“Isso é tão Black Mirror!” é uma frase viral na conjuntura do novo normal. Em O Dilema das Redes, docudrama da Netflix dirigido por Jeff Orlowski, o ser humano contemporâneo que vive nas grandes cidades na era da hiperconexão é descrito como um junkie digital. Algumas horas distante do celular e o sujeito começa a entrar em estado de abstinência histérica como um cocainômano sem acesso ao pó.
Se a conexão à internet cai, em menos de 2 horas os sujeitos estão dominados por um vazio existencial tão profundo que nenhum poeta do ennui como Baudelaire ousou imaginar. A tese principal do filme é que o vício às bugigangas tecnológicas hoje onipresentes não é acidental: a adicção foi projetada e seu feitiço está funcionando.
“Os inúmeros efeitos nefastos das redes sociais não são novidade. Quem não brigou com um pré-adolescente hipnotizado pelo YouTube que deixou toda a lição de casa por fazer? Ou explicou pela enésima vez que não, não estão enterrando caixões cheios de pedra porque a Covid-19 é uma farsa? Ou, ainda, rompeu relações com um amigo de infância que se tornou um extremista político? (…) ‘Mídia social é uma droga. Nós temos uma necessidade biológica básica de nos conectar a outras pessoas. Isso afeta diretamente a liberação de dopamina como recompensa’, diz Anna Lembke, diretora na escola de medicina na Universidade Stanford.” (Patrícia Campos Melo na Folha de S. Paulo)
Com entrevistas coletadas junto a grandes figurões da Big Tech, funcionários de alto escalão das gigantes do Vale do Silício, o filme põe em questão o mundo dominado por Facebook, Google, Uber e outras empresas que hoje fazem explodir com zeros à direita as contas bancárias de seus fundadores e CEOs. Estamos fissurados nos gadgets fabricados pelas megacorporações transnacionais que hoje devoram tão vorazmente o nosso tempo. Não é incomum que alguém confesse, hoje em dia, que passa 6 horas (ou mais) dentro de um aplicativo como o Instagram ou o Whatsapp.
Longe de ser uma distração inócua, este mergulho intensivo em uma comunicação mediada pela Internet e pela informática vem produzindo mutações sócio-políticas radicais que também incidem sobre as subjetividades. Através de nossa ação compulsiva nas mídias sociais, fornecemos meios sem precedentes históricos para o advento de um capitalismo de vigilância cuja prefiguração visionária devemos ao gênio literário de Zamiátin, Huxley e Orwell. Não foi necessário impor à comunidade que todos vivessem em casas de vidro (como em Nós de Zamiátin) ou que tivessem todos na sala-de-estar a teletela através do qual nos espia o Partido Único chefiado pelo Grande Irmão (como em 1984).
Agora somos os voluntários servidores daqueles que nos vigiam, mensuram e monitoram. Nossas pegadas digitais são mais memoráveis que as pegadas que deixamos na areia ao andar em uma praia: computadores guardam os dados de nossa navegação de um modo que nos provoca a dizer que o “surfista” da internet tem seus movimentos muito mais gravados do que um surfistas das marés concretas (este que, se não estiver sendo filmado nem fotografado, terá suas proezas no surfe totalmente esquecidas e submersas no esquecimento).
O Dilema das Redes revela para um amplo público os mecanismos utilizados pela Big Tech para colher a Big Data – para manter extensos logs sobre os internautas que somos surfando na infoesfera digitalizada. Este imenso e caudaloso oceano de dados tornou-se uma das mercadorias mais valiosas do capitalismo contemporâneo – também conhecido como cassino capitalism, pois muitas de suas lógicas internas e estruturais são fruto de um design que não difere muito das slot machines de Las Vegas.
O mais interessante em O Dilema nas Redes está no mergulho que intenta nas tendências psíquicas que estão sendo exploradas neste novo mundo hi-tech. Tudo indica que os bilionários do ramo, como Zuckerberg e Bezos, desejam que o Facebook e a Amazon se tornem serviços indispensáveis, que seja virtualmente inimaginável um mundo sem eles. Para isto, investem pesado na construção de um mundo onde o Narciso digitalizado é rei: individualista ao extremo, louco por curtidas em suas selfies, o Narciso on-line hoje encontra vários lagos nos quais pode se afogar por excesso de narcose consigo e com as migalhas da fama nas bolhas.
A exploração das tendências psíquicas humanas basilares – o desejo de ser ouvido, de ser foco de atenção, de ter sua auto-estima recebendo um boost a partir de reações alheias etc. – vem gerando um ambiente de alta toxicidade narcísica. Estamos vendo uma nova geração que, desde a puberdade, coloca sua auto-estima na dependência direta dos likes e curtidas que recebe em seus posts. Uma diminuição nos likes, ou o fracasso em ser famoso nas redes, pode aumentar as tendências à auto-mutilação ou ao suicídio em sujeitos que não concebem alicerce para a auto-estima que não seja perpassado por um reconhecimento por seus pares na rede.
Hoje somos todos ratos de laboratório de um mega-projeto destinado a nos transformar em consumidores hiperconectados que enxergam os apetrechos tecnológicos e as novas tecnologias comunicacionais como o supra-sumo do imprescindível. Não se trata aqui de fazer uma pregação saudosista em prol dos encantos da presencialidade – ainda que vivamos em tempos que, devido ao confinamento imposto pela pandemia de covid19, sentimos saudade de um mundo onde os abraços eram possíveis e onde beijar na balada ou transar com um semi-desconhecido era menos perigoso do que hoje.
As relações presenciais e as relações remotas (mediadas pela tecnologia comunicacional que nos permite intercâmbios audiovisuais à distância) estão em rápida mutação, mas o hardware do ser humano, inclusive seu sistema operacional psíquico, ainda está baseado num tosquérrimos gregarismo – como dizia Nietzsche, ainda vivemos sob a hegemonia do “animal de rebanho” e é difícil encontrar alguém que tenha aprendido a se utilizar de sua solidão e do seu silêncio como oportunidades de criatividade e de reflexão aprofundada sobre si, sobre os outros, sobre o cosmos. Estar sozinho, incomunicável, desconectado, aparece a muitos hoje como uma descrição do inferno. Donde este gregarismo tagarela, estes sujeitos ansiosos por estar postando sempre, curtindo e compartilhando sempre, sem nunca pisar no freio…
O lançamento deste filme serve como ocasião oportuna para que muitos de nós também realizem um processo de auto-crítica e de auto-transformação – não necessariamente para deletar todas as redes sociais e fugir para um eremitério na montanha (como algum entusiasta demasiado radical de Jaron Lanier poderia fazer), mas para repensar a quantidade de tempo que estamos gastando diante de telas, somente rolando feeds e sendo conduzidos por um labirinto informacional por um piloto chamado Inteligência Artificial guiada por algoritmos.
O Dilema das Redes inclui várias cenas dramáticas que revelam as entranhas de uma família hi-tech nesta nova era: sem os celulares na mesa de jantar, a família parece que não tem papo. A mãe, querendo agir contra o vício dos filhos, tranca os celulares num pote de cookies que possui um cadeado com timer. A adolescente da família, não suportando mais que 5 minutos de abstinência, quebra o pote para reaver sua droga de predileção…
Neste laboratório, os ratinhos estão rodando como Sísifos monitorados em rodas que os forçam a gastar energia sem sair do lugar na busca incessante por uma popularidade que se mostrará tão fugaz quanto fake… Você pode até ter conquistado 50.000 curtidas com sua foto de biquini e sorriso falso, bebendo Vodka Absolut em Maresias, mas amanhã poderá estar em estado de depressão profunda caso sua nova foto não conquiste nem 50% das curtidas que obteve a anterior…
Esta galera que morre ao tentar tirar foto na beira do penhasco com um pau-de-selfie é só o pólo extremo de um fenômeno muito disseminado. Há mais modos de despencar no abismo do que sonha nossa vã filosofia.
Estamos adentrando um mundo onde começa a parecer inimaginável uma festa em que ninguém esteja olhando para a tela de seu celular ou um festival em que não haja centenas de telinhas produzindo fotos e selfies a serem postadas imediatamente para platéias de extrema fragmentação. É um mundo onde, no playground, as crianças que se balançam ou escorregam são vigiadas (mal e porcamente) por pais e cuidadores que olham mais para seus celus do que para os pequenos (estes, só merecem algumas olhadelas de esguelha…).
Outro elemento bastante preocupante desta equação é a extensão do domínio que estamos concedendo à Inteligência Artificial (A.I. em inglês). Toneladas de mega-computadores interconectados hoje são responsáveis por processar cataratas de informação gravada a partir de nosso surfe cibernético, produzindo algoritmos de personalização.
De fato, há um fator positivo aí: nosso uso da Internet cada vez mais se parece com uma interação com uma A.I. que nos conhece; de tanto me ver dar play em vídeos do The Clash, dos Dead Kennedys e do Rancid, o YouTube começou a “aprender” sobre o meu gosto musical a ponto de me enviar para vídeos de bandas que possam me interessar – o que, vez ou outra, permite descobertas interessantes, como fiz ao ser lançado a canções do The Ruts (que eu antes desconhecia). Adorei descobrir a música “Babylon’s Burning” e o álbum The Crack, e a isto agradeci ao Sr. Algoritmo, mas há algo de mais sombrio acontecendo na Babilônia Que Queima enquanto a A.I. trabalha em prol dos bolsos de bilionários do Vale do Silício…
Há um lado mais sombrio do império do algoritmo – ele não é apenas aquela amigão feito de A.I. que dá uns toques de outras músicas ou vídeos que podem nos interessar, dando estas sugestões baseado em nossas escolhas pregressas na rede.
O A.I. nos mecanismos de busca hoje faz com que os resultados conseguidos por usuários diferentes do Google sejam radicalmente discrepantes. Um Sicrano que digite “aquecimento global”, sendo um ativista contra os combustíveis fósseis e um pesquisador de temas ecológicos, receberá resultados bem diferentes de um outro Fulano que consome vorazmente conteúdo negacionista (afirmações sobre a inexistência do Efeito Estufa) e que provavelmente será guiado pelo Google para alguma página cheia de teorias conspiratórias que afirmar ser o superaquecimento planetário uma fake news esquerdista destinada a alavancar a China rumo à hegemonia sobre os escombros do império anglo-saxão…
Outro grave elemento deste labirinto atual são as fake news. Já existe muitos indícios de que a mentira se propaga mais que a verdade na internet. Conteúdos falsos, que apelam para os afetos mais irracionais dos usuários, que usam o sensacionalismo barato para engajar, conquistam um grau de viralização que não chega nem aos pés, por exemplo, de uma grande reportagem feita com esmero por um time de competentes jornalistas investigativos.
Um Bolsonarista estúpido relinchando algo sobre Haddad ser o pai do kit gay e Manu ser favorável ao infanticídio e à pedofilia pode conquistar mais buzz nos feeds do que uma reportagem de Andréa Dip na Agência Pública denunciando a ascensão do projeto de poder teocrático da bancada evangélica brasileira….
Bombardeado por rumores, fofocas, gossip, amplificados pelas bolhas internéticas, hoje vivemos em plena desordem informacional. Verdades científicas sobre a crise ecológica planetária tem baixíssimos índices de engajamento, enquanto discursos de ódio e intolerância conquistam muito suce$o.
O triste nisso tudo é a formação de uma nova “manada dos normais”, imbecilizados por tanta manipulação, crédulos em pseudo-mitos, que desprezam os labores de filósofos e cientistas com um argumento tão horroroso quanto este: “foda-se o que diz a Ciência ou a Filosofia, recebi do meu tio no Zap um meme que prova…”
Outro elemento crucial no debate sobre fake news e falsificação da História são as famosas “Bolhas”, criadas por algoritmos e filtros invisíveis, que nos prendem nas ilhas muradas de nossas próprias seitas (sem que, muitas vezes, tenhamos plena consciência disso). Eli Pariser ensina:
“Com o Google personalizado para todos, a consulta ‘CÉLULAS TRONCO’ pode trazer resultados totalmente opostos para cientistas que apoiam pesquisas com células-tronco e ativistas que se opõem a elas. ‘PROVAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS’ podem trazer resultados diferentes para um ativista ambiental e um executivo de petroleira.
Segundo pesquisas, a grande maioria das pessoas acredita que os mecanismos de busca são imparciais. Mas isso pode ser apenas porque eles estão cada vez mais inclinados a mostrar nossa própria visão. O monitor do computador é, cada vez mais, uma espécie de espelho unidirecional, refletindo seus próprios interesses, enquanto os algoritmos observam no que você clica.
Se os algoritmos vão ser os curadores do mundo, se decidirão o que vamos ver e o que não vamos, então precisamos nos certificar de que eles não sejam determinados apenas pela relevância, mas que também nos mostrem coisas desconfortáveis, desafiadoras ou importantes, outros pontos de vista.” ELI PARISER – “O Filtro Invisível” (Zahar). Citado por KAKUTANI, “A Morte da Verdade”, Intrínseca, p. 144-145.
Tenho algumas críticas ao filme, no entanto, que não quero silenciar: em nenhum momento os seres humanos são descritos por O Dilema das Redes como algo diferente de ratinhos manipuláveis pela Big Tech, de modo que o filme passa em silêncio sobre todos os fenômenos de transformação social e ativismo político radical que se utilizam das ferramentas atuais como meios para outros fins que não são o consumismo ou o exibicionismo narcísico.
Vários sociólogos e midialogistas eminentes, a exemplo de Manuel Castells, investigam hoje as redes de indignação e esperança sem as quais não são compreensíveis plenamente fenômenos como a Primavera Árabe, o Junho de 2013 no Brasil ou o Occupy Wall Street nos EUA.
A crítica do Cinegnose frisa que o filme “não consegue enxergar o principal dilema que tem a ver com própria natureza do Capitalismo: bens de interesse público (comunicação, conhecimento, informação) apropriados como produtos de interesse privado – o lucro”. De fato, O Dilema das Redes não diz nada sobre o escândalo da Cambridge Analytica, não fala das ações de Bannon em prol da eleição de Trump e Bolsonaro, não ousa falar mais sobre a manipulação eleitoral através de disparos em massa pagos com caixa 2.
O filme até reserva um breve momento à “vitória” eleitoral de Bolsonaro, mas não acha que vale a pena mencionar a gigantesca dimensão da fraude envolvida em tal vitória de Pirro. Seu Jair não apenas cometeu crimes eleitorais em série em sua campanha repleta de mentiras financiadas por empresários, ao arrepio do Supremo Tribunal Federal (este infelizmente acorvadado diante das ameaças fascistas). A chapa militarista de Bozo e Mourão também só venceu devido ao lawfare que excluiu das urnas a figura de Lula da Silva, que venceria as eleições caso um golpe jurídico-midiático não tivesse sido mobilizado para inviabilizá-lo nas eleições, na sinistra sequência do golpeachment desferido contra Dilma Rousseff em 2016. A Netflix perdeu a ocasião de “iluminar” o mundo sobre o tenebroso golpe em 2 tempos que permitiu a ascensão hi-tech do neofascismo genocida de Bolsonaro e seus sinistros ministros.
Outra crítica relevante foi veiculada por Mariana Serafini em Carta Maior, em que a autora mergulha em outro tema recalcado e omitido por O Dilema das Redes meio à polêmica perseguição judicial contra Julian Assange do Wikileaks:
“O lema dos cypherpunks é bastante razoável: “privacidade para o cidadão, transparência para os poderosos”. Porém, mexer com esse sistema é colocar o dedo direto na ferida de um dos negócios mais lucrativos do mundo contemporâneo e, ao mesmo tempo, mais nocivos para o futuro da humanidade.
É por isso que um dos expoentes, Julian Assange, está preso e com a cabeça a prêmio. Se for condenado, pode ser extraditado para os Estados Unidos e morto. E tudo que ele defendeu foi uma solução para o que Orlowski apresenta como um dilema irresolúvel.”
Há também um certo grau de autonomia nas atitudes dos internautas que o filme recalca e não menciona. Não somos todos manipuláveis e condicionados, desprovidos de qualquer senso crítico e de capacidade contra-culturais e contra-hegemônicas, como às vezes fica parecendo que o filme quer fazer crer que seríamos. Há a possibilidade de um coletivo, de tendências anarquistas ou ecosocialistas, realizar, com o auxílio das redes, campanha de conscientização e de ação direta com o objetivo de instigar a adesão a um boicote generalizado contra grandes indústrias de combustíveis fósseis ou da pecuária industrial.
Há a possibilidade dos movimentos de ativismo anti-opressão, vinculados ao feminismo, ao anti-racismo, às pautas LGBTQ+, utilizarem deste potencial comunicacional inédito para gerar redes de solidariedade, de escuta, de auxílio mútuo, de denúncia de abusos perpetrados pelo aparato policial-carcerário do Estado etc.
Para terminar, gostaria de gritar a todos que a Netflix, que produziu este documentário tão problematizante, não teve a coragem de problematizar a si mesma. O serviço de stream nada diz sobre seu próprio papel no mundo de hoje e suas próprias intenções. No fundo, o filme termina sem jamais incentivar os usuários-cidadãos a conceberem a Internet como um espaço que é co-criado por nós.
Uma das mais interessantes maneiras de encarar a WWW é como um mega-organismo coletivo que aceita as colaborações e as novas inclusões de seus usuários. O grande barato de ter blog – uma prática que tenho há mais de 20 anos – é sentir que você pode enriquecer a blogosfera com um hipertexto que não existia nela antes. Você pode acrescer a rede com um conteúdo inédito, com uma singularidade que antes estava excluída do acesso comum.
Temos que parar de choramingar sobre sermos vítimas da Internet como ela é, numa espécie de mimimi de manipulados que não ousam assumir sua própria autonomia, para assumir plenamente nossa posição enquanto cidadãos-em-conexão que tem responsabilidades e deveres perante um produto co-criado por nós.
Criar conteúdo relevante, disseminar bons debates, amplificar o jornalismo investigativo competente, trocar dicas de boa arte, ampliar os horizontes éticos e estéticos uns dos outros através de nossas publicações, é um modo de não ser o rato de laboratório das mega-corporações e de ir maturando um plano coletivo que se torna urgente: expropriar os expropriadores e colocar esta tecnologia a serviço da radicalização da participação social democrática.
Não precisamos ser os títeres controlados por Master of Puppets que desejam roubar nossa carteira e devorar nosso tempo. Podemos reclamar a Internet de volta, take the power back, o que exigirá um aprendizado com a ética hacker, com experimentos de software livre, com a expressividade de bloggers e de videomakers e de poetas e de músicos que constroem uma rede dentro da rede, uma rede onde a autenticidade de expressão soma-se ao desejo de comunicação numa grande caixa de ressonância daquilo que merece ecoar.
Eduardo Carli de Moraes
Goiânia, 21/09/2020
www.acasadevidro.com:
“Essas montanhas de lucro acumulados por estas empresas (Google, Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, Tik Tok, Pinterest, LinkedIn, etc.) não são gerados por elas. Aqui a categoria da crítica da economia política central é a de valor. Qualquer um que queira entender nosso mundo sem a categoria de valor se assemelha a um navegador que se aventurou em mares tenebrosos desprovido de um bússola.
Por mais sofisticados que sejam os empreendimentos, por mais que os seus protagonistas, jovens que acumularam fortunas em tenra idade que somados todos nós juntos não acumularíamos no espaço de uma vida (notem um certo ressentimento de um funcionário público prestes a se aposentar), se mostrem espantados e desconcertados eticamente, as empresas citadas são uma manifestação moderna e inovadora de uma empresa publicitária – mas precisamente, uma empresa utilizada por empresas publicitárias para veicular anúncios…
A verdadeira dimensão ética do processo, um pouco distinta da crise de consciência de empresários nerds, é que o capitalismo subordinou toda a humanidade e o planeta ao processo de valorização e para mantê-lo está disposto a manipular comportamentos e hábitos, explorar brutalmente populações inteiras, principalmente crianças e mulheres, dilapidar os recursos naturais colocando em risco o planeta e a vida humana, impondo milhares de quinquilharias que satisfazem duvidosamente certas necessidades em grande parte criadas, além de continuar derrubando governos e fraudando eleições. O dilema particular das redes é apenas, neste cenário maior, um coadjuvante importante, mas está longe de ser o personagem principal da trama.” LEIA O ARTIGO COMPLETO DE MAURO IASI EM BOITEMPO
Publicado em: 21/09/20
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
“O grande barato de ter blog – uma prática que tenho há mais de 20 anos – é sentir que você pode enriquecer a blogosfera com um hipertexto que não existia nela antes.”
Eu tenho um blog há mais de 8 anos, e sempre estive falando com as paredes. Ninguém acompanha, raramente alguém comenta, raramente alguém manda um email e nunca é sobre o conteúdo do blog. Não tem “grande barato” nisso: não estou enriquecendo blogosfera nenhuma, até porquê não acredito que exista uma blogosfera, isto é, um ecossistema de blogs relacionados. Comigo sempre foi o “bloco do eu sozinho”…
O que eu estou fazendo de errado? Como posso começar a acertar?
“Você pode acrescer a rede com um conteúdo inédito, com uma singularidade que antes estava excluída do acesso comum. ”
Eu escrevia conteúdo inédito há vários anos, mas me dei conta de que não há nada de valor que eu possa dizer que outra pessoa já não tenha dito antes em algum lugar. Daí deletei quase tudo que havia de original e optei por selecionar conteúdo interessante e traduzi-lo. Mas aí, depois de uns anos, me dei conta de que o que os outros blogueiros diziam sempre parecia mais opinião do que fato, e que poderia ser falseado de uma maneira ou de outra, e que o esforço de tradução não valia a pena, já que ninguém lia mesmo. Daí deletei tudo que eu traduzi, e comecei a usar meu blog só pra mim mesmo, como uma forma de guardar uma seleção de textos que eu posso precisar pra usar como referência depois. Se mais alguém ler ou não, pra mim tanto faz.
O que eu estou fazendo de errado? Como posso começar a acertar?
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia
Anders
Comentou em 13/01/21