A filosofia, conforme entendo a palavra, é algo intermediário entre a teologia e a ciência. Como a teologia, consiste de especulação sobre assuntos a que o conhecimento exato não conseguiu até agora chegar, mas, como a ciência, apela mais à razão humana do que à autoridade, seja esta a da tradição ou a da revelação. Todo conhecimento definido – eu o afirmaria – pertence à ciência; e todo dogma quanto ao que ultrapassa o conhecimento definido pertence à teologia. Mas entre a teologia e a ciência existe uma Terra de Ninguém, exposta aos ataques de ambos os campos: esta Terra de Ninguém é a filosofia. (…) A ciência diz-nos o que podemos saber, mas o que podemos saber é muito pouco e, se esquecemos quanto nos é impossível saber, tornamo-nos insensíveis a muitas coisas sumamente importantes. A teologia, por outro lado, nos induz à crença dogmática de que temos conhecimento de coisas que, na realidade, ignoramos, e, por isso, gera uma espécie de insolência impertinente com respeito ao universo. A incerteza, na presença de grandes esperanças e de grandes receios, é dolorosa, mas temos de suportá-la.
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Bertrand Russell
História da Filosofia Ocidental. São Paulo: Nacional, 1977. Trad. Breno Silveira.
Publicado em: 05/03/12
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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