelo Sr. Netanyahu e sua corja, com o apoio cúmplice dos EUA e boa parte dos líderes do assim-chamado Ocidente Capitalista Civilizado.
Após mais de 75 dias de bombardeios impiedosos, os sionazis já mataram mais de 8.000 crianças, mais de 4.000 estudantes, mais de 300 profissionais da saúde, mais de 100 jornalistas. Se vocês perguntarem aos operadores da carnificina, eles vão falar em Deus, em Auto-Defesa, em Civilização Ocidental, mas na prática são apenas praticantes do assassinato em massa com justificações e racionalizações obscenas. Os crimes contra o povo palestino são crimes contra a humanidade; o fracasso em parar esta matança é um fracasso da humanidade inteira.
Para além da matança trazida pelas bombas, o Estado sionista de Israel dá vazão a seu racismo, seu supremacismo e seu fanatismo religioso também através de uma crueldade deliberada que não visa produzir a morte instantânea mas a morte lenta. Eles produzem a fome, a sede, a falta de defesa contra o frio, a falta de moradia, a falta de hospitais e ambulâncias, a falta de refúgios seguros. Israel ordena deslocamentos massivos de população para “lugares seguros” mais ao Sul, e depois bombardeia impiedosamente os tais dos lugares seguros. A crueldade não tem limites.
Querem tornar Gaza inabitável, invivível, terra devastada incapaz de sustentar o florescimento da vida humana. Isto não é uma guerra, é um massacre contra toda uma sociedade. Para além de produzir cadáveres em escala industrial em sua campanha de punição coletiva contra Gaza e a Cisjordânia, os militares de Israel também produzem muitos feridos, mutilados, amputados – eles já são mais de 50.000 pessoas.
Nora Erakat informa que 9,000 crianças na Palestina tieram que ter 1 ou mais membros amputados, e mais de 1000 crianças tiveram que passar por amputação sem anestesia.
A ideologia tóxica e doentia do sionismo chama isto de “auto-defesa”. A gente chama de crueldade em escala massiva. A gente chama de limpeza étnica absolutamente criminosa. A gente chama de genocídio.
Publicado em: 25/12/23
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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