Pintura em destaque: do artista boliviano Miguel Alandia Pantoja (Potosí, 1914 – Lima, 1975), “A Educação” (1960, Monumento a la Revolución Nacional, La Paz, Bolivia)
O vírus SARS-CoV-2 ou Covid-19, agora declarado uma pandemia global pela Organização Mundial da Saúde, começou a causar estragos em muitas partes do mundo, enquanto outras seguem em alerta. Estamos em uma guerra real que exige mobilizar todos os esforços e, acima de tudo, colocar a vida e não os lucros em primeiro lugar. Só venceremos esta guerra – como a China já fez – se tivermos unidade e disciplina popular, se os governos ganharem nosso respeito por suas ações e se agirmos em solidariedade em todo o mundo.
A dívida global é de US$ 250 trilhões, parte dela corresponde a uma dívida corporativa enorme. Por outro lado, existem trilhões de dólares aplicados de forma especulativa nas bolsas de valores e paraísos fiscais. Na medida em que a atividade econômica seja reduzida, as empresas farão fila para serem resgatadas. Este não é o melhor uso dos valiosos recursos da humanidade neste momento. No meio disso, manter os mercados financeiros abertos é um fracasso da imaginação. A queda no valor das bolsas de valores, de Hang Seng a Wall Street, é simplesmente uma maneira de intensificar a ansiedade da sociedade global, uma vez que a saúde da bolsa de valores sempre foi vista, erroneamente, como um indicador de saúde econômica em geral.
Estão em marcha quarentenas e suspensões de atividades a longo prazo em boa parte do mundo, tanto na Europa e na América do Norte, como também cada vez mais na África, Ásia e América Latina. A atividade econômica já começou a parar. Não é possível fazer estimativas de perdas líquidas, e mesmo as principais instituições internacionais estão ajustando suas estimativas diariamente. Um estudo da UNCTAD de 4 de março, por exemplo, antecipou que a desaceleração do setor na China perturbaria a cadeia de suprimentos global e diminuiria as exportações em US$ 50 bilhões. Esta é apenas uma parte das perdas de um total que, no momento, é incalculável.
O FMI prometeu usar US $ 1 trilhão para ajudar os países a evitar desastres econômicos. Cerca de vinte países já solicitaram assistência ao Fundo. O Irã, que ficou longe do FMI nas últimas três décadas, agora pediu sua ajuda. Seria uma valorosa mudança na política da instituição, sem precedentes na história, se não fosse pela vergonhosa negação em ajudar o povo venezuelano com o pretexto de não reconhecer o governo. O FMI não deve exigir ajustes ou condições para fornecer esses empréstimos. A recusa de um empréstimo à Venezuela é um sinal de um grande fracasso político do FMI.
A solidariedade internacional da China e de Cuba é exemplar. Médicos chineses e cubanos estão no Irã, na Itália e na Venezuela e ofereceram seus serviços e experiências em todo o mundo. Eles desenvolveram medicamentos e tratamentos médicos que reduzem a taxa de mortalidade de pessoas afetadas pelo Covid-19 e querem distribuí-los aos povos do mundo sem patentes ou lucros. O exemplo dos chineses e cubanos neste período deve ser levado a sério; graças a este exemplo, em meio a esta pandemia do coronavírus é mais imaginar o socialismo do que viver sob o cruel regime do capitalismo.
Os países europeus, atual foco da pandemia, veem seus enfraquecidos sistemas de saúde entrarem em colapso após décadas de subfinanciamento e austeridade neoliberal. Os governos europeus, assim como o Banco Central Europeu e a União Europeia, concentram grande parte de seus recursos na tentativa de proteger o setor financeiro e empresarial de um desastre econômico que certamente acontecerá. A adoção de tímidas ações para tentar fortalecer as capacidades dos Estados diante da crise – renacionalizações pontuais, controle público temporário dos prestadores de serviços de saúde – ou medidas paliativas – como isenções limitadas do pagamento de aluguéis e hipotecas domésticas – não representam um compromisso firme com as garantias básicas de trabalho e saúde para a classe trabalhadora que está mais exposta aos efeitos devastadores da pandemia: trabalhadores da saúde, mulheres encarregadas pelos cuidados, funcionários de empresas de distribuição de alimentos, serviços básicos, etc.
Isto é um repúdio parcial das receitas neoliberais que foram aplicadas em muitos países e dominaram o mundo nos últimos 50 anos. O FMI deve levar isso em conta, já que participou ativamente da espoliação de recursos na África, Ásia e América Latina e na criação de desertos institucionais em vários países. O fortalecimento dos Estados e a redistribuição da riqueza em nome da grande maioria é uma orientação que deve ser construída globalmente.
Os cientistas dizem que a batalha decisiva contra o vírus pode seguir pelos próximos 30 ou 40 dias. É por isso que é essencial que cada país e cada governo tome medidas para evitar a morte de milhares de pessoas.
Os movimentos populares, sindicatos e partidos que compõem a Assembleia Internacional dos Povos colocam-se à disposição para formular e debater um programa de mudança estrutural que nos permita vencer esta luta e reconfigurar o mundo:
Para adicionar a sua assinatura ou a da sua organização a esta declaração, envie e-mail para secretaria@asambleadelospueblos.org até o dia 26 de março de 2020.
Publicado em: 25/03/20
De autoria: casadevidro247
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